Brasil passa a dominar produção de combustível nuclear

O Brasil entrou hoje para o grupo dos sete países que produzem e dominam a tecnologia de combustível nuclear. Isso foi alcançado com a inauguração da primeira unidade de enriquecimento de urânio por ultra-centrifugadoras, de tec

O ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, inaugurou na manhã de hoje (5) a primeira cascata do primeiro módulo da fábrica de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB/MCT), em Resende (RJ). Na ocasião, ressaltou a importância que tem para o País a auto-suficiência na produção do combustível nuclear. “Num momento em que a questão do gás boliviano coloca em pauta o problema da segurança energética, é essencial desenvolvermos, internamente, outras formas de produzir energia para não ficarmos dependentes”, declarou.

Serão construídos quatro módulos ao todo, o primeiro com quatro cascatas e os demais com duas.

Rezende afirmou estar convencido de que o Governo percebe a importância de o Brasil diversificar suas fontes energéticas e, nesse sentido, a energia nuclear é uma das melhores alternativas, pois não contribui para o aquecimento global e até mesmo ambientalistas já a aprovam.

“Tenho certeza de que o presidente Lula vai arcar com os pequenos ônus políticos junto aos ambientalistas e vai anunciar, ainda este ano, a retomada da construção da usina Angra 3”, afirmou o ministro.

Comparando o início do enriquecimento ao começo da atividade de produção de petróleo, Rezende afirmou que o Brasil chegará à auto-suficiência na produção do combustível nuclear. “Nosso País não pode desperdiçar oportunidades de atingir a auto-suficiência nessa área, que é importante, não só por conta da produção de energia, mas também por todas as outras aplicações, como nos fármacos, na indústria e na construção civil”. Ele informou que o Conselho de Política Energética se reunirá no próximo mês para discutir o assunto.

Para o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, a inauguração desta primeira fase do enriquecimento significa muito mais que uma vitória. “Representa para todos nós do setor nuclear um ato de heroísmo que, infelizmente, demorou a se concretizar, mas se tornou possível graças aos esforços de muita gente. Este é o primeiro passo de um caminho que não vamos abandonar.”

A cerimônia contou com as presenças dos presidentes da Eletronuclear, Othon Pinheiro; da Agencia Espacial Brasileira (AEB/MCT), Sergio Gaudenzi; da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT), Odilon Marcuzzo, do ex-ministro Roberto Amaral, além de diversos políticos, dirigentes de empresas e entidades e técnicos que contribuíram para o projeto.

Economia

O urânio brasileiro extraído das minas de Caetité (BA) tem sido, até então, enriquecido na Europa, após ser transformado em gás, no Canadá. Com o início da produção nacional, o Brasil passa a integrar definitivamente o seleto grupo de países que dominam esta tecnologia. A previsão é que a primeira etapa do projeto, quando concluída, atenda a 60% das necessidades das usinas Angra 1 e Angra 2. Com isso, o País economizará, a cada 14 meses, aproximadamente US$ 12 milhões. O combustível produzido pela INB – que é subordinada ao Ministério da Ciência e Tecnologia – é responsável pela geração de mais de 40% da energia elétrica consumida no estado do Rio de Janeiro e 20% no Sudeste.

A tecnologia empregada no processo é uma das mais modernas do mundo e garante ao Brasil grande vantagem competitiva nessa área, haja vista que processos utilizados por países como Estados Unidos e França, que atendem a 55% do mercado mundial de urânio enriquecido (estimado em US$ 20 bilhões), utilizam a tecnologia de difusão gasosa, consomem 25 vezes mais energia do que aquele criado no Brasil. Para se levar um quilo de urânio natural até o enriquecimento de 4% (teor suficiente para utilização em reatores de potência nuclear) consome-se 530 kWh no processo brasileiro e 13.250 kWh no processo francês e norte-americano.

Fonte: Ministério da Ciência e Tecnologia