Reunião entre Lula, Chávez e Kircher faz avançar projeto energético

Brasil, Argentina e Venezuela tentarão transformar o Gasoduto do Sul na "locomotiva" da integração regional. Este foi o tema principal da reunião ocorrida hoje, em São Paulo, entre os presidentes dos três

Os presidentes do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, da Argentina, Nestor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, se reuniram nesta quarta-feira (26/4), no hotel Sofitel de São Paulo, para debater "aspectos da integração sul-americana".

Segundo anunciou o assessor especial do presidente Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, durante a cúpula foram "tratados temas de integração" entre eles, o projeto para a construção do Gasoduto do Sul que, em principio, unirá a Venezuela, Brasil e Argentina.

A cúpula tripartite acontece no meio de uma crise sem precedentes entre a Argentina e o Uruguai, sócios do Mercosul, por causa da construção de duas fábricas de celulose na costa oriental do rio Uruguai, fronteia dos dois países. O Brasil, pela primeira vez, anunciou na terça-feira que impulsionaria uma "solução bilateral do conflito", segundo disse Garcia.

Mas o presidente venezuelano disse que, ao contrário do que se esperava, a reunião de hoje não tratou deste assunto. "Entendemos que este é um assunto bilateral de dois países irmãos, e respeitamos isso", afirmou Chávez, que foi o único dos três presidentes a falar com a imprensa após a reunião.

"Somos os três mosqueteiros", disse Chávez

A jornalistas, quando estava entrando na sala para a reunião, o presidente venezuelano disse "somos três mosqueteiros", se referindo a ele, Lula e Kirchner. Chávez havia usado esta expressão "mosqueteiros" em novembro passado, durante a Cúpula das Américas realizada no Mar del Plata, Argentina.

Nesta oportunidade, o presidente venezuelano chamou de "mosqueteiros" os presidente do Mercosul, por sua oposição a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), que defendiam neste contexto os presidentes dos Estados Unidos, George W. Bush, e do México, Vicente Fox, entre outros.

Além do projeto do gasoduto do Sul, Chávez, Kirchner e Lula debateram no encontro a cooperação trilateral em matéria de industria militar, e em assuntos referentes as áreas social, energética e econômica.

Segundo informou o governo brasileiro através de um comunicado "sobre o gasoduto estão ocorrendo discussões sobre o seu trajeto, a oferta e a demanda de gás, o modelo regulador e o marco institucional".

Um milhão de empregos

Ainda segundo Chávez, a construção do Grande Gasoduto do Sul deve gerar um milhão de postos de trabalho.

Ainda não foi firmado o acordo para o gasoduto, mas Chávez disse estar confiante na aprovação. "Vamos ter o gasoduto", assegurou, ao lembrar que "a Venezuela possui 150 trilhões de metros cúbicos de reservas de petróleo comprovadas, o que corresponde a 5% do gás de todo o mundo e a 80% do gás da América do Sul".

O presidente da Venezuela ressaltou a importância da obra para a integração entre os países sul-americanos com vistas à independência e ao desenvolvimento: "A união é nosso único caminho". De acordo com Chávez, todas as nações da América do Sul serão convidadas oficialmente a integrar o projeto.

Um dos países-chave nessa proposta é a Bolívia, que já possui um gasoduto com o Brasil. "A Bolívia deve ser prioritária por causa de sua reserva, que é a segunda maior latino-americana. Terei uma reunião no sábado (29) para acertar essa questão com Evo Morales", afirmou Chávez.

A proposta inicial do gasoduto surgiu há quase sete anos, na Venezuela, e deverá ser apresentada internacionalmente antes de junho, segundo o embaixador da Venezuela no Brasil, Julio Garcya Montoya. A previsão é de que as obras comecem em 2009 e prossigam até 2017.

Da reunião da manhã de hoje participaram também os ministros de Relações Exteriores, Celso Amorim, e de Minas e Energia, Silas Rondeau.

Trajeto

O trajeto que o Grande Gasoduto Sul fará entre Venezuela-Brasil-Argentina não está definido e há algumas propostas em estudo. Uma das propostas é que os dutos saiam da Venezuela, passem por Manaus (AM) e Fortaleza (CE) e desçam pelo litoral brasileiro até a Argentina. Outra possibilidade é que, da Venezuela, o gasoduto passe por Manaus (AM), desça para Brasília (DF), São Paulo (SP) e, em seguida, chegue na Argentina. "Já começamos a fazer o reconhecimento aéreo das regiões por onde o gasoduto pode passar", contou Chávez.

A obra terá mais de 10 mil quilômetros de extensão e além dos investimentos governamentais, que já começaram, deve contar com recursos da iniciativa privada, segundo o presidente venezuelano.

Para tratar do assunto, estão previstas duas novas reuniões até o mês de agosto entre os presidentes do Brasil, Venezuela e Argentina, mas todos os países da América do Sul serão convidados oficialmente a integrar o projeto.

"Buscamos a reativação da cooperação entre os países do sul. É um projeto sem ideologia. É uma esperança para a população pobre", afirmou Chávez. Segundo ele, o gasoduto deve ser a locomotiva de um processo novo de integração, cujo objetivo seja derrotar a pobreza e a exclusão.

Para Chávez, o gasoduto é a melhor ferramenta da América do Sul para enfrentar uma crise energética mundial que se aproxima, segundo ele, e para a qual os países desenvolvidos já estão se preparando.

Da redação,
com informações das agências