Contra Alckmin, Unegro faz 'Manifesto de Olinda'

A Plenária Nacional da Unegro (União dos Negros pela Igualdade), realizada de 18 a 20 de abril, em Olinda (PE), deliberou o "Manifesto de Olinda". O documento alerta a militância sobre os riscos de uma vitória tucana nas e

MANIFESTO DE OLINDA

Há quase duas décadas a Unegro vem denunciando a existência de uma política deliberada de extermínio das populações negras e pobres como manifestação mais cruel do racismo, intensificado com a adoção do neoliberalismo.

O Estado mínimo, um dos dogmas do neoliberalismo, cede terreno ao poder das corporações e do capital transnacional. Dirigentes dessas instituições comportam-se como donos do mundo e metamorfoseiam sociedade e mercado, cidadãos e consumidores. Dizem que pregam a plena liberdade, mas a liberdade é de consumir e aqueles que estão fora desta possibilidade não têm nenhuma alternativa ou têm – a exclusão absoluta, seja ela radicalizada por ações de puro extermínio via guerra, ações genocidas, disseminação generalizada de doenças incuráveis ou da fome, vitimizando diretamente a população pobre e negra, em especial as mulheres negras, maiores vítimas dessa sociedade, seja ela suavizada ou “administrada” por projetos pontuais financiados pelo Banco Mundial –, as tais políticas compensatórias.

O Estado em tempos neoliberais perde a capacidade de gerenciar as incertezas próprias da época em que vivemos e se legitima como fonte de garantia de segurança dos privilegiados, cuja única incerteza é a ameaça dos seus interesses pelos excluídos. Por isto, se o Estado se comporta como “mínimo” no atendimento às demandas sociais, apresenta-se como máximo na repressão aos movimentos sociais, na contenção de qualquer ameaça que a imensa ordem de excluídos possa perpetrar às elites.

Por esta razão, a resistência global a este projeto em diversas nações latino-americanas se apresenta, em primeiro lugar, com uma postura soberana na geopolítica internacional, e no plano interno, em políticas de redistribuição de riquezas e redefinição do papel do Estado.

Os países africanos têm sido praticamente dizimados com esse projeto e se transformam em verdadeiras lixeiras humanas, com suas populações sendo dizimadas pela miséria, pelas guerras induzidas e financiadas pelas grandes potências e com o contínuo saque de suas riquezas. A construção de uma aliança entre países da América Latina, África e Ásia como forma de enfrentamento ao poder das grandes potências é a resistência possível em termos de geopolítica internacional. Em termos nacionais, a população negra só tem alternativa a partir da constituição de um modelo de Estado voltado para o atendimento das demandas sociais e para a correção das injustiças históricas a que foi submetida.

Neste contexto, assistimos aos embates presentes na postura de alguns governantes latino-americanos, como Venezuela, Argentina, Cuba, Bolívia e Brasil. No caso brasileiro, passaremos por eleições gerais e o governo Lula tem se esforçado em seguir uma política internacional autônoma e, no campo interno, em implementar medidas de combate à pobreza. No entanto, a opção de seguir a atual política econômica dificulta a realização de mudanças estruturais necessárias à superação do racismo e das desigualdades sociais.

O adversário principal de um projeto anti-neoliberal é Geraldo Alckmin, um eminente representante do capital financeiro e defensor da criminalização da juventude através da redução da maioridade penal. Sua experiência como governador do estado de São Paulo demonstra esta linha política. Praticamente terceirizou as ações sociais do estado transformando-as em instrumentos de repasse de verbas públicas para instituições privadas e intensificou os mecanismos de repressão, com o aumento da violência policial e falência da Febem.

A Unegro (União de Negros Pela Igualdade), resguardada sua autonomia como entidade suprapartidária do movimento negro aponta o grande perigo representado pela eleição de um candidato representante do projeto neoliberal capitaneado pela coligação PSDB/PFL. Significa o realinhamento do Brasil com as grandes potências e não mais com a África e América Latina, enfraquecendo esse bloco de resistência. Significa a retomada da privatização do Estado em benefício das grandes corporações e o redirecionamento deste para o atendimento das demandas privadas.

Como herdeiros de Zumbi e Dandara, acreditamos e lutamos por um mundo onde não haja exploradores e explorados, nem senhores e nem escravos. E isto se faz com rebeldia. 

Olinda, 19 de abril de 2006

Rebele-se contra o racismo

UNIÃO DE NEGROS PELA IGUALDADE