Efraim Inbar: ''Entre Deus e nós, Israel, existem os EUA''

Em entrevista publicada no site da emissora de televisão catariana al-Jazira — http://english.aljazeera.net —, em 24 de julho, o professor de Ciência Política da Universidade Bar-Ilan de Israel, Efraim Inbar,

Inbar escreveu quatro livros, todos em inglês e hebraico: Outcast Countries in the World Community, War and Peace in Israeli Politics ; Labor Party Positions on National Security ; Rabin and Israel's National Security e The Israeli-Turkish Entente. É também o diretor do Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat e colunista do jornal Jerusalem Post. Leia a íntegra da entrevista abaixo:


 


al-Jazira: Quais são os objetivos de Israel no Líbano?


 


Efraim Inbar: Os objetivos são simples: Remover a ameaça de mísseis a Israel, empurrar o Hezbolá para longe do sul do Líbano e tentar inflingir danos a sua capacidade militar o máximo possível. A responsabilidade direta é com o Hezbolá, que tem a nítida intenção de destruir Israel e é um inimigo declarado de Israel. O governo libanês pode estar formalmente em guerra com Israel, mas não toma nenhuma atitude contra o país. O problema com o governo é que ele é incompetente para estabelecer sua soberania sobre todo o Estado, o que permite ao Hezbolá operar como uma milícia independente e construir um Estado dentro do Líbano.


 


Quais são as condições mínimas que Israel aceitaria para se chegar a um cessar-fogo?


 


Basicamente, as condições mínimas são as mesmas dos objetivos israelenses. Mas os EUA decidirão quando bastará e Israel terá de se curvar a eles. Entre Deus e nós, Israel, existem os Estados Unidos. A ''América'', assim como a comunidade internacional, quer a implementação da resolução 1559 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que exige o desmantelamento do Hezbolá.


 


A opinião pública israelense, em seu ponto de vista, considera o massacre de milhares de libaneses, a maioria civis, como ''proporcional''?


 


O sentimento geral em Israel é de apoio ao governo. A questão aqui não é a abdução de dois soldados, mas o fato de que o Hezbolá não hesita em ameaçar a vida de mais de um quinto da população israelense, além de dizer que possui mísseis de longo alcance que alcançaria mais israelenses ainda. Nesse contexto, é obrigação moral e do Estado defender seus cidadãos.


 


Quantas mortes de civis, de ambos os lados, será o bastante para a população israelense?


 


Primeiro, o nível de tolerância de baixas para o outro lado, seja árabe ou israelense, é bastante alto. Se o objetivo é percebido como importante, a tolerância do povo de Israel em relação a baixas do nosso lado é bastante alta. Em 1948, devido à importância do objetivo — o estabelecimento do Estado — a morte de 6.000 israelenses foi aceita como tolerável. Em 1982, após 600 baixas militares, a opinião pública começou a questionar a validade da operação no Líbano. Agora, a segurança dos cidadãos israelenses é um objetivo importante, o que provavelmente aumenta a tolerância a baixas entre os israelenses.


 


Pessoalmente, não estou certo de que nós estamos fazendo a coisa certa. Eu acredito que o foco deveria ser Damasco, e não os pobres libaneses.


 


É verdade que Israel manteve contatos com governos árabes antes de iniciar a agressão?


 


Aconteceram consultas de vários níveis com o Egito e a Jordânia e tambémcom outros países como Tunísia, Marrocos, Oman e Catar. A via diplomática não foi fechada em nenhum momento e é bem provável que ainda exista diálogo.


 


A última vez que Israel invadiu o Líbano, deixou cicatrizes que alimentaram o extremismo na região. Por que isso, aparentemente, é desconsiderado na atual agressão?


 


Não estou seguro de que a ação de Israel alimentou o extremismo no mundo árabe. Isso é um problema, em primeiro lugar, da falência dos Estados árabes em fazer, gradualmente, uma transição para a modernidade, o que gerou espaço para problemas sociais e políticos que conduziram ao extremismo. O extremismo islâmico nasceu ali.


 


A ocupação israelense do sul do Líbano ajudou a estabelecer o Hezbolá, mas em meu ponto de vista isso foi um fator secundário, já que sempre houve ali uma certa radicalização, dentro da comunidade xiita, antes mesmo da invasão pelas forças israelenses. O Hezbolá é hoje uma ameaça muito maior que antes e nós precisamos tratar das ameaças imediatas ao invés de se preocupar com as futuras.


 


Israel pensa em atacar o Irã ou a Síria?


 


O governo que pode agir de algum modo não é o governo libanês, mas sim o regime de Damasco, que deveria cortar o apoio ao Hezbolá. Eu defendo o ataque à Síria. De certo modo nós estamos gastando munição no Líbano. Mas eu não estou seguro que o governo de Israel também pense assim. O governo tem dado declarações de que não vai aumentar a escalada atacando a Síria. O Irã é muito distante e eu acho que nós deveríamos deixar os iranianos para os americanos, pelo menos por agora.


 


O processo da paz está morto agora?


 


Esqueça, isso acabou. Nós vivemos um paradigma pós dois-Estados, fundamentalmente porque os palestinos falharam em estabelecer uma entidade política funcional. Similar à situação do Líbano, os palestinos permitiram a existência de milícias independentes. Os planos para o futuro são baseados na concepção de que não existem parceiros palestinos para um diálogo pela paz no próximo futuro.