UJS discute cultura digital e democratização da comunicação

Um dos 14 grupos temáticos realizados ontem durante o 13º Congresso da UJS, em Brasília, abordou a temática da cultura digital e da democratização dos meios de comunicação. Para Élder Vieira, do MinC, “o caminh

“Os neoliberais subtraíram do governo a possibilidade de decisão em diversas áreas”. A afirmação foi feita por Élder Vieira, chefe de gabinete da Secretaria de Programas e Projetos Culturais do MinC, durante a realização de um dos 14 grupos temáticos que marcaram o segundo dia do 13º Congresso da UJS. Numa das tendas espalhadas pelo centro comunitário da Universidade de Brasília, Vieira, ao lado do professor Pedro Rezende, da UnB e de Joaquim Carlos, da Abraço, debateram a “Democratização dos meios de Comunicação”.

 

Com base em sua experiência junto ao Ministério da Cultura, Vieira explicou que a “realidade política é bastante dual” dentro do próprio governo, fator que deve ser levado em consideração ao analisar os avanços e derrotas na área da comunicação. Ele chamou atenção para o fato de que “ser governo e ter poder não são a mesma coisa”, situação que leva a contradições e que impedem uma atuação mais incisiva na busca da democratização dos meios. Neste sentido, além de vencer as incoerências no seio da administração federal, os setores mais mudancistas precisam lidar também com o poder dos grandes grupos monopolistas e os lobbies feitos por setores do Congresso.

 

Conforme explicou aos jovens presentes, isso tudo faz parte de uma visão de classe, “já que a elite brasileira cria formas de administração pública nos moldes neoliberais que são compatíveis com seus anseios”. O preço pago, neste caso, é a exclusão da população em diversos segmentos da sociedade, em especial no debate da democratização dos meios de comunicação, e a alienação promovida pelo chamado “coronelismo digital”. 

 

Para romper com esse ciclo, Viera propõe a ampliação do debate para toda a sociedade. A juventude, naturalmente aberta às novas formas de comunicação, tem papel fundamental nesse processo. “Acho que no caso da UJS e das entidades das quais ela participa – como UNE e UBES – deve haver um esforço de pautar essa questão não só em seus fóruns, mas em seus instrumentos de comunicação”. Segundo Elder, “o caminho de intervenção da juventude em geral e da UJS em particular nesta questão deve ser por meio da batalha pelo software livre e em defesa da cultura digital”, uma vez que “este é o ponto de convergência de todos os debates de tecnologia, de informação e de conhecimento”.

 

Vieira defendeu ainda o projeto de tornar a televisão realmente pública, o que não deve ser confundido, como alguns veículos de comunicação insistem em proclamar, com a estatização dos meios. “Acredito que este deve ser um problema enfrentado no âmbito do MinC e não do ministério das Comunicações porque isso faz parte de um debate ideológico, que envolve questões simbólicas, e não de um processo meramente técnico”.

 

Luta contra os monopólios

 

“Enfrentamos principalmente os grandes monopólios das comunicações. Como há muitas barreiras, é preciso uma ação global e coordenada, que combine esse trabalho meio guerrilheiro dos hackers, dos jovens da cultura digital que vão criando coisas a despeito do que o mercado e a legislação dizem e, ao mesmo tempo, travar uma luta dentro do governo e da sociedade para mudar as leis”, defendeu Vieira. Por isso, a questão do marco regulatório é essencial e um passo importante nesta direção foi o lançamento da Lei Geral do Audiovisual. “Esta foi uma grande vitória, filha da batalha travada na questão da Ancinav. Acho que há outras batalhas a serem travadas no campo institucional, mas não se deve abandonar o trabalho nas frentes populares e de construção desse movimento. Só assim é gerada cultura e caldo para que a situação mude mais adiante”. Ao propor a nova regra, explicou Elder Vieira, o governo conseguiu fazer um deslocamento da subjetividade do debate para uma situação concreta. 

 

Por fim, Vieira propôs a inserção de plataformas concretas no documento que norteará para a ação da UJS: a defesa do software livre e da cultura digital, do sistema público de comunicação, incluindo aí as emissoras comunitárias e a luta pela inserção do ensino da cultura digital nas escolas. “Pensar cultura digital é pensar em rede, em conexões. A educação hoje ainda é no modelo analógico e isso dificulta a evolução da cultura digital”. Para ele, “ser marxista hoje é perceber esse processo dialético e entrar de cabeça nesta discussão”.

 

De Brasília,
Priscila Lobregatte