EUA espionaram dados bancários de milhares de pessoas

Sob ordens do governo dos EUA, espiões das agências de espionagem do país examinaram transações financeiras de milhares de pessoas após os ataques de 11 de setembro de 2001, informou nesta sexta-feira uma reportagem do jornal am

O jornal diz que a espionagem teria se concentrado em americanos e estrangeiros considerados pelo governo suspeitos de ligação com a suposta organização terrorista al-Qaida.

O New York Times comenta que o programa era considerado pelo governo Bush como um "instrumento vital na investigação antiterrorista". Segundo o governo, a espionagem das contas de milhares de americanos teria ajudado a capturar um membro da al-Qaida no sudeste asiático, Riduan Isamuddin Hambali, suposto agente dos atentados de 2002 no balneário de Bali.

A quebra de mais um dos direitos fundamentais dos cidadãos dos Estados Unidos é encarada pelos funcionários do governo com absoluta normalidade. Para Stuart Levey, subsecretário do Departamento do Tesouro, o programa "proporcionou uma poderosa janela para as operações de redes terroristas e foi, sem dúvida nenhuma, um uso legal e adequado da autoridade", alegou.

O programa é baseado em parte nos poderes econômicos de emergência do presidente, disse Levey, e "múltiplas salvaguardas" foram impostas para quaisquer buscas sem mandado de dados americanos.

Mas o programa representa um abandono da prática típica para obtenção pelo governo de registros financeiros de americanos. Autoridades do Tesouro não pediram mandados individuais aprovados pela Justiça ou intimaram a verificação de transações específicas, mas sim empregaram intimações administrativas para a obtenção de milhões de registros de uma cooperativa belga conhecida como Sociedade para a Telecomunicação Interbancária Mundial conhecida como SWIFT.

Segundo ele, o programa foi concebido pela CIA (agência de inteligência americana) e supervisionado por seu departamento. A lei permitiria a espionagem apenas com ações legais tomadas pelo governo, o que não foi feito. Fontes do governo pediram ao jornal que não publicasse o artigo, para não "prejudicar a eficiência" da espionagem.

Bill Keller, diretor-executivo do New York Times, diz que "o extraordinário acesso da administração a este vasto depósito de dados financeiros internacionais é um assunto de interesse público".

"A capacidade aqui é impressionante ou, dependendo do seu ponto de vista, preocupante", disse um ex-alto funcionário de "contraterrorismo" que considera o programa valioso. "Apesar de controles rígidos estarem em vigor", acrescentou o funcionário, "o potencial para abuso é enorme".

O programa está separado dos esforços da Agência de Segurança Nacional para grampear e coletar sem mandado registros telefônicos domésticos, operações que provocaram grande debate público e provocaram ações na Justiça contra o governo e as empresas de telecomunicações.

Mas todos os programas surgiram do desejo do governo Bush de explorar as ferramentas tecnológicas para impedir outro ataque terrorista, e tudo reflete tentativas para romper antigas barreiras legais ou institucionais ao acesso do governo à informação privada de americanos e outros dentro dos Estados Unidos.

Os funcionários descreveram o programa SWIFT como o maior e mais abrangente de vários esforços secretos para rastrear o financiamento dos terroristas. Acordos mais limitados com outras empresas forneceram acesso a transações de caixas eletrônicos, compras com cartão de crédito e transferências de dinheiro pela Western Union, disseram os funcionários.

Quase 20 atuais e ex-funcionários do governo e executivos do setor discutiram aspectos da operação SWIFT com o New York Times sob a condição de anonimato, porque o programa permanece confidencial. Alguns destes funcionários expressaram reservas ao programa, dizendo que o que viam como uma medida urgente, temporária, se tornou permanente sem qualquer aprovação específica do Congresso ou autorização formal, quase cinco anos depois.

O secretário do Tesouro, John Snow, lamentou a divulgação do programa. "É um instrumento essencial na guerra contra o terrorismo, baseado na autoridade legal e com salvaguardas e supervisão efetivas", alega.

Após os atentados de 11 de setembro o governo dos EUA reuniu todos os parentes de Osama bin Laden e permitiu que eles deixassem o país sem que fosse feita nenhuma investigação. As contas investigadas pelos espiões americanos não são somente contas pessoais. De acordo com o jornal, existem contas que pertencem a organizações não governamentais.