ArtSind lança golpe para barrar duas vitórias da CSC-RJ
A Articulação Sindical (ArtSind) parte, mais uma vez, para o jogo baixo. Tudo por causa das duas derrotas – legítimas e democráticas – que sofreu para a Corrente Sindical Classista (CSC), em eleições realizadas no Rio de Janeiro, entre os dias 13 e 14 des
Publicado 18/09/2006 21:29
A Chapa 2, de oposição e sob liderança classista, venceu o pleito para a direção do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio de Janeiro e Região (Sintergia-RJ). Foram 1.707 votos (54%) a seu favor, contra os 1.457 concedidos à Chapa 1 (situação), formada pela Articulação Sindical (Artsind). Houve ainda 39 votos nulos e 16 em branco.
Apesar da lisura da eleição, o resultado vem sendo contestado, na Justiça, por membros da atual diretoria e da chapa derrotada. Eles querem a apuração de uma urna que contém 480 votos de funcionários de duas empreiteiras (terceirizadas), que, não sendo sindicalizados, não têm direito a voto, no entendimento da Comissão Eleitoral.
As eleições para o Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Sintsama) também estão sendo marcadas por escandalosas irregularidades. E o personagem que protagoniza o drama é o mesmo: a Articulação Sindical, ou mais precisamente “uma parcela da Artsind”, conforme as palavras ponderadas do candidato a presidente da Chapa 2, o oposicionista João Xavier.
“Nas urnas nós ganhamos, não há mais dúvidas”, declarou. Todavia, o resultado não foi proclamado e prevalece até agora uma ruidosa tentativa de fraude, que inclui um grosseiro e malfadado seqüestro de urnas.
O primeiro golpe
A CSC já denunciou a escalada golpista no Sintergia-RJ. De acordo com Sônia Latge, candidata a presidente pela Chapa 2, os membros da Artsind na categoria pretendem legitimar “uma manobra fraudulenta, que já foi evidenciada e desmascarada”.
Recentemente, a atual diretoria do sindicato simulou uma assembléia de filiação dos trabalhadores da Bauruense Tecnologia e Serviços Ltda (uma das empresas terceirizadas em questão), datada de 14 de fevereiro deste ano. Desafortunadamente, na lista de presença, coletada às pressas na empresa, uma funcionária da Bauruense resolveu acrescentar (à frente da assinatura e do prontuário) a informação exata da data em que subscreveu o documento: 31 de agosto de 2006.
As normas previstas nos estatutos do sindicato são claras a este respeito. Estabelecem um prazo mínimo de seis meses de sindicalização e contribuição associativa para se obter o direito de votar e ser votado. Sônia Latge diz que o processo eleitoral “teve um caráter plebiscitário” e foi marcado por inúmeras manobras antidemocráticas contra a oposição. “Não pudemos fazer campanha em um grande número de empresas, nem mesmo indicar candidatos, a intimidação das chefias foi enorme”.
Na Light Energia S.A, onde trabalham os candidatos a presidente das duas chapas (Sônia e Manguinha), a Chapa 2 abocanhou 66% dos votos. Sônia não escondeu sua indignação com o que caracteriza de “degeneração absoluta da Artsind na categoria. Nós trabalhamos por muito tempo em aliança com os sindicalistas da Articulação Sindical, mas com o tempo eles perderam a perspectiva classista e abandonaram os compromissos de luta em defesa da categoria”, declarou Sônia.
Crise na ArtSind
Segundo Sônia, os sindicalistas da Articulação “capitularam frente aos interesses das empresas e promoveram uma conciliação abjeta com o patronato, abrindo caminho ao contrato por tempo determinado, à flexibilização e à redução de direitos dos trabalhadores. Agora querem afirmar seu hegemonismo recorrendo à fraude. Trata-se de uma degeneração absoluta.”
O Sintergia-RJ representa cerca de 15 mil trabalhadores e trabalhadoras. Sua base compreende 11 municípios cariocas, incluindo a capital. A vitória da CSC deve ser atribuída à degradação da conduta dos atuais dirigentes da entidade, ligados à Articulação Sindical, que colheram, por isto, um crescente descrédito no interior das empresas. Isto não explica tudo. De outro lado, a seriedade das lideranças classistas, firmeza e honestidade de propósito na luta em defesa dos trabalhadores, vem sendo premiada com a simpatia, a confiança e o voto das bases.
Ao longo deste ano, a Corrente Classista acumulou várias e relevantes vitórias em pleitos sindicais, cabendo destacar a conquista do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda (com 40 mil na base) e do Sindicato dos Têxteis de Blumenau (SC), o maior da categoria na América Latina (27 mil na base, sendo 21 mil sócios).
Distorções no Sintsama
A ameaça de fraude não paira apenas sobre o pleito do Sintergia-RJ. A CSC também procura deter a tentação golpista da ArtSind no Sintsama. O pleito ocorreu nos últimos dias 13 e 14, coincidindo (e não por acaso) com a eleição do Sintergia-RJ e depois de apenas cinco dias úteis para a campanha. Concorreram duas chapas: uma da situação, ou seja, representando a atual diretoria liderada pela Articulação Sindical; outra (Chapa 2) de oposição, comandada pela Corrente Sindical Classista (CSC).
“Já marcaram a data do pleito, a toque de caixa, com o objetivo de criar dificuldades para a CSC, que supostamente não teria 'pernas' para acompanhar simultaneamente as duas eleições”, argumenta Xavier. A manobra não impediu a participação dos classistas. Quando teve início a apuração (na noite da última quinta-feira, 14/9), ficou patente que as urnas dariam vitória à oposição classista.
Foram abertas em primeiro lugar as urnas (56 de um total de 112) onde supostamente a chapa situacionista tinha mais força e maior possibilidade de vitória, mas os resultados favoreceram a Chapa 2, que chegou a acumular mais de 200 votos de vantagem. Frente ao resultado adverso, a Comissão Eleitoral, dominada pela Artsind, apelou para a manipulação dos mapas de apuração e distorceu os resultados. Além disto, cancelou e suspendeu o processo de apuração. A novela de patifarias não parou por aí.
Seqüestro de urnas
A madrugada de sexta-feira (15-9) reservava uma manobra ainda mais ardilosa e indecente. Foi quando o presidente da Comissão Eleitoral invadiu o sindicato para seqüestrar as urnas ainda não-apuradas e fugir em direção aos morros freqüentados pelo crime carioca com o indisfarçável propósito de trocar as urnas e os votos nela depositados com o objetivo de reverter a derrota eleitoral.
A tempo, sindicalistas da Chapa 2 descobriram o ardil e perseguiram o veículo que carregava as urnas, impedindo que a fraude fosse consumada. “O presidente da comissão, junto com seu advogado, foi pego e conduzido à delegacia da Praça da Bandeira, sendo forçado a retornar com as urnas para o sindicato”, conforme relata um boletim da oposição. “Tudo isto foi filmado”, garante João Xavier.
“Agora”, diz o sindicalista, “não podemos mais ter confiança neste processo. Estamos exigindo o cancelamento deste pleito e a convocação de novas eleições. Tudo que queremos é lisura e respeito à vontade soberana e ao voto do trabalhador. Sem democracia, o movimento sindical vai virar um terreno fértil para bandidos e as eleições sindicais se transformarão em guerras entre gangs, onde o que vale não é o voto, mas o apelo à força e à velhacaria”.
Xavier ressalta que apenas “uma parcela da Articulação Sindical está metida nisto. Algumas lideranças da Artsind fizeram questão de nos informar que condenam o que está ocorrendo e tanto não concordam que caíram fora do processo eleitoral”. O Sintsama representa cerca de 9 mil trabalhadores e trabalhadoras na base, entre os quais 6 mil sócios.
Repeteco
O coordenador nacional da CSC, João Batista Lemos, considera “inaceitáveis” as tentativas de fraude em curso no Rio de Janeiro, lembrando que coisa do gênero já tinha sido ensaiado também no pleito que definiu a nova direção do Sindicato dos Metalúrgicos. Ele fez ao mesmo tempo um apelo e um alerta aos líderes nacionais da CUT e da Articulação Sindical, força majoritária na Central.
“Não podemos ser complacentes com a fraude e o neobandidismo que rondam o movimento sindical. A questão da ética e da democracia nas disputas pela direção das organizações de massa da classe trabalhadora não pode se transformar em retórica vazia ou mera hipocrisia”.
“Zelar pela democracia sindical é antes de tudo respeitar a vontade e a consciência dos trabalhadores, mesmo quando isto não coincide com os nossos interesses. Não se trata de algo abstrato, a democracia tem um conteúdo bem concreto nesses casos e há formas de garanti-la”, afirma Batista.
Em sua opinião, “é preciso adotar iniciativas enérgicas para evitar que o sindicalismo seja palco de disputas inescrupulosas e sem princípios, transformando-se em peleja de bandidos. Isto é ainda mais inadmissível quando a disputa se dá no campo da CUT. Os dirigentes nacionais têm responsabilidade nisto tudo e não podem ficar de braços cruzados”.