Entrevista com Vivian BertoldiI, Presidenta eleita do Sintrafite

Pela primeira vez em 65 anos, uma mulher é eleita presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Fiação e Tecelagem de Blumenau e Região (Sintrafite). Concorrente pela Chapa 1 – de um total de quatro -, Vivian Kreutzfeld Bertoldi, 35 anos, rece

Acompanhe a entrevista concedida ao Vermelho:


 


Vermelho: Como você define sua trajetória até a presidência do Sintrafite?


 


Vivian Kreutzfeld Bertoldi: Foi uma trajetória árdua, até porque eu sou uma trabalhadora têxtil. Hoje ainda tenho vínculo empregatício com a empresa Sulfabril, que é uma empresa falida que passou por sérias dificuldades. Inclusive, eu mesma fiquei três meses sem salário, assim como os outros trabalhadores dentro da fábrica. Trabalho há dezesseis anos na empresa Sulfabril, sou uma pessoa humilde, simples, criada sempre com muitas dificuldades pelos pais e a gente sente na pele o que é trabalhar dentro de uma fábrica, sabe o que é passar por problemas de assédio moral. Eu já passei por isso também, assim com exigência de produtividade de qualidade, então a gente tem isso muito bem enraizado e, mais do que nunca por isso também tem a luta, o esforço para estar melhorando cada vez mais a vida destes trabalhadores e trabalhadoras que estão hoje dentro de fábricas, outras que estão acometidas de doenças do trabalho que estão fora das fábricas, estão afastados do local de trabalho, mas com muitos problemas a serem resolvidos.


 


 


Vermelho: Então você é bastante identificada com a realidade da classe trabalhadora?


 


Vivian: É uma coisa muito enraizada que se tem mesmo e, esta identidade com a classe trabalhadora, o esforço pelo que eu vivenciei para que a gente consiga melhorar a vida destes trabalhadores que passaram por esse Sindicato neste tempo de gestão que nós estamos aqui, que eu estou aqui. O comprometimento com estes trabalhadores, na vida desses trabalhadores, o envolvimento com eles na relação da saúde, na relação com as mulheres, a freqüência na porta de fábricas também, a gente sempre teve em muitas portas de fábricas conversando com esses trabalhadores e mais do que nunca um objetivo muito grande que a gente teve de levar a informação para aos trabalhadores.


 


 


Vermelho: Quais as principais dificuldades encontradas nesse processo? Teve fábricas que vocês não puderam entrar?


 


Vivian: Na própria empresa sulfabril nós entrávamos escoltadas para resolver e sanar problemas dos trabalhadores, sempre escoltadas e com segurança para dentro da empresa.


 


 


Vermelho: Houve perseguição?


 


Vivian: Sim. Inclusive na área onde atuamos, nós fizemos contatos com os trabalhadores independente da perseguição, e nós levávamos isto para o conhecimento de todos os trabalhadores quando visitávamos as fábricas e através de programas de rádio e TV. Levamos ao conhecimento de todos aquilo que nós acreditávamos que era incorreto e que nós teríamos que divulgar. Isso como representante dos trabalhadores e, sofríamos ameaças de advogados das empresas, por estarmos levando isso a público. O que o trabalhador está sofrendo dentro do local de trabalho. Foram muitas dificuldades e com certeza afirmo que o patronal não queria a vitória de nossa chapa de jeito nenhum, até por que nunca houve, nesses anos todos de existência de Sindicato, uma diretoria tão atuante. Nós começamos a implementar algo diferente como caminhão em porta de fábrica denunciando o problema no local de trabalho, denunciando e informando os trabalhadores do que as empresas estavam fazendo com os trabalhadores, por que o patrão quer que o trabalhador discuta aquilo que ele quer, mas nós, na porta de fábrica, fomos com um caminhão de som mesmo assim, um caminhão grande falando aos trabalhadores o que estava incorreto.  isto nunca ocorreu, e por isso houve um repúdio muito grande da classe patronal, até por que era uma inovação. Numa categoria que nem essa, nunca houve este tipo de trabalho antes.


 


 


Vermelho: Como se deu o processo de mobilização para sua vitória?


 


Vivian: Com certeza a mobilização foi um dos pontos-chave para nossa eleição. Conversando com os trabalhadores no local de trabalho, em suas casa, mobilizando para que eles participassem, escutando o que eles tinham a nos dizer para que nós pudéssemos traçar  os nossos planos, nossos compromissos, para poder atender as necessidades dos trabalhadores e do movimento sindical. Perceber de que maneira os trabalhadores e as trabalhadoras querem participar deste movimento. O mais importante é nós irmos até eles, porque ainda há dificuldades de eles virem até nós.


 


 


Vermelho: Quais as  entidades que apoiaram a chapa?


 


Vivian: Todos os apoiadores são pessoas que tem a mesma meta que nós: a batalha pela nossa classe trabalhadora, com bandeiras e lutas muito parecidas. Nós notamos que estas pessoas vieram com um objetivo bem claro que, aqui em Blumenau é esta ação patronal, que acaba desmoralizando hoje os nossos trabalhadores e os movimentos sindicais aqui da região. Todos se surpreenderam por que não imaginavam a força que tem o trabalhador e os movimentos sociais, que estavam unidos, para melhorar  essa classe trabalhadora.  Mais do que nunca eu tenho que agradecer muito todas as pessoas que nos apoiaram, o pessoal da Corrente Sindical Classista (CSC), da Federação, de tantas outras correntes do moviemnto sindical. Na realidade foi uma junção das forças para que a gente consiga derrubar algumas chapas que estavam caracterizadas com o patronal e mostrar para os trabalhadores que unidos nós temos a força.


 


 


Vermelho: 75 anos de Sindicato, uma categoria feminina que enfrenta vários tipos de problemas. como você vê a eleição neste aspecto?


 


Vivian: Primeiro que é uma satisfação e um orgulho muito grande estar representando esta grande categoria têxtil e não pelo fato de ser mulher, mas pelo fato de inovar, de revitalizar o grupo em que 70% tem fôlego novo, com vontade de trabalhar. Quando se fala que agora é uma mulher e vai ser tudo diferente, digo que não! Por ser mulher a gente acaba tendo um pouco mais de sensibilidade para trabalhar certas situações. Agora não quer dizer que uma mulher vai transformar radicalmente a vida dos trabalhadores. Vamos trabalhar com os homens e mulheres, juntos por melhores condições de trabalho e pela igualdade.


 


 


Vermelho: Qual a importância da sua eleição para as trabalhadoras?


 


Vivian: Deu pra perceber que tanto homens como mulheres, quando chegamos em portas de fábricas, incentivavam e pediam mudanças. Foi uma inovação para os homens também e, as mulheres se assumiram aquilo de uma forma para poder dizer que estão mudando a história, para que tenham uma vida melhor.


 


 


Vermelho: Quais são os desafio a partir desta eleição vitoriosa?


 


Vivian: Continuar e melhorar os trabalhos na questão de informação, de porta de fábricas, de carros de som, de denúncias.  Com certeza, mais do que nunca, trabalhar pra classe trabalhadora por melhores condições de trabalho, por exemplo a questão da saúde, que é complicada hoje.


 


 


Vermelho: Qual a luta que o Sindicato pretende desenvolver a partir de agora?


 


Vivian: Nós vamos ter que iniciar com uma conscientização dos trabalhadores, informação e redução da jornada de trabalho.


 


 


Vermelho: Há exemplos de empresas que reduziram a jornada de trabalho na região?


 


Vivian: Já temos exemplos de uma empresa têxtil que reduziu e teve margens maiores de produtividade e contratou mais trabalhadores. No entanto, houve um problema com a Prefeitura local. Tivermos esta experiência e obtivemos resultados positivos, com a participação dos trabalhadores. Agora é um trabalho árduo, mas vamos trabalhar, bater de frente com o patronal.


 


 


Vermelho: Eleição 2006, como você vê as eleições e a disputa de rumos para Brasil?


 


Vivian: É uma satisfação ter como Presidente da República um trabalhador, que sente na pele o que a classe trabalhadora sente. Acredito que o Lula será eleito novamente e que nós precisamos nos unir. A classe trabalhadora, movimento sindical e social. Até por que nós precisamos fazer pressão, temos que buscar aquilo que nós queremos.  O presidente lula não vai conseguir sozinho as mudanças. Então nós temos que trabalhar mais do que nunca, nos unirmos, trabalharmos em mobilização e lutarmos por uma classe melhor e fazer as coisas acontecerem. O governo já demonstrou, de certa forma, que tem vontade. Agora nós também temos que mostrar que nós queremos isso e nós vamos estar colaborando para que isso aconteça, unindo e mobilizando os movimentos sociais.


 


 


Qual seu recado para os trabalhadores brasileiros?


 


Vivian: Nós só vamos realmente chegar às conquistas se nos unirmos e esta união depende de todos, de vários movimentos e, principalmente dos trabalhadores e das trabalhadoras. O Sindicato em si não é Sindicato sem a participação destes trabalhadores e trabalhadoras e, mais do que nunca, a informação, a comunicação e a politização dos trabalhadores são fatores fundamentais que cada sindicato deve aplicar e formar os trabalhadores. Hoje você está mais dentro da fábrica do que em casa pela linha de capitalismo puro dentro das fábricas. Por este motivo nós temos que estar unidos e trabalhar a politização dos trabalhadores. A partir daí nós vamos ter uma sociedade melhor e mais consciente.


 


 


 


Por Vinícius Puhl