Colapso na Rodada de Doha; Amorim fala em “desastre”

A Organização Mundial do Comércio (OMC) suspendeu nesta segunda-feira (24) as discussões e paralisou a chamada Rodada Doha. Para o chanceler brasileiro, Celso Amorim, o colapso das negociações que se arrastam há cinco anos “está muito perto do que se pode

Com o fracasso oficializado,”Isso é um grave retrocesso, um grande retrocesso” todos os encontros entre os ministros que estavam planejados para o mês, nos dias 28 e 29 próximos. Os otimistas falam um entendimento apenas para salvar a imagem da OMC, e ainda assim só para o fim do ano, ou 2007. Outros analistas apontam um curto-circuito que estenderá seus efeitos pelos próximos anos.



Impasse frustra Brasil e G20



Amorim, falando à AFP, reiterou que o fracasso nas negociações “é “Isso é um grave retrocesso, um grande retrocesso”. E agregou: “Eu não chamaria o momento de desastroso, mas a verdade é que esta situação é a mais próxima que podemos ter do desastre”.



O Brasil, um dos grande exportadores mundiais de produtos agrícolas, era também um dos maiores interessados numa liberalização dos subsídios agrícolas dos países ricos, que praticam o protecionismo. Para isso impulsionou em 2003 a criação do G20, uma aliança de países em desenvolvimento que passou a atuar articuladamente na OMC.



O colapso, porém, vai mais longe e põe em xeque os próprios fundamentos da Organização, criada no pós-Guerra Fria (em 1995) com a ambição de instituir os postulados do livre comércio no plano mundial.



Europeus culpam Washington



A União Européia (UE) culpou os Estados Unidos pelo fracasso das conversações do G6 neste fim de semana. O britânico Peter Mandelson, comissário europeu do Comércio, afirmou que Washington foi “incapaz” de mostrar flexibilidade nas negociações. “Os Estados Unidos não aceitaram nem reconheceram a flexibilidade mostrada por outros, e, conseqüentemente, foram incapazes de serem flexíveis na redução dos subsídios internos” à agricultura, afirmou Mandelson.



O impesse de domingo contraria explicitamente a vontade manifestada dias atrás pela cúpula do G8  (grupo dos sete países mais industrializados, mais a Rússia). Reunido em São Petesburgo, com o Brasil, China e Índia como convidados, o grupo tinha declarado, a intenção de que um acordo fosse fechado até meados de agosto.



EUA falam em “eqüilíbrio”



As negociações do G6 no domingo tiveram lances que sublinham a gravidade do fracasso. O francês Pascal Lamy, diretor da OMC, atuou como mediador. Todos concordaram que se manteria em sigilo as informações que fosse passadas de um ministro a outro. O encontro foi até transferido da sede da OMC para a missão dos EUA em Genebra, para evitar a presença de jornalistas.



Mas não se verificou a esperança de que a Casa Branca apresentasse uma proposta substancial de corte de subsídios. Washington em limitar o corte, US$ 22 bilhões para US$ 18 bilhões de subsídios agrícolas anuais. Tanto os europeus como o G20 consideraram os US$ 4 bilhões como insuficientes.



Os europeus, mantiveram a oferta anterior: corte de 39% – porém, anunciaram que acatariam um aumento de até 51%, porcentagem que foi repetida no domingo. Já o Brasil queria uma redução de 53%.



Os americanos também condicionaram a oferta a uma abertura maior dos mercados agrícolas da Índia e de outros países emergentes. A representante de Comércio da Casa Branca, Susan Schwab, alertou que, se não aceitassem, a culpa pelo fracasso seria transferida às autoridades de Nova Délhi. O ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, deixou claro que não se importava em ser acusado, já que não cederia.



Susan Schwab disse hoje à agência de notícias Associated Press que os EUA “estão comprometidos” com uma “rodada robusta, ambiciosa e eqüilibrada”. O conceito de “eqüilíbrio”, porém, privilegia os interesses dos fazendeiros americanos, que mantêm sob pressão a Casa Branca e o Congresso, que tem eleições este ano.



A conversa Lula-Bush


 


Os presidentes Lula e George W. Bush se reuniram bilateralmente em São Petersburgo e segundo transpirou 70% da conversa  foi sobre o futuro da OMC. “Quero um acordo grande”, disse o presidente americano, olhando para Lula.
Mas Bush deixou claro que queria concessões: “Vou pedir a vocês (Brasil) maior acesso a seus mercados. Mas estamos prontos a ceder também. Estou pronto para fazer mais”, teria dito.



Agora, porém, o jogo de pressões parece ter entrado em ponto morto. Não há mais negociações onde  pressionar — uma situação sem precedentes desde que a OMC foi criada.



Com agências