Lula prega a Revolução Bioenergética

Por Bernardo Joffily

“O que vocês fizeram na Petrobras é uma revolução de grandeza incomensurável para o século 21, na área de combustível”, garantiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta ter

O H-Bio é um novo tipo de óleo diesel, resultante da mistura de óleos vegetais (de soja ou outros) com petróleo. A Petrobras testou a mistura direta do diesel com óleo vegetal, seguida de refino: deu um diesel de melhor qualidade que o atualmente produzido no Brasil, que tem muito enxofre.


O evento de terça-feira marcou o início do teste em escala industrial. A previsão é de que a unidade de Araucária comece a funcionar em 2007 e produza 100 milhões de litros de biodiesel ao ano. No processamento do combustível serão usados a soja, o girassol e a canola cultivados por 4 mil agricultores familiares. O Paraná foi escolhido por ser hoje o segundo maior produtor brasileiro de soja, insumo que o governo deseja vincular ao biodiesel no Centro-Sul assim como fez com a mamona no Nordeste.


Faz sentido falar em revolução?


Faz sentido o Brasil enveredar por este terreno nunca dantes percorrido, logo agora que alcançou a auto-suficiência em petróleo, produzindo mais do que consome? Não, talvez, para quem enxergue a próxima década. Mas sim, com certeza, para quem descortine todo o século.

Também faz sentido se falar em revolução. Não uma revolução na superestrutura sócio-política. Mas sim uma revolução na base econômica, nas forças produtivas, como foi a Revolução Industrial do século 19 e como tem sido a Revolução Informática ddesde o último quartel do século 20. Desta vez, será a Revolução Bioenergética.


O complexo etanol-biodiesel


Lula recordou que “em 1975, na Universidade Federal do Ceará, um cientista chamado Expedito Parente criou o biodiesel”. A época coincide com o Proálcool do general Ernesto Geisel, e Lula fez uma autocrítica, lembrando que “todos nós fomos contra, porque dizíamos que ajudava só usineiro e não sei das quantas, […] e hoje nós estamos quase que convencendo o mundo inteiro de que o etanol pode ser uma alternativa extraordinária para que os carros transitem pelo mundo afora”, propondo “que o biodiesel se transforme nessa coisa que foi o Proálcool ou um pouco maior”.

O etanol e o biodiesel, tomados em conjunto e vistos em perspectiva, podem hoje, bem mais que nos anos 1970, servir de base para uma Revolução Energética. “Uma revolução, possivelmente, ainda não compreendida com a dimensão que ela tem que ter”, como observou o presidente, mas cuja ficha vai caindo, no Brasil e no mundo.


O começo do fim do petróleo


O fato é que, segundo os especialistas, a era do petróleo iniciou neste início de século a sua fase descendente. Como disse um anuncio publicitário do grupo norte-americano Chevron Texaco, foram necessários 125 anos para que o mundo consumisse o primeiro trilhão de barris de petróleo, mas serão necessários apenas 30 anos para que se consuma o segundo, o que corresponde ao total das reservas comprovadas. É o que verbalizou o texano George W. Bush, em janeiro, ao chamar seu país a "ir além do petróleo". Ou o francês Jacques Chirac, em abril, ao situar como como a grande questão do século a "necessidade de preparar-se para a era pós-petróleo".

A escalada dos preços do óleo no mercado mundial são reflexos, provavelmente ainda preliminares, do novo cenário. Este pode também sofrer alterações bruscas – por exemplo, se a resistência contra a ocupação americana travar de vez a produção do Iraque, hoje equivalente à brasileira (1,8 milhão de barris diários); ou, mais ainda, se os EUA levarem até o fim o seu ultimato contra o Irã, e este responder usando a arma petrolífera, como advertiu o aiatolá Ali Khamenei.


A bioenergia como alternativa


Se e quando o petróleo escassear, a alternativa imediata é o gás natural, que já vem aumentando a sua fatia na matriz energética mundial. O gás, porém, é também um combustível não-renovável e daria apenas alguma sobrevida ao mundo movido a hidrocarbonetos.

Há outras alternativas sendo intensamente pesquisadas – energia eólica, solar e outras. Estas, porém, são inviáveis no atual estágio tecnológico devido ao custo-benefício.


Janela de oportunidade para o Brasil


Neste quadro, preocupante e potencialmente dramático, abre-se uma janela de oportunidade para as regiões do mundo ricas em terras, sol e água, entre as quais, com destaque, o Brasil.
 

A janela surge de uma circunstância que nos anos 1970 mal começava a engatinhar mas hoje avança aceleradamente: as inovações tecnológicas na agricultura (que alguns chamam também revolução, a “Revolução Verde”). Estas permitiram que o Brasil, antes um produtor agrícola de manchas férteis (massapê, terra roxa), passasse a produzir em amplíssima escala em áreas como o cerrado do Planalto Central.

A aposta do governo Lula – com um importante papel para a ministra Dilma Rousseff, desde que ocupava a pasta das Minas e Energia – é convencer o mundo disto. E passar a vender ao mundo inteiro bioenergia, renovável e ambientalmente correta. Se conseguir, será mesmo uma revolução, a primeira em que o Brasil, longe de chegar atrasado, terá um papel pioneiro.