Crianças israelenses brincam com artilharia

Na última segunda-feira (17/7), um fotógrafo da agência Associated Press foi escalado para fotografar uma unidade de artilharia do exército israelense em ação, localizada em Kiryat Shmona. O trabalho de Sebastian Scheiner revelou ao mundo imagens de al

''De Israel, Daniele'', lê-se em um dos obuses. As crianças escreveram as mensagens enquanto eram observadas por um soldado postado sobre um veículo de artilharia. Uma outra mulher circula pela área, com um sorriso. A mídia não fez qualquer comentário a respeito da suposta atitude belicosa dessas crianças ou de seu uso por ''elementos terroristas'', como costumam fazer os comentaristas da grande mídia em relação aos garotos palestinos que brincam com armas de brinquedo.


 


A máquina de propaganda israelense e de seu exército reforça a imagem do suposto uso de crianças por parte da resistência palestina. Em abril de 2004, as forças de defesa de Israel anunciaram a detenção de um garoto palestino de 16 anos, de Nablus, que portava um colete recheado de explosivos atado ao corpo. Uma semana antes, os soldados israelenses teriam descoberto um garoto de 11 anos que, aparentemente sem saber o que fazia, tentava levar uma bomba em uma bolsa até um posto de revista policial, como alegaram os israelenses.


 


As autoridades israelenses bateram na tecla de que os palestinos utilizam indiscriminadamente crianças e adolescentes para ataques terroristas, incluindo as ações suicidas a bomba. Para gáudio de seu público, os israelenses afirmaram com orgulho que as ações que prenderam essas crianças refletem o sucesso das medidas de segurança draconianas adotadas por Israel.


 


Palestinos e israelenses, incluindo grupos palestinos que realizam as chamadas ''missões de martírio'', condenaram ambos os incidentes. E os líderes palestinos também questionaram as alegações dos israelenses, informando que o garoto com o colete repleto de bombas faria parte de uma operação enganosa montada pelos militares judeus para atrair simpatias e desviar as atenções mundiais do então recente assassinato por Israel do líder do Hamas, o xeque Ahmed Iassin.


 


A vida de uma criança ou adolescente palestino na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia é extremamente perigosa e não tem valor algum para as forças de ocupação. Em quase seis anos de intifada, o levante contra a ocupação israelense do território palestino, mais de 500 crianças e adolescentes palestinos foram assassinados na luta, mais da metade deles com menos de 15 anos de idade, segundo o Grupo de Monitoramento dos Direitos Humanos, uma organização palestina. Segundo o grupo, cerca de 92 jovens israelenses com menos de 18 anos também morreram devido à violência. Mais de 3.800 palestinos e 900 israelenses foram mortos desde a erupção do conflito em setembro de 2000.


 


Agora, em nove dias de conflito morreram 311 libaneses e 31 israelenses. Cerca de 45% dos libaneses mortos são crianças — inclusive uma brasileira. Mais de mil pessoas ficaram feridas. O ministro da Defesa do Líbano, Elias Murr, advertiu que se houver invasão, suas forças vão entrar no conflito.


 


Dois dias depois das garotas escreverem mensagens nos obuses, Israel despejou 23 toneladas de bombas no que chamou de ''bunker'' do líder do Hezbolá, em Beirute. Até o momento é desconhecido o número de vítimas causadas pelo bombardeio.