Demissões na Volks motivam protestos mundiais

A luta contra o anúncio da Volkswagen de demitir 5,7 mil trabalhadores de suas fábricas no Brasil deve ser articulada mundialmente com outros comitês e sindicatos, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Fe

A luta contra o anúncio da Volkswagen de demitir 5,7 mil trabalhadores de suas fábricas no Brasil deve ser articulada mundialmente com outros comitês e sindicatos, segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo. A multinacional alemã anunciou sua intenção no último dia 3. O líder sindical esteve reunido na última semana com o comitê mundial de funcionários da Volks. No sábado (14), ele embarcou para o México para participar de um encontro de sindicatos de metalúrgicos que atuam com a Volkswagen.

Das 5.773 demissões anunciadas, 3672 seriam em São Bernardo do Campo, 1420 no Paraná e 681 em Taubaté. Deste total, 3016 demissões ocorreriam ainda neste ano. Entre os demitidos, 85% seriam da produção. As demissões em São Bernardo do Campo só começariam a partir do dia 20 de novembro de 2006, pois até lá existe um acordo de estabilidade fechado em 2001. A intenção da fábrica é também terceirizar as funções de trabalhadores que não fazem parte da produção direta (segurança, ferramentaria, logística, etc) e redução do custo com pessoal em 25% (além das demissões anunciadas).

Além dessa articulação mundial, os protestos no Brasil devem começar essa semana. Os 499 trabalhadores que estão no Centro de Formação e Estudos da Volks sairão em passeata pelas ruas centrais de São Bernardo para denunciar o caso à sociedade e conquistar apoio popular. Novas ações de resistência também estão sendo debatidas pela CUT com dirigentes da Força Sindical.

Feijóo afirma que há contingente para mobilizar mais de 250 mil trabalhadores, se for necessário. “Esse não é um problema exclusivo nosso. A montadora tem 43 fábricas espalhadas pelo mundo. Na Alemanha ameaçam demitir 20 mil. Na Espanha também estão querendo fechar uma fábrica. E todos têm queixas das ameaças e forma de condução de negociações”.

A reunião do Comitê estendeu-se até o fim de semana. Feijóo teve de voltar ao Brasil para participar do Congresso Estadual da CUT, realizado em Santos. Mas outras lideranças permaneceram na Alemanha para articular o movimento. ”Concordamos que é preciso reação. Acredito que conseguiremos organizar um dia mundial de lutas, com paralisações em todas as fábricas da Volks pelo mundo”, aponta.

Uma outra forma de pressão, segundo o presidente do Sindicato, é a cobrança de posição dos governos onde existem fábricas da multinacional. Um exemplo é o que fez o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), que anunciou um possível corte de benefícios e incentivos fiscais caso haja demissões na fábrica de Curitiba.

A orientação agora aos trabalhadores é evitar as horas extras, que, de acordo com Feijóo, não é uma tarefa fácil. “Muitos trabalhadores contavam com isso para a sua renda familiar mensal. Ao anunciar a intenção de corte, é preciso dar um tempo para os trabalhadores se replanejarem. Mas é uma luta de longo prazo. Precisamos convencer os trabalhadores aos poucos, para que, com o tempo, parem de produzir estoques para a empresa”. Ele descartou também qualquer hipótese de uma negociação com a Volks no Brasil nesse momento: “Queremos impedir as demissões. Nenhuma negociação se dará em outro sentido”.

O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, que também participou do Congresso em Santos, entende que esse tipo de ataque neoliberal precisa de respostas rápidas dos trabalhadores. “Um plano de reestruturações de uma grande corporação não pode avançar sobre os direitos dos trabalhadores, com achatamentos salariais e ampliação das jornadas de trabalho”.

Rafael Marques acredita que seja necessário barrar esse ataque da Volks, pois esse seria o início de uma séria de ofensivas de grandes empresas contra os direitos conquistados pelos trabalhadores em todo o mundo. Reações, como aconteceram recentemente na França, para ele, são exemplos da importância da articulação dos sindicatos contra a precarização do trabalho.

Manifesto –
Conforme manifesto divulgado na última semana, o argumento da Volkswagen de que seus problemas de produção e competitividade no Brasil advêm da desvalorização do dólar é insuficiente para explicar o tamanho do desmonte que ela pretende em suas fábricas.

“Aqui no Brasil não serão perdidos apenas os 5,7 mil empregos que a montadora quer cortar em sua reestruturação. Há toda uma rede envolvida na produção automobilística, que responde por uma parcela significativa do PIB brasileiro. São 27 setores industriais diretamente ligados à produção de um veículo”, diz o manifesto.

Segundo dados do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cada emprego na montadora corresponde a 47 empregos na cadeia produtiva. Dessa forma, o total de pessoas potencialmente afetadas pelas demissões, se considerados todos os 27 setores, chega a 245 mil trabalhadores. Considerados seus familiares, são cerca de 660 mil pessoas.

Lucro –
A Volkswagen anunciou seu plano de reestruturação no momento em que mostra os melhores resultados dos últimos anos. Com liderança européia no setor automotivo, somente entre janeiro e março a montadora anunciou que obteve lucro líquido de R$ 863 milhões, cerca de 327 milhões de euros. A Volks é a maior indústria automobilística no Brasil e no ano passado produziu 652 mil veículos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Ela detém a liderança de participação no mercado interno com 23% das vendas e, sozinha, respondeu por 32% das exportações brasileiras de veículos. Somente com exportações a empresa faturou R$ 4,5 bilhões. Nunca, no Brasil, se montou tantos carros. No primeiro trimestre as montadoras produziram 631 mil veículos, o maior volume de todos os tempos para esse período.