O aumento da aposentadoria e o voto do aposentado
Por Bernardo Joffily
Os analistas políticos da grande imprensa, que se retorcem em tentativas de explicação da pesquisa Datafolha deste domingo (9), ganhariam em ler os cadernos econômicos dos
Publicado 10/04/2006 20:02
A medida foi anunciada na quinta-feira passada (6), enquanto as entrevistas do Datafolha foram coletadas na quinta e na sexta. Foi um aumento modesto, de 5%; descontada a inflação do período, dá 1,5% de majoração real. O próprio Lula admitiu que “é pouco”.
O que disse Lula
"É verdade que 1,5% de aumento real é pouco. Mas é verdade também que nós já fizemos tantas greves e não conseguimos nem 1,5%, voltamos a trabalhar de mão abanando. Em 2003, o primeiro reajuste dos aposentados foi de 20%, então parece muito. Mas foi uma merrequinha de nada, não teve nada acima da inflação. Agora não, agora tem 1,5% acima da inflação. Quisera Deus que todos os trabalhadores do mundo tivessem 1% acima da inflação. Significa que em 10, 15 ou 20 anos eles praticamente poderiam dizer que dobrariam seu poder aquisitivo", disse Lula.
Este primeiro aumento real em dez anos atingiu 8,2 milhões de aposentados que ganham acima do salário mínimo. Já a maior parte do segurados (15,7 milhões de aposentados e pensionistas), que ganha o mínimo, teve ganho real de 13% — com a elevação do mínimo de R$300 para R$350.
O presidente também anunciou a antecipação do pagamento de 50% do décimo-terceiro salário de todos os 24 milhões de aposentados e pensionistas do INSS para setembro. Até o ano passado, o 13º era pago integralmente em dezembro.
O que dizem os sindicalistas
O pacote para os aposentados custará R$1 bilhão aos cofres da Previdência Social. Defendido pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, teve que vencer a resistência da equipe econômica mais tarde afastada com a queda de Antonio Palocci. Foi negociado também com as centrais de trabalhadores, e ganhou o aplauso inclusive da Força Sindical, muitas vezes alinhada com a oposição conservadora.
O representante do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos, vinculado à Força Sindical, João Batista Inocentini, considerou o aumento "satisfatório", já que, junto com ele, foram anunciadas outras medidas que também vão beneficiar a categoria.
"O dia de hoje é muito importante para nós, pois há anos não tínhamos um aumento real do valor de nosso benefício. Para nós, é um grande passo", disse. Inocentini elogiou também o espaço aberto pelo governo para tratar dos problemas dos aposentados. "Nunca, na história do país, tivermos tanto espaço para discutir nossas questões", afirmou.
Reflexos nas intenções de voto
Dias depois o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, apareceu no programa do PDT em horário gratuito, atacando o governo Lula. É um direito. Mas cabe perguntar se os aposentados concordaram com o discurso de Paulinho ou com o de Inocentini.
Os dados da pesquisa Datafolha, sobretudo quando segmentados por faixa de renda, dão uma pista para a resposta. Na faixa de renda mais alta, acima de dez salários mínimos, é o candidato tucano que aparece na frente, com 41% das intenções de voto, enquanto Lula tem 25%. Mas na camada que ganha até cinco salários mínimos (e é quatro vezes mais numerosa), o quadro se inverte: Lula tem 43% e Alckmin 18%.
“Medida eleitoreira, em ritmo de campanha, a seis meses das eleições”, reclamaram os economistas “do mercado”. Para eles, o aumento real violou um tabu. Já para os aposentados, será um desafogo: modesto, mas perceptível no final do mês.
Com agências