Uma leitura, além das notícias – Balanço Político no PR

Milton Alves e Esmael Morais fazem uma avaliação conjuntural das eleições no Estado do Paraná.

Uma leitura, além das notícias

Milton Alves e Esmael Morais*

O balanço político das alianças formadas no Paraná é, no mínimo, a reprodução da confusão nacional provocada pelas regras eleitorais a partir da confirmação da verticalização pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Formaram-se quatro blocos partidários representados pelo: 1) PT, PL, PCdoB, PAN, PHS e PRB; 2)  PPS e PFL; 3) PDT, PSB, PSC, PTB e PP; e PMDB e PSDB, do governador Roberto Requião. (O PSDB está completamente dividido, embora tenha indicado o vice de Requião, e com a situação sub judice).

Outras quatro chapas com pouca densidade eleitoral também se apresentam à disputa. São nomes desconhecidos do grande público e até mesmo da frente política, mas, que terão direito e acesso ao horário eleitoral gratuito. Dentre elas, o bloquinho formado pelo PSol, PSTU e PCB se destaca dos demais.

A candidatura do senador petista Flávio Arns tenta reproduzir os apoios que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu nacionalmente, mas ficou com uma certa “marca” sectária em virtude de constantes embates da direção do PT paranaense com o governador Requião, que desde a campanha de 1989 vem votando e apoiando Lula. O PT poderia ir além e ampliar o palanque pela reeleição do presidente, mas preferiu a distância do governador peemedebista.

O ex-deputado federal Rubens Bueno, do PPS, buscou se forjar como o representante da oposição. Ele aproveitou enquanto pôde a indefinição do senador pedetista Osmar Dias, que titubeava em confirmar sua candidatura por causa do lançamento de Cristóvão Buarque à presidência. Bueno surfou no vácuo, mas o preferido e o ungido pela direita foi mesmo Osmar, que vem a ser o irmão do vice-presidente nacional do PSDB, o também senador Álvaro Dias. Os irmãos Dias contam com o apoio do ex-governador Jaime Lerner, que é responsabilizado pela sociedade civil organizada de ter quebrado financeiramente o Paraná (além de ter privatizado rodovias e outros ativos dos paranaenses).

Nesta confusão absoluta de legendas, o governador Roberto Requião meteu sua colher. Fitou o tempo todo com os partidos de oposição a seu governo com o intuito de paralisá-los e dividi-los. Ao mesmo tempo, tentou atrair formalmente o PSDB para a vice. Mas a direção nacional vetou tal composição, haja vista que Requião nunca confirmara apoio ao tucano Geraldo Alckmin e, paralelamente, o governador sempre manteve uma relação próxima a Lula.

PMDB e PSDB de fato celebraram a coligação, mas o “casamento” corre o risco de ser desfeito pela justiça eleitoral.

 

A posição dos comunistas

Desde o início das discussões eleitorais, o PCdoB vinha discutindo a ampliação do palanque de Lula no Paraná. Defendeu a formação de uma ampla coalizão para reeleger o presidente e o governador Requião. Infelizmente, tal fórmula não prosperou no primeiro turno. A expectativa é de que as forças democráticas e populares se unam num virtual segundo turno para radicalizar as mudanças em curso no Brasil e no Paraná.

O PCdoB está na coligação liderada pelo senador petista Flávio Arns e indicou o arquiteto Nereu Ceni, dirigente partidário e ex-vereador em Pato Branco, para disputar a primeira suplência do Senado Federal. Mas, concomitantemente, o Partido mantém a participação no governo Requião. Trata-se de um mesmo campo que taticamente se desmembrou em duas candidaturas, mas que comunga de ideais e projetos próximos.

Requião ainda está fora de palanques nacionais, mas tende a reforçar a oposição ao neoliberalismo que ainda vigora em certos setores da economia nacional. E, neste sentido o PCdoB faz a ponte do governador com o campo político de Lula no Paraná. O Partido luta para assegurar a unidade das forças progressistas em torno da perspectiva do avanço das mudanças com a reeleição do presidente Lula e eleger, no Paraná, parlamentares comunistas para a Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados.

 

* Milton Alves é membro do Comitê Central do PCdoB. Esmael Morais é jornalista em Curitiba.