Trinta inocentes podem ter sido mortos em SP, diz advogado

O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, o advogado Ariel de Castro, afirmou nesta terça-feira que pelo menos 30 pessoas podem ser inocentes dentre as 110 que foram mortas em São Paulo desde a semana passada, após os ataques

Segundo ele, os casos foram apurados com base em reportagens publicadas em jornais e em contatos que as próprias entidades (incluindo o movimento) tiveram com familiares e comunidades, principalmente com o Centro de Direitos Humanos de Sapopemba, o Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo e o Centro de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo.

"São relatos sobre pessoas que teriam sido assassinadas de forma brutal em possíveis execuções sumárias, algumas delas até estavam voltando do trabalho ou da escola, principalmente jovens, pobres ou negros", disse. "Em muitos desses casos, segundo as comunidades e as famílias das pessoas, foi verificado que elas pessoas não tinham nenhum envolvimento com a criminalidade".

Castro afirma que as mortes ocorreram em bairros periféricos da cidade e em regiões onde tradicionalmente existe a violência policial, como em Sapopemba, na zona leste, e no Parque Santo Antônio, na zona sul.

Em Sapopemba, ele afirma que houve ataques a bases policiais comunitárias, mas que não houve morte de policiais. "Mesmo assim, houve retaliações e, pelo que temos verificado, elas acabaram sobrando não para líderes do crime organizado, mas para muitas pessoas, principalmente jovens pobres, que não tinham nada a ver, que estavam simplesmente no lugar errado, na hora errada. E muitas vezes o lugar errado era na frente da casa onde moravam".

Na avaliação do advogado, esses casos apontam que ao menos 30 pessoas teriam morrido "tanto vítimas de violência policial quanto de grupos de extermínio que voltaram a atuar, principalmente neste período do início da semana passada".

Castro diz que, historicamente, os grupos de extermínio estão, de alguma forma, ligados às próprias forças policiais, e existem ou razão de ação ou de omissão dos próprios agentes do Estado. "Mas não poderíamos dizer de antemão que são policiais que estão por trás desses grupos. Essa é uma das hipóteses mais prováveis", ponderou.

Ferréz ameaçado

No caso específico da zona sul paulistana, ele lembrou que o escritor Reginaldo Ferreira da Silva, conhecido como Ferréz, fez denúncias de pelo menos 24 assassinatos. "E ele mesmo teve que sair da cidade por medo de represálias, dizendo que sofreu ameaças depois de ter denunciado as supostas execuções".

Na última quarta-feira (17), o escritor Ferréz, que nasceu e vive até hoje no Capão Redondo, um dos bairros mais violentos da periferia da capital paulista, fez um apelo aos leitores de seu blog – www.ferrez.blogspot.com. Solicitou ajuda para denunciar a ação da polícia contra a população pobre que, visando responder aos ataques dos criminosos do PCC, o Primeiro Comando da Capital, estaria vitimando dezenas de inocentes. Na sexta-feira, Ferréz concedeu uma entrevista exclusiva à Carta Maior, onde afirmou que o governo estadual estava escondendo os corpos porque a maioria das pessoas teria sido executada por esquadrões formados por integrantes da polícia. Foi uma das reportagens de maior repercussão da história da agência.

No final de semana, o escritor teve que deixar o estado junto com sua família, depois de receber ameaças de morte. As agressões começaram nos comentários postados no próprio blog de Ferréz. Entre as declarações deixadas por seus leitores estavam frases como “São hipócritas como você que F… tudo. Pior que o povo alienado dá ouvidos a uma pessoa do seu tipo”; “Faça um texto atacando o PCC, se é que tem coragem, e começo a te respeitar”; “Como você tem coragem de intitular-se escritor, um retardado membro do PCC, é isso que você é”; “Ou você faz parte também desses vermes da sociedade ou tá querendo aparecer”; “Você é um defensor de bandidos!!”.

Não há informações de quando Ferréz retorna a São Paulo. Neste sábado (20), ele publicou em sua página um texto respondendo às críticas que recebeu. Confira abaixo a íntegra do texto.

“Mudo, surdo e louco.

É, nunca fui tão ofendido, mas tudo bem, a discussão avança, embora digam coisas que não foi escrita e sequer pensada.

Esse escritor que voz fala, que vendeu livro de mão em mão em Santo Amaro, e ainda vende por todo lugar que vai, nunca legitimou os ataques a Policia Militar, nem sequer deu voz a nenhuma facção.

Pena que defender a periferia seja covardemente confundido com defender bandido.
nem os de terno, nem os de revólver na mão.

Eu não estava assistindo pela tv, estava em meu comércio que também fechou antes das seis da tarde, eu não estava num apartamento como dito num post abaixo, eu estava no centro de toda essa guerra, só que como todo povo brasileiro eu não a provoquei.

É lamentável a verborragia de certos identificados como policiais, saibam que vida não se mede, assim como o ódio.

Os mais de 100 policiais não são menos nem mais seres humanos que os mais de 100 civis mortos. São todos vítimas, de um governo que abandonou a ambos para tentar outra candidatura.

E nunca falei no confronto, estou falando das chacinas, de uma minoria da policia.
Que ao propagar esses atos, legitima a mal fama de toda a corporação, ninguém nota pelo amor de Deus, que ambos os lados estão abandonados? não se tem interesse em informar o policial, ele é jogado na rua para o combate, e muita vezes seus superiores nem sabem quem é de fato o inimigo.

Agora ser ameaçado, como acontece nesses posts, mostra uma ignorância para quem como todo os outros escritores, musicos, poetas etc, que na verdade sempre trazem cultura, e cultura não deixa a violência brotar, porque ela conscientiza.
mais uma vez, um pais melhor, sem intolerâncias, e com mais diálogo, desde que feito com respeito.

Mano não é ladrão, ladrão anda de carro importado hoje em dia, e quem tá morrendo tá de chinelo andando na perifa, ou conseguiu passar num concurso e recebeu uma farda, ambos somos vítimas, só que por motivos que as vezes nem sabemos, se há de fato algum motivo.

Ferréz”

Com informações da Agência Brasil e Carta Maior