“Escravo, nem pensar!” vão ensinar os alfabetizadores de adultos

"Gato" é o nome que se dá aquele que alicia mão-de-obra para o trabalho escravo nas fazendas, conhecido também como empreiteiro. E "doutor da enxada" é como se chama o peão que usa bem a enxada e

Eles estão recebendo o almanaque "Escravo, nem pensar!", produzido pelo Ministério da Educação (MEC), em parceria com a ONG Repórter Brasil e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A coordenadora pedagógica do Departamento de Educação de Jovens e Adultos do MEC, Maria Margarida Machado, diz que o almanaque é uma contribuição para ampliar as informações sobre o problema, esclarecer os trabalhadores e incentivar as denúncias.

O almanaque, com roteiro dividido em três partes, conta a história de Julião, trabalhador que é aliciado para um serviço em uma fazenda, mais tarde foge e denuncia o problema ao sindicato dos trabalhadores rurais. O sindicato, diz a história, leva o caso aos fiscais do trabalho. A propriedade é vistoriada e o fazendeiro multado.

Por meio do personagem, o almanaque traça, de forma objetiva, a trajetória do trabalho escravo no desmatamento de florestas para a produção de pastos e lavouras nas regiões Norte e Centro-Oeste. Informa as precárias condições de alimentação, higiene e hospedagem, a dívida nas cantinas e como o trabalhador deve agir para não cair nas promessas dos aliciadores, como e onde denunciar.

Para Margarida Machado, os alfabetizadores serão grandes parceiros nesta conscientização, pois eles têm contato direto com trabalhadores dos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins, locais onde mais aliciam mão-de-obra, até Mato Grosso e Pará, onde se registram os maiores índices de escravidão.

Números

No material, o alfabetizador vai encontrar as entidades e os telefones em cada estado onde podem ser feitas denúncias do trabalho escravo; informações sobre onde ele mais ocorre; sugestões de atividades para a sala de aula; e lista de termos usados nesta relação criminosa de trabalho.

O almanaque leva aos alfabetizadores informações sobre a realidade brasileira. Entre elas, que, de 1995 até outubro de 2005, cerca de 17 mil pessoas foram libertadas do trabalho escravo por grupos móveis de fiscalização formados por fiscais do Ministério do Trabalho, Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho; e que no período 1995/2005, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou 32 mil denúncias, em 19 estados.

O Pará está em primeiro lugar, com mais de 15 mil denúncias, seguido por Mato Grosso; e que a criação de gado é a principal atividade de 80% das fazendas com o nome publicado na lista suja do governo federal.

Fonte: MEC