Especialista explica “quem é o culpado” pela crise da Varig

"A Varig não se preparou para o aumento da competição, com a entrada de novas empresas mais eficientes, e por muito tempo foi gerida pela Fundação Rubem Berta, que não tomou ações para adequar a

Com dívidas de mais de R$ 7 bilhões, a Varig, que no ano que vem completaria 90 anos e que já foi um gigante da aviação brasileira, é hoje a terceira empresa em vôos domésticos, continua a definhar e agora se depara com bloqueio de bens.

A crise deixa passageiros e funcionários cada vez mais inseguros – principalmente porque não é a primeira do ramo a se ver diante da ameaça de quebrar: a Transbrasil fechou as portas em 2001 e a Vasp, no ano passado. "A Varig não se preparou para o aumento da competição, com a entrada de novas empresas mais eficientes, e por muito tempo foi gerida pela Fundação Rubem Berta, que não tomou ações para adequar a empresa a esse novo cenário de competição. Foi uma confluência de fatores", analisa o especialista em aviação Sérgio Lazzarini.

"Gerenciada por uma fundação, praticamente não havia incentivo, por parte dos próprios controladores, para tomar medidas que pudessem melhorar a situação da empresa. Ao contrário: como era controlada por funcionários, não podia haver interesse em adequação do quadro, a entender, demissões, por exemplo", explica o professor, que descarta a ajuda do governo para novo fôlego da empresa.

"O governo não pode fazer nada. Pela nova lei de falências, a Varig está em processo de recuperação, tem que honrar seus compromissos a curto prazo e se mostrar competitiva para ir solucionando a dívida. Um plano foi aprovado pelos credores, mas a empresa não cumpriu. O que tem que acontecer é a falência. Qualquer sinal do governo para ajudar é ruim, vai atrapalhar, atrasar ainda mais o processo."

A única forma de ajuda do governo seria permitir o prolongamento da dívida da Varig juntos às estatais. "Mas isso seria bastante complicado", diz o professor, "porque sinaliza falta de responsabilidade administrativa das estatais, o que complica para o próprio governo. A Shell, por exemplo, não deixa a Varig atrasar, mas a BR sim", exemplifica.

Em 2005, o mercado de aviação cresceu, em tráfego, cerca de 20%. E apesar de tida como flag carrier, empresa de bandeira de país, se a falência da Varig for decretada, as outras empresas do setor absorverão o fluxo.

"No mercado doméstico, TAM, Gol, BRA e Ocean Air farão isso facilmente. Ao que parece, a Agência Nacional de Aviação Civil já tem um plano de contingência. A Ocean Air quase fez acordo com a Varig para assumir determinadas rotas, mas elas são concessão pública e não podem ser repassadas para uma empresa específica. O melhor até seria já ter delineado algum mecanismo para leilão das concessões das rotas, como é feito internacionalmente. É um mecanismo transparente – ajuda a capitalizar o Tesouro -, o que não se cogitou", diz Lazzarini.

"O problema com a saída da Varig é, proporcionalmente, termos mais empresas estrangeiras oferecendo rotas internacionais. A menos que algumas empresas nacionais se interessem por algumas das rotas deixadas pela Varig, o que até me parece mais o caso da TAM", explica o professor, se realmente decretada a falência.

Ainda seguindo esse pensamento, quem tem passagens internacionais já compradas deve tentar negociar a troca com as empresas que fazem parte, junto com a Varig, do grupo Star Alliance. "Tudo vai depender da negociação com as estatais e o imbróglio associado aos credores. Tem um alargamento da moratória da dívida que é de três meses, mas acho que ela não consegue sobreviver."

Do ponto de vista econômico, veremos consumidores prejudicados querendo ser ressarcidos, sem falar nos custos trabalhistas com as pessoas que, fatalmente, serão demitidas. "Mas outras empresas assumindo as lojas da Varig vão precisar de contingente e mão de obra. Quando a Gol entrou no mercado, muita gente da Vasp acabou arrumando emprego lá", sinaliza Lazzarini.

A Varig ainda trava uma briga na Justiça contra o governo. Ela ganhou uma ação de indenização supostamente pelo congelamento de preços que ocorreu na década de 90, e deveria receber cerca de R$ 2,5 bilhões. Mas o governo recorreu da decisão. "Nem esse recurso ia ajudar perto da dívida que tem, superior a R$ 7 bilhões. Além do mais, se fosse assim, a Varig também abriria precedentes para várias outras empresas de vários outros setores, que pediriam a mesma coisa porque também sofreram com os planos heterodoxos do passado."

Fonte: UOl News