Augusto Buonicore lança biografia de João Amazonas em SP

O historiador e mestre em ciência política Augusto Buonicore lançou, na segunda-feira (29/05), a biografia "João Amazonas, um Comunista Brasileiro" (foto). Relato conciso mas panorâmico da vida de Amazona

O evento também contou com palestra de Walter Sorrentino, secretário nacional de Organização do PCdoB. O dirigente destacou o papel de João Amazonas nos momentos de dilema histórico, como na reorganização do partido (1962) e nas formulações do 8º Congresso (1992). De acordo com Sorrentino, esse segundo marco é uma contribuição menos conhecida — só que mais importante — na vida de Amazonas.

Em fevereiro de 1992, no rastro da queda do Muro de Berlim e da ruína do modelo soviético, o PCdoB realizou seu 8º Congresso. “Dada a dificuldade da situação — em que o movimento comunista perdeu o sentido da luta de classes —, uma vez mais João se transformou num gigante”, afirmou o secretário do partido.

Saudade –
Ao lado da trajetória política de Amazonas, o livro traz detalhes de sua personalidade e da vida pessoal. No último capítulo, Buonicore cita palavras que, possivelmente, foram as últimas do ex-presidente do PCdoB. Ele estava de cama, à morte, negando todos os pedidos para que se alimentasse. A enfermeira questionou: “Mas, seu João, do que é então que o senhor gosta?”. Ao que Amazonas respondeu com um sorriso: “Eu gosto mesmo é da Edíria”.

Casada com João Amazonas por 55 anos, a artista plástica Edíria Carneiro ajudou o marido a superar as mais diversas perseguições — e até tentativas de assassinato. “O mais duro foi o tempo que passamos separados. Ele tinha de ficar escondido, e nós tínhamos encontros rápidos, na rua mesmo”, lembra Edíria. “Penso nele o tempo todo, sonho com ele todas as noites. Ele me faz muita falta.”

Biografia alentadora –
"João Amazonas, um Comunista Brasileiro" atravessa desde a juventude do maior dirigente do PCdoB até sua morte, em 27 de maio de 2002. A exemplo das demais obras da série "Viva o Povo Brasileiro", o livro de Augusto Buonicore tem formato de bolso e custa apenas R$ 3,00.

A série, de acordo com a editora, é composta de "pequenos perfis, em muitos casos apenas 'impressionistas', em outros nem tanto, às vezes apoiados em pesquisas, ou apenas em memórias, que visam apresentar recortes que levem os leitores a um primeiro contato com esses personagens, despertando-lhes o interesse para futuros estudos e aprofundamentos".

Na opinião de Walter Sorrentino, a biografia escrita por Buonicore, além de interessante e útil, é "muito bem escrita". O relato, diz o dirigente, resume "com precisão e brilho episódios de grande complexidade, como a Guerrilha do Araguaia e a Chacina da Lapa".

Para explicar a concepção e as particularidades da obra, Buonicore concedeu ao Vermelho a entrevista abaixo, que também fala da nova série.

O que a série "Viva o Povo Brasileiro" traz de original para os leitores?
Essa coleção, na minha opinião, é revolucionária. Revolucionária pelos nomes escolhidos para retratar — os verdadeiros heróis do povo brasileiro —, não se prendendo à época. Vai desde a resistência indígena contra a colonização portuguesa até a luta dos sem-terra na atualidade. Trata de líderes políticos, artistas e também de militantes comuns.

Há quatro comunistas entre os oito biografados…
Nesta primeira leva de biografados, destacam-se os comunistas. Ali estão presentes Luiz Carlos Prestes, João Amazonas, Gregório Bezerra e Roberto Morena. São representantes das várias correntes dos comunistas brasileiros — e que tiveram importante papel na luta política, sindical e camponesa. Outros nomes estão previstos, como Olga Benário, Maurício Grabois, Octavio Brandão e Osvaldão.

A seu ver, por que o convidaram para escrever "João Amazonas, um comunista brasileiro"? E em que circunstâncias se deu esse convite?
Me parece que a indicação foi feita por Altamiro Borges, atual secretário nacional de Comunicação do PCdoB. Eu já havia escrito vários artigos sobre a vida e o pensamento de João Amazonas, que foram publicados na revista “Princípios”, no sítio “Vermelho” e no jornal “A Classe Operária”. O convite me alegrou muito. Era mais uma oportunidade de prestar minhas homenagens a esse importante dirigente comunista.

Quando João Amazonas morreu, o senhor escreveu um longo perfil sobre a vida e a atuação dele. A biografia parte desse texto? Como foi a feitura da obra?
Eu havia escrito um artigo biográfico sobre a vida de Amazonas antes da sua morte. Achava que esta era uma lacuna na história do movimento comunista brasileiro. Amazonas era avesso à entrevista e, por um longo período, recusou-se a falar sobre a sua vida. Ele dizia: o importante é o partido, não ele. Nesse ponto, ele estava errado. Os dois eram muito importantes. Portanto, a pesquisa sobre a vida dele começou já algum tempo. O livro é um pouco resultado desse trabalho. Depois de sua morte, continuei coletando informações sobre a vida de Amazonas. Contei com a colaboração de pessoas do Pará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, onde Amazonas viveu ao longo de sua militância. Me servi de algumas entrevistas feita pelo jornalista Osvaldo Bertolino, realizadas para elaborar as biografias de Maurício Grabois e Carlos Danielli. Fiz uso, também, de uma entrevista feita por Olívia Rangel com Edíria Amazonas, esposa de João. Mas a principal fonte foram as longas entrevistas dada pelo próprio Amazonas a uma comissão especial encarregada de escrever a história do partido. Fiz parte dessa comissão.

O senhor diz, na apresentação do livro, que não se trata de uma “biografia definitiva”. O que falta para seu relato ganhar esse status? O senhor se disporia a fazer tal biografia — pensa num projeto do gênero?
O objetivo desse pequeno livro sobre Amazonas, e da coleção "Viva o Povo Brasileiro", era atingir um maior número possível de pessoas, especialmente nos movimentos sociais. Portanto, ela deveria ser barata e curta, de linguagem acessível. Não comportaria, assim, incluir tudo sobre Amazonas, mas somente o que era essencial: os aspectos que servissem para educação militante.
Algumas passagens de sua vida e aspectos de seu pensamento tiveram de ser transmitidos de maneira concisa. Numa biografia mais alentada, poderíamos desenvolver um pouco melhor esses aspectos e, inclusive, dedicar mais aos aspectos pessoais e familiares. Assim teríamos uma visão mais completa de Amazonas.
Recentemente a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de elaboração de um livro sobre João Amazonas. Ele comporia a coleção Perfis Parlamentares, pois Amazonas foi deputado constituinte em 1946. Estamos agora envolvidos neste importante projeto que, com certeza, revelará novas facetas de Amazonas.

Afinal, quem foi João Amazonas?
Amazonas foi — e ainda é — o principal ideólogo do Partido Comunista do Brasil. Foi um dos principais responsáveis por o partido ter sobrevivido e crescido em meio às tormentas que atingiram a esquerda brasileira e mundial na segunda metade do século 20. Fez tudo isso pois tinha a convicção de que o Partido Comunista era o principal instrumento que os trabalhadores tinham para por fim à opressão e à exploração capitalistas — e para conquistarem o socialismo. Este era, na verdade, o grande objetivo de Amazonas.

Por André Cintra,
de São Paulo