Seminário na UnB avalia influencia marxista na política de saúde

O balanço do período de vigência do Sistema Único de Saúde (SUS) é positivo, porque o projeto, implantado há 20 anos no Brasil, garantiu a ampliação dos serviços, fortalecendo o papel dos municípios, atrav&eac

O evento, que começou na quarta-feira (7) e prossegue até sexta-feira (9), pretende discutir as bases teóricas e filosóficas do pensamento Marxista e sua influência na produção do conhecimento e implicações nas Políticas da Saúde e constituir um grupo de estudos no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESP/UNB) com representação dos estados brasileiros.

Para Márcio Florentino, professor do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, as discussões também se concentram no que ele considera gargalo na execução da política pública de saúde – o financiamento. "De 1980 para cá foi um período de governo baseado no neoliberalismo, com redução da ação do Estado, sem financiamento que desse suporte ao crescimento da demanda e ampliação da oferta, o que comprometeu a qualidade".

O debate considera ainda a importância de reforçar outros aspectos do SUS, "como a participação social, que seja cada vez com mais qualidade", destaca Florentino, acrescentando que "os conselhos são burocráticos, sem atuação mais legítima da sociedade".
 

Influencia marxista

A presidente do IMG-DF, Valéria Duarte, destaca que "é um evento que tem a coragem de reafirmar o marxismo como referência do pensamento social. Um outro mérito do evento é resgatar toda a contribuição do marxismo como um dos fundamentos do movimento que ficou conhecido como "Reforma Sanitária", que significou uma verdadeira revolução nos conceitos e nas práticas de saúde".

Márcio Florentino confirma as palavras da líder comunista ao dizer que o Seminário faz parte da programação de comemoração dos 20 anos da 8a Conferência Nacional de Saúde que em 1986 definiu política atual do Sistema Único de Saúde (SUS), "proposta construída a partir de muito debate e participação social e que tem como essência a influência do pensamento marxista, que vê a saúde como processo social e o enfrentamento das desigualdades que afetam a pessoa no campo da doença e saúde".

Valéria Duarte avalia que "o Marxismo foi fundamental como base teórica para a superação de uma concepção de saúde limitada à "ausência de doença", passando a interpretar a saúde como resultado das condições de trabalho, moradia, lazer, conforme consta no Relatório Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Poderíamos dizer que, sem a contribuição do referencial marxista, todos os avanços nas concepções e práticas de atenção à saúde não teriam sido possíveis".

Movimento amplo

O evento, que reúne alunos, profissionais e pesquisadores da área de saúde e afins, é resultado também de intercâmbio com Universidade de Havana, Cuba, contando com a participação da professora da Faculdade Latino Americano de Ciências Sociais, Helena Dias.

Márcio Florentino explica que a política de saúde pública do Brasil acompanha um movimento mais amplo existente na América Latina, com destaque para influência do modelo cubano e outros grupos de pesquisa nessa linha no México, Chile e Venezuela.

Papel do IMG

Valéria Duarte aproveitou a ocasião para reafirmar o papel do IMG como "instituto de estudos e pesquisa que se propõe a atuar no campo das idéias, estabelecendo uma interlocução com todos os segmentos avançados da sociedade que defendem o marxismo como linha de interpretação dos fenômenos sociais", destacou, acrescentando que "isto não é tarefa das mais fáceis pois há mais de uma década o marxismo tem sido desconsiderado, banalizado e desqualificado como teoria de interpretação da realidade", analisa.

Segundo avaliação da presidente do IMG-DR, "o marxismo anteriormente era demonizado pelos setores conservadores, mas esta demonização não resistia a mais simples elaboração teórica, o que lhe dava cada vez mais vigor diante das críticas e dos ataques. Mas, a característica dessas novas investidas contra o marxismo tem um traço diferenciado, pois parte de setores que se colocam como avançados. É sabido que na própria universidade, não são raros aqueles que se sentem profundamente incomodados quando se deparam diante dos que insistem em afirmar o vigor e a atualidade do pensamento marxista", disse.

De Brasília

Márcia Xavier