Novas pesquisas causam pico de desânimo na campanha de Alckmin

A campanha do médico Geraldo Alckmin à Presidência da República atingiu um quadro clínico de desânimo generalizado entre os aliados. As duas pesquisas divulgadas na terça-feira (29) mostraram o candidato praticamente imóvel nas intenções de v

Sondagens do Datafolha e do Instituto Sensus apontaram um cenário sem grandes alterações. Em ambos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganharia a disputa no primeiro turno, já com 50 por cento dos votos.


 


O plenário do Senado, um dos termômetros para avaliar o ânimo da campanha nesta eleição, mediu a frustração de parlamentares da oposição ao longo do dia de ontem.


 


O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), incomodado com o tom ameno de seu candidato, extrapolou nos ataques ao petista e fez, da tribuna, o que disse esperar que Alckmin fizesse: dizer que ''o lugar de Lula era na cadeia''.


 


''Fiz o meu discurso mais duro hoje'', disse ele sorrindo. ''Era assim que o Alckmin devia tratar'', completou.


 


O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), lamentou o crescimento dos beneficiários do Bolsa Família às vésperas das eleições, revelando a dificuldade de superar um adversário que tem a ''máquina para conquistar votos''.


 


''Não existe paixão. Ao contrário, é uma frieza total essa campanha. Não existe entusiasmo, dos dois lados. A única coisa que me dá ânimo é que não existe paixão pelo Lula'', desabafou o senador à imprensa.


 


À tarde, Jereissati tomava um café na companhia de jornalistas quando ACM chegou. Convidado a juntar-se ao grupo, o senador baiano começou a disparar, bem-humorado.


 


''Estou aqui falando na frente dos jornalistas, como o melhor amigo que você tem aqui no Senado, para dizer que Alckmin não empolgou porque não atacou'', disse ACM ao dirigente tucano, falando no tempo pretérito, como se a eleição já tivesse terminado.


 


''Eu não mando no programa (de TV)'', respondeu Tasso, visivelmente constrangido.


 


O diálogo, sempre esboçado com sorrisos de canto de boca, refletiu, em público, a insatisfação interna.


 


O líder do PSDB prometeu um programa eleitoral mais incisivo a partir da segunda quinzena de setembro. ACM reagiu com ironia: ''Aí dá tempo para virar''.


 


Nos bastidores do Congresso, as avaliações projetavam um prognóstico negativo, mas ainda mantido em sigilo.


 


''O paciente está na UTI, e não dá sinais de que quer sobreviver'', disse um deputado do PFL, ligado à cúpula da campanha.


 


Mesmo com o desânimo, aliados prometem não abandonar o barco, mas suas declarações revelam que a virada do candidato está condicionada a uma surpresa ou à mudança de estratégia que Alckmin e seus auxiliares diretos resistem em adotar.


 


''Acho que já tivemos surpresas em outras eleições. Não há porque abandonarmos a luta. Temos um mês para, quem sabe, mudar a estratégia, o discurso e a postura'', afirmou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), um dos membros do conselho político de Alckmin.


 


Lembo: Lula vai ganhar no primeiro turno


 


Outro integrante do PFL, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo, também lamentou a baixa performance de Alckmin, mas ao contrário de seu desafeto, o senador ACM, Lembo elogiou o presidente Lula.


 


Em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim, o governador reafirmou sua convicção na vitória do presidente Lula e condenou as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que pediu, na última terça-feira, que Alckmin baixasse o nível da campanha.


 


“Ele (FHC) atrapalha o Alckmin. Democracia não se faz com agressividade”, disse Lembo. O governador disse também que não concorda com a declaração de FHC de que o marqueteiro de Alckmin precisaria “pôr fogo no palheiro”. “Não precisa por fogo em nada”, completou o governador na entrevista ao jornalista do site Conversa Afiada.


 


Além disso, Lembo, que foi vice-governador de Alckmin, durante três anos e meio, afirmou que Lula deve vencer as eleições no primeiro turno. “As pesquisas mostram que o presidente está em uma situação privilegiada. Eu já havia dito que se não houver nenhum fato novo ele vence no primeiro turno e como até agora não houve o fato novo ele deve ser reeleito no dia primeiro de outubro”, disse Lembo.


 


Segundo o governador, Lula tem raízes populares “e uma história épica, muito bonita”.


 


Cientista político critica mudança de tática


 


O comportamento de FHC também foi criticado pelo cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Segundo ele, a mudança de tom do PSDB na campanha eleitoral, deixando de lado a postura branda, para atacar ao PT no campo da ética e da corrupção, materializada na quinta-feira pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando propôs ao partido “botar fogo no palheiro” e que foi acompanhada pelo candidato Geraldo Alckmin, demonstra “desespero”.


 


“O ex-presidente Fernando Henrique foi extremamente agressivo e não é possível dizer se isso trará algum benefício para a candidatura Alckmin”, disse Teixeira à Agência Estado. “É o desespero, pois quando soltou a frase, FHC já sabia dos resultados da pesquisa CNT/Sensus, mais tarde corroborados pelo Datafolha”, complementou o especialista, ao citar os números que indicam a consolidação da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já no primeiro turno da eleição.


 


Na visão do cientista político, o ex-presidente prestou um “desserviço eleitoral ao País”, acrescentando que o PSDB parece ter sucumbido à proposta do PFL de que Alckmin só crescerá na preferência do eleitorado quando passar a atacar as deficiências de Lula e sua administração.


 


“O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e o prefeito do Rio, César Maia (PFL) defendiam há algum tempo a linha de ataques e agora parece haver uma pefelização das teses da campanha”, observou.


 


Teixeira desconfia dos resultados que a postura conflituosa poderá trazer à campanha tucana. Isso porque, alertou, a tentativa de trazer o tema da ética e da corrupção de volta à campanha provoca uma “sensação coletiva”, a ser identificada no eleitorado, de “chover no molhado”.


 


“Se o presidente Lula esteve imune aos ataques até agora, inclusive no momento de artilharia mais pesada, quando se falou em impeachment, o que levaria o eleitor a mudar de idéia agora, a um mês do voto?”, indagou.


 


“A campanha eleitoral está pautada pela discussão de nomes e não de propostas. Ora, se é para discutir nome, o eleitorado tende a preferir aquele que melhor lhe agrada e as pesquisas confirmam ser Lula”, justificou, acrescentando que é “assustadora a incapacidade da oposição em ser propositiva até o momento”.


 


Para ele, caminho mais promissor para o futuro do PSDB nas urnas seria o de apresentar um programa de governo alternativo ao PT. “Primeiro, devemos deixar bem claro que é obrigação dos oposicionistas apresentarem um programa alternativo, já que o governo pode perfeitamente manter o discurso do mais do mesmo e manter a linha administrativa adotada nos últimos quatro anos”, ponderou.


 


“Depois, porque, de fato, FHC é um ator sem influência nessa eleição. Alckmin deveria se mostrar como um projeto diferente de Lula e FHC, com propostas próprias, inovadoras e sem comparação com os antecessores”, opinou.


 


Da redação,
com informações das agências


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Matéria atualizada às 23h30 para acréscimo de informações