Denúncia não muda voto do povo em Lula, diz Stédile (MST)

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) não vai pôr em pauta o envolvimento de integrantes do PT e da campanha de Lula na tentativa de compra de um dossiê contra candidatos tucanos. Quem garante é João Pedro Stédile, líder nacional do movimen

Mesmo com o surgimento da crise na reta final da campanha eleitoral, o líder sem-terra acredita que Lula será reeleito presidente da República no primeiro turno e até torce por isso “para que ele não faça mais concessões à direita”. De acordo com Stédile, “o povo já tem definição. Outros escândalos eram da mesma natureza e não afetaram o cenário”. Em sua opinião, o dossiê foi uma cilada contra a esquerda. “Se for verdade, bota burrice nisso. Só beneficiou os tucanos”.


 


O integrante do MST tem ressalvas sobre um segundo mandato de Lula. Além de defender que a mudança social “não virá pela via governamental”, afirma que, pelas alianças feitas por Lula, o segundo mandato ainda será de transição. A opção por Lula se explicaria estrategicamente. Stédile diz que na composição política do governo estarão forças de esquerda, de centro e de direita – e seria possível pressionar o presidente por uma inflexão mais à esquerda. Mas o sem-terra acha que o segundo mandato começará com uma correlação de forças pior do que no primeiro mandato.


 


“Se as forças neoliberais avançarem, a tendência é que o conflito social se agrave e tenhamos revoltas populares antes do que imaginamos”, previu. “Mas se os movimentos sociais se organizarem e lutarem, poderemos ter uma inflexão à esquerda”. Stédile afirmou que o MST nunca tomou posição partidária, mas que 90% da base social do movimento vota em Lula. “O raciocínio é de que na atual eleição não há grandes alternativas. Esta eleição não produziu debate em torno de um projeto para o Brasil”, criticou. “Votar no Alckmin seria aceitar o neoliberalismo. Na Heloísa Helena é um voto de protesto. Lula é o menos pior”.


 


Para Stédile, no governo Lula a reforma agrária deixou a desejar, e o modelo do agronegócio saiu vencedor no confronto com a agricultura familiar. O que explicaria, então, a popularidade de Lula, capaz, segundo Stédile, de vencer a eleição no primeiro turno? “Fatores psicossociais”, responde. “Lula substitui a ideologia pela empatia. Os mesmos pobres que vão votar nele votaram no Collor e no Fernando Henrique. Pobre não tem ideologia. Vota pelos benefícios que teve com o Bolsa Família e com (o programa de concessão de bolsas de estudo) ProUni. Isso é compensação social. Não muda o sistema”.


 


Stédile afirma que quando a direita percebeu que Lula era imbatível eleitoralmente, concentrou sua estratégia em eleger governadores e senadores. “Vamos sair desta eleição com um quadro institucional mais conservador”, aposta. Com este cenário, a governabilidade de Lula sofreria novos desafios, mas Stédile não acredita que a oposição use o impeachment para derrubar o petista. “A burguesia sabe do risco de um impeachment. Quando Getúlio se matou, a massa foi para a rua e quebrou tudo. Eles vão deixar o impeachment na gaveta. Cada vez que Lula tender para a esquerda, vão utilizá-lo”, avalia.