MST se integra à “Outra Campanha” zapatista

Durante um mês, dois dirigentes sem-terra acompanharam o Subcomandante Marcos em sua 'recorrida' pelo México para divulgar a chamada Outra Campanha.

Desde a ascensão do MST como maior movimento de massas no Brasil e do surgimento do Movimento Zapatista no México na década de 1990, as duas organizações têm sido consideradas as mais importantes expressões sociais da história recente da América Latina.

Organicamente distintos em sua origem e organização políticas — movimento nacional, o MST se consolidou na luta institucional do campesinato pela reforma agrária, enquanto os zapatistas, restritos ao estado de Chiapas, optaram por um levante armado pelo reconhecimento da identidade indígena com plenos direitos —, ambos os movimentos se caracterizam por uma formulação ideológica — aí sim muito próxima — dos objetivos de sua intervenção na conjuntura política e social nacional, que arrebanhou admiradores e adeptos em muitos setores da sociedade, inclusive em nível internacional.

Há tempos, os campos de ação e elaborações políticas de ambos os movimentos extrapolaram a esfera corporativa e se expandiram para um debate mais amplo sobre os conceitos de sociedade e desenvolvimento, centrado claramente no enfrentamento ao neoliberalismo e à hegemonia do capital internacional na condução da vida do planeta.

Mais recentemente, porém, o discurso em torno da formulação de uma alternativa política de modelo de sociedade se corporificou de forma dissociada mas estranhamente similar no Brasil e no México. Diante da perspectiva de eleições gerais em ambos os países em 1996, ainda em 1995 surgiram duas propostas de organização nacional que têm como objetivo aglutinar os movimentos sociais dos respectivos países em torno de um grande debate sobre a cara do futuro desejado.

No Brasil, sob liderança do MST e da Igreja (através da campanha Jubileu Sul), se formalizou em outubro de 2005 a chamada Assembléia Popular, uma articulação de dezenas de entidades e movimentos de base em torno de um grande debate sobre “o Brasil que queremos”. Cogitando primeiramente apresentar uma grande plataforma de demandas e propostas ao país ainda em 2006, a Assembléia abandonou a idéia por um projeto mais demorado de consulta e construção nos municípios e estados, a ser amadurecido até 2007.

No México, em julho de 2005 o Subcomandante Marcos reaparece em público com a Sexta Declaração da Selva Lacadona, extenso documento onde os zapatistas avaliam os dividendos dos últimos 11 anos e traçam planos para o futuro: basicamente, romper com a institucionalidade, negar o processo eleitoral de 2006 a lançar uma Outra Campanha, movimento de articulação nacional dos movimentos e forças sociais em torno de um projeto popular de sociedade a ser construído a partir de 2006, devagar e sem pressa, no mais puro estilo indígena.

Em janeiro deste ano, Marcos, auto-intitulado Delegado Zero, montado em uma moto dá início ao “recorrido” de seis meses, um processo de assembléias, reuniões, debates e articulações com os movimentos sociais de todos os estados para a divulgação da Outra Campanha e a arrancada de sua construção. É esta experiência que os dirigentes do MST, Djacira Araujo e José Batista, acompanharam por um mês, entre abril e maio.