Vinte anos depois: Promotor denuncia três mandantes do assassinato do padre Josimo

No ultimo dia 25 de abril, quase vinte anos após o assassinato do padre Josimo Tavares, o juiz Costa Júnior, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Imperatriz(MA) recebeu denúncia oferecida pelo promotor Arnoldo Jorge de Castro Ferreira contra o juiz apos

No ultimo dia 25 de abril, quase vinte anos após o assassinato do padre Josimo Tavares, o juiz Costa Júnior, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Imperatriz(MA) recebeu denúncia oferecida pelo promotor Arnoldo Jorge de Castro Ferreira contra o juiz aposentado João Batista de Castro Neto e os fazendeiros José Elvécio Vilarino e Pedro Vilarino Ferreira, apontados como mandantes do crime.

De acordo com a denúncia, João Batista de Castro Neto, José Elvécio Vilarino, Pedro Vilarino Ferreira e ainda Osmar Teodoro da Silva e Geraldo Paulo Vieira reuniram-se várias vezes com o propósito de organizar a morte do padre, inclusive deliberando acerca da arma que deveria ser utilizada e quem deveria ser contratado para a execução e a forma de pagamento da empreitada criminosa. Consta ainda que após a prisão de parte dos envolvidos, os agora denunciados concorreram para a manutenção de suas famílias, garantindo auxílio financeiro.

Em abril de 1986, enquanto dirigia em viagem para Imperatriz, o padre Josimo sofreu um atentado, mas as balas ficaram na porta da Toyota. No mês seguinte, no dia 10 de maio, Josimo foi morto com dois tiros pelas costas enquanto subia a escadaria do prédio em Imperatriz, onde funcionava o escritório da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade da qual era coordenador no Bico do Papagaio.

Para os lavradores da região o “padre preto de sandálias surradas” é símbolo de resistência contra a opressão, um mátir da luta pela terra.

Sabendo do risco que sua luta trazia, Josimo deixou um testamento na Assembléia Diocesana em Tocantinopólis (TO), duas semanas antes de sua morte, onde dizia “nem o medo me detém […] morro por uma causa justa” e acrescentava dizendo que era uma luta em defesa do trabalhador e em prol do evangelho.

A atitude de padre Josimo Tavares frente às atrocidades cometidas contra posseiros se alinha com um segmento da Igreja Católica que em prática e discurso havia feito a opção pelos oprimidos.

Poucos anos depois, as investigações policiais identificaram o assassino, além de outros envolvidos. O pistoleiro Geraldo foi condenado a 18 anos e 6 meses de prisão, fugiu três vezes da cadeia, e, foragido, foi morto em um assalto a banco.

Quatro pessoas foram condenadas por envolvimento no crime: Geraldo Vieira, já falecido, e Adailson Vieira a 18 anos. Osmar Teodoro da Silva, na época presidente da Câmara de Vereadores de Augustinópolis (TO), foi condenado 19 anos, e Guiomar Teodoro da Silva e Vilson Nunes Cardoso, a 14 anos; um outro acusado, João Teodoro da Silva, faleceu antes de ser julgado.

Outros dois acusados, Nazaré Teodoro da Silva e Osvaldino Teodoro da Silva, foram absolvidos pelo Tribunal do Júri; em seguida, o Tribunal de Justiça do Maranhão anulou o júri e, dessa anulação, os réus recorreram para o Supremo Tribunal Federal.

O processo vem sendo acompanhado pela assessoria jurídica do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) de Açailândia (MA), da Comissão Pastoral da Terra (TO) e Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Tocantins (FETAET).

A Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins, em parceria com a Paróquia de Buriti do Tocantins e as Comissões de Preparação de Buriti e de Wanderlândia, realizam de 7 a 14 de maio a Semana da Terra de Padre Josimo, em memória a sua luta.

Dentro da programação, no dia 10 de maio, em Buriti do Tocantins, será realizada às 17 horas uma grande caminhada seguida às 19 horas de uma missa na igreja onde está o túmulo do padre Josimo.

Origem – Padre Josimo nasceu em Marabá (PA) em 1953. Foi ordenado sacerdote em 1979, em Xambioá (TO). Assumiu o trabalho na Pastoral da Juventude em Wanderlândia (TO). Foi coordenador de Pastoral da Diocese de Tocantinópolis, tendo sua atuação pastoral no extremo norte do então Estado de Goiás, região conhecida como Bico do Papagaio. Nessa região foi coordenador da CPT, na década de 80.

Conhecido por sua defesa intransigente dos trabalhadores rurais e oprimidos, Josimo Tavares causou sentimentos de desprezo e ódio aos fazendeiros da região, inclusive pelo fato de ser negro, o que é relatado no livro “Todos Sabiam: a morte anunciado do padre Josimo”, da escritora inglesa Binka Le Breton.