Partido Comunista Peruano conclama o voto em Humala

O Partido Comunista Peruano (PCP) avalia que o candidato à Presidência do Peru, Ollanta Humala, é a expressão da mudança e da transformação social. Para o partido, no primeiro turno, o povo peruano voto

Reunido no último dia 15 de maio, o PCP avaliou que o resultado do primeiro turno eleitoral, realizado no dia 9 de abril, “não é um fato casual mas produto de um longo processo de tomada de consciência e de acumulação de forças no campo popular. É a síntese de um período de luta cujos ritos mais importantes estão no enfrentamento e na derrota da ditadura fujimorista, na defesa do patrimônio nacional, na luta contra as privatizações”.

A direção do partido aponta que a Frente Ampla de Esquerda (FAI, na sigla em inglês) “foi insuficiente para encarar a conjuntura eleitoral dado ao fato que a esquerda, dividida, não era sinônimo de triunfo”.  Mas ressalta que ainda assim, o povo peruano identificou Humala como a alternativa de mudança. “Não se trata de um voto incondicional nem seguidista”, mas sim de “respaldar todo aquele que signifique avançar na direção das mudanças que o povo demanda e assumir uma posição de denúncia e severa crítica quando não seja conseqüente com isso”.

O PCP reafirma que seu “respaldo se centra nas propostas programáticas que defende o UPP e o Partido Nacionalista, centradas na mudança do modelo econômico primário exportador que não gera emprego digno nem distribui riqueza, na necessidade de impulsionar uma política de industrialização que dê valor agregado aos nossos recursos e propicie a geração de trabalho com direitos”.

Leia a íntegra da nota:

O Partido Comunista Peruano, considerando:

1. Que, no primeiro turno eleitoral o povo peruano votou de forma expressiva e inequívoca pela mudança e transformação social infringindo uma derrota contundente à direita neoliberal.

2. Que, o resultado no primeiro turno não é um fato casual mas produto de um longo processo de tomada de consciência e de acumulação de forças no campo popular. É a síntese de um período de luta cujos ritos mais importantes estão no enfrentamento e na derrota da ditadura fujimorista, na defesa do patrimônio nacional, na luta contra as privatizações nas quais se destacam jornadas memoráveis como o “arequipazo”, a Paralisação Nacional de 14 de julho, a luta dos trabalhadores, camponeses, estudantes, etc, do que se conclui que é irrefutável a contribuição dos trabalhadores liderados pela CGTP [Confederação Nacional dos Trabalhadores do Peru] e as lutas regionais, das forças políticas de esquerda e progressistas, assim como a contribuição dos partidos e intelectuais de esquerda marxistas e não marxistas.

3. Que o comandante Ollanta Humala soube ler adequadamente as reivindicações étnicas dos indígenas secularmente excluídos, interpretou o significado dos abandonos sociais como o levante de Ilave e dos agricultores cocaleiros, e no processo eleitoral questionou radicalmente o sistema, a corrupção e o entreguismo da direita tradicional e, da mesma forma, se apossou como expressão das correntes antiimperialistas da América Latina, reivindicando, ademais, o legado nacionalista e antiimperialista do general Juan Velasco Alvarado, que em seu momento o PCP respaldou com firmeza. Reivindicou e levantou as bandeiras da defesa da soberania nacional frente ao TLC e a Convenção do Mar. Ou seja, levantou as bandeiras pelas quais vimos lutando a esquerda peruana e o movimento social organizado.

4. Que a Frente Ampla de Esquerda (FAI, na sigla em inglês), foi insuficiente para encarar a conjuntura eleitoral dado ao fato que a esquerda, dividida, não era sinônimo de triunfo. Mas as massas excluídas votaram por quem tinha maiores possibilidades de vitória, como era Ollanta Humala.

5. Que votar pelo Apra significaria respaldar sua trajetória de pactos vergonhosos com a direita mais reacionária, e sua catastrófica gestão governamental dos anos 1985-1990 posta a serviço dos “doze apóstolos” e do imperialismo, governo que significou a miséria mais absoluta para os setores mais vulneráveis da população, a corrupção e a monopolização do Estado por seus partidários, assim como na economia, significou que os preços dos produtos de primeira necessidade se multiplicaram 22 mil vezes, propiciando a especulação e o sucateamento, a pobreza se triplicou de 16 para 35%, o subemprego passou de 42 para 73%, dilapidou as reservas internacionais através do dólar MUC que presenteou poderosos empresários do seu entorno, e significaria reafirmar a impunidade frente a fatos flagrantes de violação de direitos humanos e crimes que lesam a humanidade como os ocorridos em Lurigancho, El Frontón, Aqomarca, Cayara, etc.

Por estas considerações, a direção acorda em:

1. Fazer um chamamento aos militantes e amigos do Partido, aos trabalhadores, a Frente Ampla de Esquerda e demais organizações progressistas do campo popular a votar em segundo turno pelo candidato nacionalista Ollanta Humala, em firme e conseqüente respaldo às mudanças pelas quais votou a maioria do povo peruano.

2. Não se trata de um voto incondicional nem seguidista. Trata-se de respaldar todo aquele que signifique avançar na direção das mudanças que o povo demanda e assumir uma posição de denúncia e severa crítica quando não seja conseqüente com isso.

3. Nosso respaldo se centra nas propostas programáticas que defende o UPP e o Partido Nacionalista, centradas na mudança do modelo econômico primário exportador que não gera emprego digno nem distribui riqueza, na necessidade de impulsionar uma política de industrialização que dê valor agregado a nossos recursos e propicie a geração de trabalho com direitos.

Respaldamos, da mesma forma, sua proposta de renovar profundamente o Estado e suas instituições sobre a base de uma nova Constituição democrática e promover uma gestão honesta, eficiente e com participação e fiscalização do povo, assim como, nos somamos à proposta de empreender uma luta profunda contra a pobreza e dar uma batalha sem trégua a corrupção. Mas, advertimos, que não somente se trata do programa econômico, mas também de uma firme defesa dos direitos humanos econômicos e sociais que propiciem a participação cidadã nas decisões políticas para não incorrer no caudilhismo que degrada a democracia.

4. Qualquer que seja o resultado das próximas eleições de 4 de junho, nosso dever é estar junto ao povo, impulsionando as lutas sociais em demanda dos direitos cidadãos e exigindo bem-estar e justiça social para os excluídos e exploradores deste país.

Lima, 15 de maio de 2006

Renan Raffo Muñoz, secretário geral
Pela Comissão Política