Lula liga para Parreira e manifesta solidariedade à seleção

Logo após o término do jogo do Brasil com a França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou para o técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, na Alemanha. Na conversa, o presidente expressou a sua s

O técnico Parreira disse que não esperava sair da Copa antes da final. "Tenho que ser sincero. É muito difícil e duro sair neste momento, bem próximo da semifinal. Nem eu, nem ninguém, estava preparado para sair da competição antes da final. Mas temos que encarar a derrota", declarou o técnico em entrevista coletiva após eliminação da equipe por 1 a 0 para a França nas quartas-de-final, em Frankfurt, neste sábado.

Parreira afirmou ainda que não está arrependido das decisões que tomou. "Não há o que se arrepender, porque fiz tudo que queria fazer. Sempre disse isso, independente do resultado final, iríamos atuar da maneira que desejássemos", comentou o treinador, que é adepto do futebol resultado ao invés do show. "Assumo os erros. Quando uma equipe sai vencedora, é talento dos jogadores. Mas quando não ganha, a culpa é do treinador. O roteiro já estava preparado", acrescentou.

Apesar da derrota por 1 a 0, que ocasionou a eliminação do Brasil, o comandante disse que já sabia como a França iria atuar. "O modo como eles atuaram não me surpreendeu. Sabia que viriam com nove jogadores atuando atrás e dificultando as nossas investidas, como já haviam feito contra a Espanha (vitória por 3 a 1, nas oitava-de-final). O time deles tem paciência para defender e não se apressam para atacar. O problema foi que cedemos muito espaço no campo de defesa", analisou.

Segundo Parreira, as jogadas aéreas foram fundamentais para o resultado do confronto. "As jogadas de bola parada acabaram decidindo o jogo. O Zidane é um especialista nisso. Eles também abusaram do lançamento longo para o Henry. Mas só acabaram conseguindo (o gol) num erro nosso".

Sobre as alterações ao longo do confronto, o treinador defendeu o esquema adotado – mesmo perdendo, ele demorou para alterar o time. "Não faltaram homens de frente. O Robinho vinha de uma contusão, não havia chutado uma bola. Embora tivesse sido liberado pelo departamento médico, era complicado começar jogando. As substituições foram acertadas, só não tiveram efeito por causa da postura da França, que estava com nove homens atrás da linha de bola", justificou.

Ele, no entanto, admitiu que a seleção brasileira não apresentou seu melhor futebol. "Nos defendemos muito. A equipe que vimos hoje não é a que esperávamos. O ataque sempre teve muitas dificuldades em todas as partidas porque as equipes que enfrentamos só se preocupavam em se defender e colocavam diversos jogadores atrás".

Carlos Alberto Parreira também reconheceu que a preparação para a competição não foi a ideal. "Faltou mais preparação, mais parte física, mais entrosamento. Essa equipe jogou muito pouco. Só um jogo amistoso em oito meses (contra a Rússia, em Moscou). Esperávamos que o time crescesse ao longo da competição".

Repercussão

A atuação apática do Brasil e a eliminação para a França nas quartas-de-final repercutiu entre técnicos e jogadores brasileiros.

Confira algumas opiniões sobre o desempenho da seleção na Copa da Alemanha.

Rene Weber, técnico – Estou muito triste com essa eliminação na Copa do Mundo. O Brasil não entrou em campo. A seleção brasileira jogou pior do que aquela que perdeu em 98 e foi superada pela qualidade da França. Mas o Brasil poderia ter vencido e permitiu que os franceses jogassem o que sabem. Isso vai servir de aprendizado. Não adianta reunir um grupo de astros se ninguém correr em campo. O Brasil não teve força e não pressionou o adversário, a não ser nos cinco minutos finais da partida. Agora é fazer uma análise de tudo e começar a pensar no trabalho a seguir. Alguns jogadores encerraram seu ciclo na seleção e é necessário que haja uma renovação nas laterais, por exemplo.

Valdir Espinosa, técnico – Acabou. O Brasil não jogou e não se encontrou em campo. Temos que aceitar que a França foi superior na técnica, na tática e na individualidade. Quando uma equipe é superior a outra nesses quesitos, o resultado é previsível. Isso aconteceu e a seleção brasileira teve que pagar o preço da eliminação da Copa do Mundo.

Marcos Paquetá, técnico da Arábia Saudita – Lamento a eliminação do Brasil da Copa do Mundo. O jogo foi entre duas equipes muito técnicas e acredito que a grande diferença foi que a França marcou mais do que a seleção brasileira. Os franceses souberam aproveitar um lance de bola parada e variaram mais as jogadas. Faltou vibração ao Brasil e muitos jogadores não apresentaram o seu futebol. As substituições foram bem feitas pelo técnico Parreira, mas a participação do time, em geral, não foi boa.

Leonardo Moura, lateral-direito do Flamengo – O Brasil não jogou nada e tive a impressão de que os jogadores acreditavam que podiam vencer a França a qualquer momento. Só que isso não aconteceu e a seleção foi eliminada da Copa do Mundo. Não houve uma marcação em Zidane e deixar um jogador de tanta criatividade livre pode ser fatal.

Edílson, atacante do Vasco – O Brasil jogou mal diante da França, assim como jogou durante toda a Copa do Mundo. Não seria justo apontar um culpado, porque não houve. Todos tiveram a sua parcela de culpa nessa eliminação. O grande problema do Brasil foi a fase preparatória. A seleção deveria ter feito mais amistosos e contra equipes mais fortes para exigir mais dos jogadores. A partir de agora é hora de repensar tudo e fazer renovação em várias posições. Vamos tirar lições do que aconteceu para não voltar a cometer erros.

Gérson, campeão mundial em 1970 – A seleção parecia um circo. Era uma máscara só! Um buscava um recorde, o outro queria levantar a taça mais vezes. Na realidade o Brasil não jogou nada. Para ser campeão do mundo não basta ter talento, tem que ter vontade. Tem que ter aquilo roxo!

Osvaldo Alvarez (Vadão), técnico – Foi simples: o Brasil jogou muito mal. A França praticou um futebol moderno, com muita marcação, e o Brasil ficou parado em campo. Agora as pessoas vão querer colocar a culpa no Parreira. Espera aí, o estilo do Parreira foi sempre esse! Ele é um treinador contido, calmo. Ele não teve culpa de nada pela derrota do Brasil nessa partida. O Ronaldinho Gaúcho, por ser o melhor jogador do mundo, jogou muito mal. Ele até foi participativo, correu, pediu a bola, mas não criou nada, não chutou a gol. Jogou muito mal. O ataque brasileiro criou muito pouco. O Kaká não fez nenhuma jogada de fundo. Não abriram o jogo.

O Zidane, que é um dos jogadores mais velhos e está se aposentando, fez uma partida perfeita. Não errou um passe. Kaká, Ronaldo e Ronaldinho, que são muito mais jovens, não foram bem.

Nelsinho Baptista, técnico – O Brasil jogou muito mal, os jogadores não demonstraram atitude. Não se pode falar de esquema tático, comissão técnica, treinador, nada. Os jogadores se omitiram. Dava para ver pela morosidade dos jogadores durante os treinos. Acho que eles estavam achando que poderiam resolver tudo a hora que bem entendessem. De forma alguma o Parreira pode ser considerado culpado pelo que aconteceu. Você não pode culpar o treinador. Individualmente, os jogadores não fizeram um bom futebol. Do Dida até o último homem, todos têm muita qualidade, mas não foram bem nessa Copa. O Ronaldinho Gaúcho, que é considerado o melhor do mundo, não deu um chute a gol em cinco partidas na Copa! Ele foi omisso.

Os laterais também deveriam ser outros. Eles nem deveriam ter sido escalados para essa partida contra a França.

Vagner Mancini, técnico – A França mereceu ganhar, até porque o Brasil não jogou nada. Foi muito justo o resultado. O fundamental hoje seria uma mudança de atitude. Talvez uma mudança de peças no intervalo também ajudasse. As mudanças ocorreram tardiamente. O Zidane jogou os 90 minutos como quis… e quando você deixa isso acontecer, você está pedindo para perder o jogo. Nessa hora vão falar qualquer coisa (sobre a suposta falta de vibração do Parreira). A atitude da seleção de um modo geral, os jogadores que entraram em campo e os que sentaram no banco, inclusive a comissão técnica, foi muito passiva. A vitória sobre o Brasil deixa a França muito mais confiante, muito mais forte. Há muito equilíbrio (entre as equipes que estão nas semifinais). A que chega melhor é justamente a França.
 

Zetti, treinador e goleiro campeão em 1994 – A França jogou com muito mais garra e vibração do que nós. Geralmente todos se perguntam por que o Brasil perdeu. Será que não foi a França que derrotou o Brasil? Marcou forte, fechou o meio-campo e neutralizou as principais jogadas do Brasil, que eram com Ronaldinho e Kaká.

Nós ficamos estáticos e, de repente, numa bola parada acabou saindo o gol.

A França abafou o brilho do Brasil com um esquema tático perfeito. A diferença foi o espírito de luta dos jogadores franceses. Eu acho que, quando perde, perde o grupo e, quando ganha, ganha o grupo também, não adianta buscar responsáveis.

Faltou, talvez, uma liderança dentro de campo, como foi o Zidane para a França.

O duro é saber que se é melhor, mas só é o melhor quem consegue a taça.

Vejo a Alemanha com grande possibilidade e vou torcer para Portugal. Luiz Felipe Scolari mudou a história de uma seleção européia, mostrou que eles podem ser parecidos com o Brasil.
 

Ânderson Polga, campeão do mundo em 2002 – A seleção não fez uma boa partida, a França tomou conta do jogo, soube marcar e jogar e mereceu o resultado. O Brasil poderia apresentar algo muito melhor nessa Copa o que não aconteceu.

O Zidane fez uma excelente partida e a seleção foi muito infeliz nesta Copa. Não acertamos nenhum fundamento do futebol. Colocamos uma expectativa no quadrado mágico e as coisas no futebol não são tão fáceis assim como se pensa.

Athirson, jogador do Bayer Leverkusen – Todos que vivem do futebol estão tristes com a eliminação, ainda mais do jeito que saiu dessa Copa. Se agredisse o adversário e tivesse brigado com a França, seria uma eliminação melhor. O Brasil não conseguiu agredir, chutar. A França marcou muito bem e o Zidane foi fundamental. O Parreira não deveria ter mexido no time. Vinha jogando com um time e mudou numa partida decisiva. Os dois laterais tinham que estar lá pelo que representam e pelo talento.
 

Jairzinho, campeão mundial de 1970 – Perder é natural, agora, do jeito que perdeu não é natural. Foi um time apático e desinteressado.

Jair Pereira, técnico – O time não jogou bem desde o início, havia uma desconfiança e uma cobrança muito grande por uma atuação melhor. Quando o time pegou uma seleção forte, deu no que deu.