Nacionalização divide oposição boliviana

A nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia vem divindo ainda mais os partidos da oposição, inclusive internamente. Muitos dirigentes oscilam entre tentar de todas formas depreciar a decisão do governo

O ex-presidente Jorge Quiroga, líder do Podemos e herdeiro político do ex-ditador Hugo Banzer, afirmou que o Decreto “Heróis do Chaco” não se compara com as nacionalizações radicais de 1936 e 1969 e que a medida é pouco clara e serve apenas a objetivos políticos, pondo em risco os investimentos no país. Entretanto, ele não chega a sustentar uma oposição frontal com o governo sobre a nacionalização, que está com um amplo e efervescente respaldo popular.

Vão na mesma linha, os principais parlamentares do partido, Fernando Messmer e Oscar Ortiz, que têm declarado que a nacionalização é apenas um “show midiático” com objetivos eleitoreiros. Justamente a opinião que tem recebido destaque aqui no Brasil na grande imprensa. Ainda faz coro com essa opinião, o milionário homem de negócios, Samuel Doria Medida, presidente da UN, para quem o decreto pôs a Bolívia na “quarentena internacional”.

Entretanto, o ataque ao decreto do governo Evo Morales não é consensual dentro dos partidos, onde legisladores têm manifestado respaldo à nacionalização. O conhecido ex-ministro e senador do Podemos, Tito Hoz de Vila, por exemplo, disse que apóia qualquer medida que beneficie a população e aplaudiu que se tenha dado fim à privatização petroleira, a qual diz ter se oposto durante uma década.

Outro reconhecido deputado do partido, Fernando Rodríguez, também se somou às comemorações pelo decreto que aconteceram por todo o país. Mesmo o chefe da bancada parlamentar da região rica e separatista de Santa Cruz, Antonio Franco, também do Podemos, apoiou publicamente a medida.

O presidente da Acción Democrática Nacionalista (ADN), Mauro Bertero, reconheceu que o grupo, fundado pelo falecido ex-ditador Banzer, se opôs à privatização petroleira, apesar de suas críticas pessoais à nacionalização. Enquanto que o senador Hoz de Vila, militante da ADN e próximo ao Podemos, manifestou apoio à medida. Já o presidente do opositor Comitê Cívico da região sulista de Tarija, Francisco Navajas, disse que a região vê com bons olhos a medida governamental e quer conhecê-la com mais profundidade.

Pretexto

O vice-presidente da República, Álvaro García, desmentiu que a nacionalização seja uma decisão eleitoreira com vistas às eleições da Assembléia Constituinte, prevista para julho. Ele afirmou que a nacionalização constitui o cumprimento de um compromisso assumido por Evo na campanha que o levou a ser eleito em dezembro passado com ampla maioria.

García ainda avisou que as medidas de transformação do Estado continuarão de maneira paralela ao processo eleitoral da Assembléia Constituinte. E que os diferentes processos não devem ser confundidos.

Da Redação
Com agências