Favorito, Lula disputará com outros cinco candidatos

Com a indicação do senador Cristovam Buarque (DF) para concorrer à Presidência da República, o PDT praticamente completou o quadro da corrida sucessória de 2006. Ao todo serão inscritos seis candidatos, dos quais ape

Os outros quatro concorrentes – a senadora Heloísa Helena (PSOL), o ex-deputado José Maria Eymael (PSDC), Luciano Bivar (PSL) e Buarque (PDT) não são, no entanto, meros coadjuvantes. Eles reforçam a campanha de oposição ao governo petista e podem influenciar na estratégia de reeleição de Lula logo no primeiro turno. Quem chegar ao segundo turno – e Alckmin é o favorito – terá maior probabilidade de herdar os votos que supostamente serão dados contra o presidente.
O deputado Enéas Carneiro (Prona) desistiu da candidatura por recomendação médica.

O presidente Lula é o único que ainda não confirmou oficialmente a sua candidatura. Segundo anunciou o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, o projeto de reeleição será lançado sábado (24) durante a convenção nacional do PT em Brasília.

Indefinição do PT

O quadro de alianças partidárias para a Presidência da República ainda não está totalmente definido. O presidente Lula enfrenta obstáculos para fechar acordos com seus tradicionais aliados, o PCdoB e o PSB. Esses partidos reclamam de vetos do PT a seus candidatos majoritários em vários Estados, e ameaçam não formalizar o apoio ao presidente. Os demais aliados – PTB, PP, PL e PMDB – dividirão seus palanques regionais entre ele e Alckmin.

A definição do vice na chapa de Lula também será adiada. O nome do vice não será anunciado no sábado, embora a expectativa é de que permaneça o atual vice, José Alencar, pelo PRB.

Na hipótese de que PCdoB e PSB decidam apoiá-lo apenas informalmente, Lula terá pouco mais de cinco minutos na campanha pela TV. Ou seja, os outros 14 minutos de cada programa serão da oposição, dos quais quase nove minutos para o candidato tucano.
Alckmin, que disputará pela coligação PSDB-PFL, terá o maior tempo no horário de propaganda do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O PPS decidiu apoiar o tucano, embora sem formalizar a aliança, o que dará liberdade para as coligações diferentes nos estados. O apoio dos neo-alckmistas liderados pelo deputado Roberto Freire (PE) será nacional, com garantia de "participação" nas decisões da campanha.
Cristovam Buarque terá apenas o PDT; Eymael, o PSDC e Heloísa Helena, além do seu PSOL, o PSTU e o PCB, legenda dissidente da facção comunista que fundou o PPS. A candidatura do ex-deputado Luciano Bivar pelo PSL foi a principal surpresa na reta final das convenções partidárias.
As candidaturas de Cristovam Buarque e Heloísa Helena prejudicam a candidatura Lula e beneficiam a oposição. Apesar de registrar pequenos percentuais de intenções de voto nas pesquisas eleitorais, eles tiram votos no campo da esquerda ideológica, que tradicionalmente vota no PT, o que pode provocar um segundo turno.

Consulta plebiscitária

Segundo os analistas políticos, a eleição presidencial está ganhando contorno plebiscitário e só não será definida no primeiro turno se a candidatura de Heloísa Helena (PSOL) tiver um forte crescimento. "A partir dos resultados que temos hoje, Heloísa Helena vai ter de crescer muito para que a definição fique para o segundo turno", afirma a diretora de opinião pública do Ibope, Márcia Cavallari em entrevista à Agência Estado.

Outros analistas consultados compartilham desta avaliação e afirmam que a disputa, centrada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), ganhou o caráter de plebiscito. A tendência foi ainda mais reforçada no último final de semana, quando o pré-candidato do Prona, Enéas Carneiro, desistiu da disputa por problemas de saúde.

"Ter menos candidatos aumenta a chance de uma definição da eleição já no primeiro turno", argumenta a diretora do Ibope. Em 2002, seis candidatos disputaram a presidência da República. Na eleição de 1998, foram 12. Antes, em 1994, havia oito candidatos. E, na primeira eleição presidencial após o regime militar, 24 candidatos disputaram o Planalto. "À medida que há menos candidatos, a polarização entre Lula e Alckmin é reforçada, o que está dando esse caráter de plebiscito à eleição", diz o analista político Murilo Aragão, da Arko Advice, de Brasília.

O cientista político Bolívar Lamounier pondera que, com a possibilidade de reeleição nos cargos executivos para um segundo mandato, toda eleição adquire "certa tonalidade plebiscitária". Quando olha para o resultado da última pesquisa Ibope, em que Lula tem 48% das intenções de votos e Alckmin, 19%, Lamounier diz que a disputa não é "plenamente plebiscitária" porque não há concentração das atenções dos eleitores em uma única questão.

De acordo com ele, as denúncias de corrupção não estão no centro do debate. "Lula está se beneficiando muito da situação econômica favorável e dos gastos governamentais, diluindo a polarização", afirma.

Fiel da balança

Assim como a diretora do Ibope e Aragão, Lamounier acredita que Heloísa Helena pode ser "o fiel da balança" para levar a eleição para o segundo turno. "Por enquanto, essa situação é imprevisível", pondera. Na última pesquisa Ibope, divulgada no dia 13, a candidata do PSOL recebeu 6% das intenções de voto.
No resultado detalhado da pesquisa, Heloísa Helena tem 11% entre os eleitores com maior instrução, que representam 11% do total do eleitorado. Ela é mais forte entre as mulheres, com 7% do total, contra 5% das preferências dos homens. Entre o eleitorado com renda mais alta, Heloísa Helena recebeu 6% das intenções de votos.
Mas há fatores que podem pesar contra a candidata, alerta Aragão. "O que pode alavancar Heloísa Helena pode também ser seu próprio veneno", argumenta, referindo-se ao fato de que a candidata é simultaneamente anti-Lula e anti-PSDB.
A partir da experiência da eleição presidencial passada, a diretora do Ibope alerta que mesmo se Heloísa Helena dobrar suas intenções de votos, de 6% para 12%, o segundo turno não está garantido. No primeiro turno da eleição de 2002, enquanto Lula teve 46,44% dos votos e José Serra (PSDB) recebeu 23,20%, outros dois candidatos asseguraram o segundo turno.
 
Juntos, Anthony Garotinho (PDT), com 17,87% dos votos, e Ciro Gomes (PPS) com 11,97% , reuniram 29,84% da votação válida. "É difícil chegar a esse patamar", diz Márcia Cavallari, sobre a votação conjunta de Garotinho e Ciro, na eleição passada.

Entressafra de liderança

A cláusula de barreira e a verticalização são as primeiras explicações citadas pelos cientistas políticos para número reduzido de candidatos competitivos. Lamounier acrescenta ainda: "O Brasil está vivendo uma entressafra de lideranças, simplesmente não há candidatos de peso à vista. Os partidos vão de mal a pior, nem a função de produzir lideranças eles estão conseguindo cumprir".

O crescimento da candidatura Lula nos últimos meses foi outra justificativa dada por Aragão para redução do número de candidatos. "À medida que o quadro eleitoral estivesse embolado, estimularia a disputa", cita, ponderando ainda que o PSDB ocupou o papel de líder ideológico da oposição, limitando ainda mais a disposição dos partidos de disputar o Planalto.

Com agências