Advogada iraniana repudia invasão de Teerã pelos EUA

A advogada iraniana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da Paz em 2003, disse hoje em berlim que não quer ver nenhum soldado americano pisar o solo de seu país.  Ela foi a primeira juíza de seu país, em 1976. Apesar das dificuldades que esta ativ

A advogada iraniana e Prêmio Nobel da Paz em 2003, Shirin Ebadi, alertou nesta quarta-feira em Berlim que "apesar das críticas que se possa fazer ao governo iraniano, nem um só soldado americano deve pôr os pés em solo iraniano".

Ebadi, de 59 anos, opôs-se abertamente a um ataque dos Estados Unidos contra o Irã, caso Teerã não cumpra as ameaças do Conselho de Segurança da ONU de deter seu programa de enriquecimento de urânio.

A advogada iraniana afirmou que ela não pode saber se é verdade ou não, como diz o governo iraniano, que Teerã só busca o uso pacífico da energia atômica.

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz lembrou que após a ilegal invasão americana do Iraque, o país se encontra "à beira de uma guerra civil e da divisão" e que milhares de civis morreram. Ela não quer que esse cenário se repita no Irã.

Ebadi pediu aos ocidentais que não apresentem um retrato "negro" do Irã porque "o mundo não é todo branco e preto, no meio há muitas cores".

Primeira muçulmana a ganhar o Nobel da Paz, Ebadi fez tais declarações por ocasião da apresentação em Berlim de sua autobiografia Meu Irã —  Uma vida entre a revolução e a esperança, publicada na Alemanha pela editora Pendo e que chegará às livrarias de 12 países no próximo dia 2.

Meu Irã… é, segundo a advogada iraniana, algo mais que uma autobiografia, abordando desde sua juventude em Teerã até o Prêmio Nobel da Paz. O livro também oferece "uma imagem geral do Irã" antes e depois da Revolução Islâmica.

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz, que na entrevista coletiva não usava o tradicional lenço com o qual as iranianas cobrem o cabelo, foi a primeira juíza de seu país, em 1976. No entanto, após a revolução islâmica, em 1979, todas as mulheres tiveram que abandonar o Judiciário.

"Perdi a judicatura, um trabalho que amava, após a Revolução Islâmica porque sou uma mulher", explicou Ebadi, que acredita que algum dia se alcançará a igualdade plena entre homens e mulheres não apenas no Irã, mas no mundo todo.

Sua fé no Islã é, segundo Ebadi, o que lhe deu força ao longo de sua vida para seguir adiante frente às adversidades.

Apesar das dificuldades que esta ativista dos direitos humanos enfrenta em algumas ocasiões para trabalhar em seu país, Ebadi se negou a abandonar Irã.

"Sou uma iraniana. Devo permanecer no Irã e espero morrer no Irã", disse a vencedora do Nobel da Paz.

Ebadi é uma representante do islamismo moderado, que defende uma nova interpretação da lei islâmica em harmonia com os direitos fundamentais, como a democracia, a igualdade perante a lei, a liberdade religiosa e a liberdade de expressão.

"Sou uma ativista dos direitos humanos e espero continuar sendo até o fim da minha vida", disse Ebadi, que assegurou que do ponto de vista privado o Prêmio Nobel da Paz não mudou sua vida, mas sim do ponto de vista profissional.

"Abriu muitas portas e muitos microfones internacionais, de modo que posso chegar a mais pessoas do que antes", explicou a advogada iraniana, que confessou que quando chega em casa desliga o telefone e passa a ser "apenas mãe e esposa".

Bush reafirma invasão

O governo dos Estados Unidos admitiu na terça-feira qualquer opção, incluindo a militar, para impedir os iranianos de prosseguirem o seu projeto de enriquecimento de urânio e de obtenção de energia nuclear. "Todas as opções estão sobre a mesa", voltou a afirmar  o líder do regime americano, George W. Bush, aos jornalistas, numa entrevista coletiva semanal de praxe em Washington, ao ser questionado sobre a possibilidade do recurso à força contra o Irã.

Os americanos pressionam as Nações Unidas a adotarem sanções contra o Irã, na tentativa de encerrar o programa nuclear em curso no país. O discurso propalado pelos EUA é de que a república islâmica quer construir armas atômicas. O Irã defende seu direito de criar um programa pacífico de geração de energia nuclear.

Os governos da Rússia e China se opõem a qualquer medida drástica, defendendo a negociação por meios diplomáticos da questão. O tema será debatido amanhã em reunião entre o presidente Hu Jintao e o presidente Bush, que deve receber na Casa Branca o presidente chinês. O chefe de Estado chinês realiza a primeira visita oficial aos EUA.

Com agências internacionais