''Refuzniks'' de Israel não aceitam servir ao ''terrorismo de Estado''

A convocação dos reservistas causou bastante barulho dentro do exército israelense. Reunidos na associação Yesh Gvul, muitos militares se recusaram publicamente a servir na guerra do Líbano. Dois deles foram presos pelas autoridades de Israel. Veja os tes

O sargento Itzik Shabbat tem um único ponto em comum com o ministro da Defesa, o trabalhista Amir Peretz: os dois são de Sderot, localidade oeriodicamente alvejada por disparos de foguetes a partir da faixa de Gaza. Mas aos olhos do sargento o que o seu exército faz no Líbano é ''terrorismo de Estado''.



''O exército sabia''



Itzik Shabbat, que comanda uma unidade de infantaria, ele próprio poderia estar neste momento ''no norte''. Reservista, convocado há dez dias, para cumprir um período perto de Jerusalém, recusou-se, conforme uma decisão tomada em 2003, a servir nos territórios palestinos ocupados. Isto lhe valeu 28 dias de prisão. Propuseram-lhe então que servisse nas tropas do norte, o que ele também recusou.



''Nada justifica o que fazemos atualmente no Líbano'', repete este jovem de 28 anos. ''Quando lançou a operação, o exército sabia que fatalmente iria haver muitas mortes entre os civis libaneses. Mas eles foram assim mesmo. Agora, há Qana. E tudo isso por que? Por dois soldados que levaram? Mas nós também seqüestramos e aprisionamos palestinos e libaneses!''



Produtor para uma rede de TV, Itzik desmonta os discursos e fustiga o chefe de governo e seus ministros que tentar dar explicações e justificativas. ''Eles pediram desculpas pela morte de civis em Qana, mas depois, como fazem toda vez, jogaram a culpa no Hezbolá, acusando-o de se esconder entre os civis. E nós? Nossas bases e centros de comando militar também ficam perto de zonas civis, principalmente em Tel Aviv.  São sempre as mesmas encenações que se repetem'', afirma o sargento, sobre o primeiro massacre de Qana, em 1996. Ele se confessa cada vez mais ''decepcionado'' com o exército.



Yesh Gvul: ''Há um limite''



Ofer Neiman, 35 anos, tal como Itzik participa do movimento de refuzniks Yesh Gvul (''Há um limite'', em hebraico; site: www.yeshgvul.org). Também ele denuncia a ''degradação moral'' de um exército que ''comete cada vez mais crimes de guerra''.
A convocação dos reservistas nos últimos dias começa a causar barulho nos meios militares. Amir Paster, um capitão do exército, que estuda na universidade de Tel Aviv, vem de pegar uma pena de 28 dias de prisão por ter se recusado a se apresentar em sua unidade enviada ao Líbano.


 


Há outros casos assim, apoiados pelo Yesh Gvul, um ''movimento de individualidades'', segundo o jornalista Peretz Kidron, que fez um livro com testemunhos de refuzniks. Ele comenta que ''não há um caso, uma história que se assemelhe a outra. Portanto, não há uma linha política definida no seio do Yesh Gvul, apenas uma rejeição comum quando o Tsahal (Exército, em hebraico) se desvia de seu papel de ''força de defesa''. Foi o que levou Peretz Idron, depois da guerra de junho de 1967, a servir no Sinai egípcio (então ocupado por Israel).



Este veterano refuznik, chegado a Israel em 1951, com 18 anos de idade, transmite a impressão de quem já viu esse filme. ''É sempre a mesma estratégia, iniciada por [Ariel] Sharon'', comenta. ''Prepara-se um ataque e espera-se uma provocação. Nunca se dá o primeiro tiro, para poder depois justificar as operações militares. Quando houve a invasão do Líbano em 1982, tratava-se de afastar a OLP de Iasser Arafat. Hoje é o Hezbolá. As desculpas variam, os resultados no terreno são semelhantes'', observa.



Na opinião dos três refuzniks, o que virá em seguida passará ''de qualquer maneira por negociações e trocas de prisioneiros'', demonstrando mais uma vez, comenta Kidron, que ''uma guerra não é uma partida de futebol''.



''Não existe um vencedor. Pode haver um vencido no terreno, mas não existe vencedor. A derrota é política, econômica e social'', comenta o jornalista.



E a opinião pública israelense?



Quando se fala de despertar a opinião pública israelense, Peretz duvida, assim como o mais jovem Ofer. ''A opinião pública israelense não vai mudar em função de um grande número de mortos libaneses'', garante ele. ''Eu digo: não contem com um despertar dos israelenses. Ajam! E não deixem que eles façam a chantagem do anti-semitismo!''



Ele agrega que é preciso aprender a refutar as acusações. E o assunto o toca de perto, pois sua família materna foi dizimada nos campos nazistas.
''Pessoalmente, sou favorável a sanções internacionais. Israel deve ser tratada como a África do Sul [no tempo do apartheid]'', continua. ''Confio muito em qualquer grupo de militantes sérios e sinceros que, para além dos partidos políticos, se consagre aos direitos humanos'', comenta.



À sua maneira, Peretz Idron repete o mesmo apelo: ''Se você um de seus amigos meio bêbado, metendo-se numa briga de bar, você tem duas alternativas: pode quebrar uma garrafa e entregar a ele para brigar; ou pode pegá-lo pelo pescoço e puxá-lo para fora. Um verdadeiro amigo segura o sujeito e o tira dessa''.