Captador de Alckmin na lista dos sanguessugas

Por Bernardo Joffily



A mídia grande trata com luvas de pelica a inclusão de Emerson Kapaz, arrecadador da campanha Geraldo Alckmin, na lista dos sanguessugas. Neste sábado, a Folha de S. Paulo noticiou, pudicamente, que “Baixas na

Poucos órgãos se deram ao trabalho de mostrar indignação. Mino Carta, no editorial “O naufrágio da ética”, da revista Carta Capital, diz que “o caso dos sanguessugas oferta o exemplo da hipocrisia senhorial”, pois, apesar da acusação contra Kapaz, “a mídia, salvo raras exceções, enxerga [o escândalo] como resultado da gestão petista”.



“Reportagem não-realizada”



No Observatório da Mídia, de Alberto Dines, outro órgão alternativo, Mauro Malin afirma que as acusações contra Kapaz, de participação na máfia das ambulâncias “são a matéria-prima da maior reportagem não realizada talvez em décadas no Brasil”. E esclarece:



“Kapaz saiu da iniciativa privada, passou pela Fiesp, participou da fundação do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE), foi secretário do governo Mario Covas, chegou à Câmara dos Deputados pelo PPS e era até ontem presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, além de conselheiro do Instituto Ethos e da Transparência Brasil. Se todas as pontas da história fossem juntadas, o Brasil teria o melhor retrato de seu atraso, a complexa articulação entre interesses privados e serviço público que gera burocracia e corrupção”.



Os figurões do jornalismo investigativo na mídia grande não se deixaram entusiasmar. E já fazem dez dias que o nome está na boca do povo – a partir, justiça se faça, da revista Veja –, com base no depoimento do empresário-mafioso Luiz Alberto Vedoin, da Planam.



“Houve esse depósito. Tá?”



É o caso então de começar a juntar algumas histórias sobre o captador que tanta falta faz no comitê Alckmin. De fato não falta matéria-prima.



Veja deu a notícia na edição que chegou às bancas no dia 22. Disse que Kapaz é “um dos nomes que mais chamam atenção na relação apresentada à Justiça por Vedoin é o do ex-deputado paulista pelo PPS Emerson Kapaz – tanto pela robustez das provas apresentadas contra ele quanto pelo espanto que causa a presença, numa lista como essa, de alguém que sempre foi um defensor da ética na política e no mundo empresarial”.



O dono da Planam contou que Kapaz apresentou emendas ao Orçamento destinando R$ 1,6 milhão para compra de ambulâncias em dez municípios, e apresentou à Justiça os números de dois cheques que teriam sido usados para pagar a propina ao então deputado, totalizando R$ 52 mil. Segundo Vedoin, Kapaz pediu a ele que o dinheiro fosse repassado por meio de uma operação triangular e transferido para cinco contas, entre elas a de Laura Mosiasson, sua mulher na ocasião mulher.
Laura Mosiasson confirmou: “V ocê e eu sabemos que houve. Houve esse depósito. Tá Bom?”, disse ela a Catia Seabra, na Folha de S. Paulo (26/7).



“Pelo que me lembro”…



No mesmo dia, Kapaz negava tudo: “Fui surpreendido. Sem a possibilidade de defesa, pois o processo corre em sigilo de justiça, quero desmentir qualquer intermediação com prefeitos em troca de benefícios ou negociações com a empresa citada. Desde já quero dizer que estou com a consciência tranqüila”, proclamou. Antes, Kapaz dissera a Veja. “Não tenho idéia de como meu nome possa estar envolvido nessa história. Pelo que me lembro, minhas emendas nem chegaram a ser liberadas”.



Emerson Kapaz, 51 anos, é filho de um esforçado imigrante libanês que deixou o comércio pela indústria, há meio século, ao fundar a Elka brinquedos. Desde cedo, ao lado da vocação empresarial e da política, mostrou grande sensibilidade pelas questões de marketing. assim foi à frente da entidade patronal Abrinq – que promoveu simpáticas campanhas em favor das crianças – e do PNBE. Quando o Fórum Econômico de Davos o escolheu como “global leader of tomorrow” (“líder global de amanhã”), Mario Covas chamou-o para ser secretário do primeiro governo estadual tucano em São Paulo.



Do Ethos à campanha Alckmin



Com os contatos feitos como secretário estadual da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, Kapaz elegeu-se deputado federal em 1998, pelo PSDB. Mudou de partido, para o PPS, e tentou em vão se reeleger em 2002. Mas se o eleitorado não lhe sorriu, logo ele descobriu o filão da defesa da ética (!) empresarial e política, com o instituto Ethos, que fundou e presidiu até o presente escândalo.
O Ethos proclama ser financiado por 1.200 empresas que somam 35% do PIB brasileiro. Entre elas, a AmBev, cervejas; Coca-Cola, refrigerantes, Microsoft informática, Esso e Shell, petróleo. A ONG tem sua atividade fortemente focada no cmbate à pirataria, contrabando e na questão da propriedade intelectual, conforme os interesses específicos dessas firmas.



Graças e estes contatos, já em outubro do ano passado Kapaz promovia jantares de Alckmin com grandes empresários, que cobravam agressividade do tucano. Já se viu que era uma grande esperança como captador de recursos para a campanha de 2006. Se o presidenciável do PSDB não estivesse patinando, e se Vedoin não tivesse entregado sua lista à Polícia Federal, é de se perguntar aonde haveria de chegar.



Com agências