“Ânsia neoliberal” causou colapso da Varig, diz pesquisadora

A “ânsia neoliberal do mercado livre” está na raiz das dificuldades da aviação brasileira, que acarretam agora a crise da Varig, depois de alijar do mercado a Vasp e a Transbrasil A opini&atilde

Segundo ela, ao mesmo tempo em que abriu o mercado, o governo, à época, congelou o preço das passagens aéreas, o que fez com que as empresas não pudessem mexer nas tarifas mesmo na baixa temporada. "Nesse ambiente, as empresas desaprenderam o negócio, acumularam prejuízos por anos seguidos, não só em função da perda de tarifas aéreas, mas de distorções que geraram oportunidades de má gestão", disse. "Depois, as companhias pediram ressarcimento do prejuízo líquido, ganharam as causas, mas o governo nunca pagou".


“Aviação civil é soberania nacional”


A má gestão é um dos fatores apontados pela pesquisadora como causa da crise da Varig. Ela lembrou, porém, que a companhia não é a primeira ser afetada por problemas de gestão: a Vasp e a Transbrasil já saíram do mercado por causa disso.

Para Heloísa Pires, o governo federal deveria ter evitado que a Varig chegasse a uma crise tão aguda. "Ele teria que ter evitado essa situação, porque a aviação civil é um poder concedente, é segurança e soberania nacional. Não é como no mercado livre, em qualquer outro tipo de negócio", observou."Ele já tinha que ter tirado a concessão e decretado a falência".

A inoperância da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nesse processo tem prejudicado os consumidores, opina a pesquisadora. "Ela não se manifestou com relação à proposta feita pela NV, deixou isso para o poder Judiciário", disse, referindo-se à empresa NV Participações que, como representante dos funcionários da Varig, fez a única oferta pela companhia aérea no leilão do dia 8 de junho.

Heloísa Pires disse que, na eventualidade de um novo leilão, não deve ter novos investidores interessados pela Varig. Segundo ela, não há vantagens para as empresas que já operam no mercado disputar a companhia aérea: basta que elas absorvam as rotas que são concedidas pela Anac. "Se houvesse empresário no país com interesse, ele já teria entrado no mercado. Não ficaria esperando uma situação dessas porque o que vem ocorrendo já deteriorou o nome e a imagem da Varig".


Rotas podem passar a empresas de fora


Para a estudiosa, a perspectiva imediata é das rotas internacionais no Brasil serem operadas por empresas de fora. "Durante algum tempo, o mercado internacional vai continuar sendo explorado por empresas de outras nações. Talvez a gente até passe por um momento de diminuição de rotas”.

Os acordos bilaterais firmados entre o Brasil e outros países para esse tipo de vôo continuam em vigor apesar da crise da Varig, esclarece a pesquisadora. Com a Varig obrigada a suspender vôos vôos, as empresas estrangeiras têm o direito de exercer os acordos em sua "plenitude", desde que tenham capital para implementar as rotas. Com isso, os brasileiros serão "obrigados a voar em aviões de bandeira não-nacional", prevê ela.

Porém Heloísa Pires vê essa contingência como superável, com a tendência a uma retomada das rotas internacionais por empresas brasileiras. “Dependendo da quantidade de recursos que essas empresas tenham e de sua capacidade administrativa, isso pode se regular em um espaço de tempo relativamente curto", estimou.

Com informações
da Agência Brasil