Fala de Marcola na TV é apologia de crime, diz SAP

A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo divulgou uma nota oficial criticando a suposta entrevista realizada por telefone pelo jornalista Roberto Cabrini, da TV Bandeirantes, com o principal líder do PCC Marcos Camacho, o Marcola.

"(A SAP) repudia a forma criminosa e irresponsável que as emissoras de televisão Rede Record e Rede Bandeirantes colocaram no ar falsas gravações com líderes de facções criminosas e informa que tomará todas as medidas necessárias para responsabilizar, civil e criminalmente, os autores", diz a nota. "A veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas serve tão-somente para inflamar o ânimo sensacionalista assustando a sociedade e prejudicando as investigações realizadas pelas autoridades competentes", completa. Segundo a SAP, em um caso semelhante a esse, envolvendo o SBT, houve condenação dos responsáveis pela publicação de uma falsa entrevista com integrantes de facção. Ainda de acordo com a SAP, a Polícia Civil de São Paulo já instaurou inquérito policial para apurar o delito de apologia de crime ou criminoso.
Marcola, teria afirmado que a organização criminosa não mostrou ainda todo o seu poderio. "A gente está preparado para muito mais, tem condições para muito mais", disse em suposta entrevista à rede de TV Bandeirantes exibida na noite dessa quarta-feira. Na gravação, ele justificaria os ataques em São Paulo dizendo que a organização buscava apenas defender os direitos constitucionais dos presos. "Se a gente fosse ouvido e atendido dentro da constituição e dentro da lei nada disso teria acontecido", afirmou. Marcola negou ser mandante do assassinato de policiais, atitude que atribuiu a "oportunistas". Ele, contudo, teria criticado a atuação da polícia de brutal. "A gente está procurando um meio de estar resolvendo a situação, mas eles, polícia, não estão querendo, estão agindo de forma brutal, estão assassinando também", afirmou.
Segundo a entrevista, Marcola informaria que quem tem a sofrer com isso é a população. "Estão declarando uma guerra, esquecendo que estão deixando a sociedade à mercê (dessa guerra). Porque dentro de uma guerra onde as duas partes estão com poderio de fogo, acho que quem tem a perder são apenas as pessoas que não tem nada a ver com ambas as partes", disse. Marcola negaria, ainda, ter feito um acordo com o governo do Estado para cessar as rebeliões e os ataques.
Imprensa internacional
O assunto chegou à imprensa internacional. O jornal britânico Financial Times afirma que São Paulo "pareceu voltar ao normal" em meados desta semana, mas põe em dúvida o "tipo de normalidade" a que se chegou e a maneira com que as autoridades conseguiram pôr fim à crise provocada pelas rebeliões de presidiários e ataques a policiais. Segundo o jornal, a forma como a crise foi conduzida em São Paulo "sugere uma falta de controle capaz de levar a uma crise de governabilidade".
Segundo o jornal, uma entrevista concedida de dentro da prisão e por telefone celular "pareceu confirmar o que muitos temiam: que os ataques foram interrompidos porque o PCC decidiu interrompê-los, após ter negociado com as autoridades". De acordo com o Financial Times, caso seja confirmado que houve um acordo entre autoridades e criminosos, "isso confirma o crescente poder do PCC para promover atos dentro e fora do sistema penitenciário de São Paulo, refletindo a situação em outras partes do Brasil, como no Rio de Janeiro, onde poderosas gangues formadas em presídios há 20 anos dominam prisões e favelas".
Outro jornal britânico, o Guardian, aborda o mesmo tema, mas enfoca a acusação contra a polícia de São Paulo de que a entidade estaria "buscando uma estratégia de vingança contra gangues criminosas". O jornal entrevistou ativistas de direitos humanos, que dizem que a polícia estaria exercendo "estratégias de retaliação". O Guardian relata que policiais vêm trocando e-mails com imagens de companheiros mortos por criminosos e traz passagens de mensagens enviadas por um policial de Osasco que não quis se identificar.

Com agências