Umberto Eco: Estamos pagando pela queda do sistema soviético

“O retorno dos nacionalismos, particularmente nos países da Europa central e oriental, deriva essencialmente do processo de liquidação do império soviético.” A opinião é do escritor e semiólogo Umberto Eco, em entrevista ao jornal francês Le Figarò

A tese de Eco traz comparações com vários momentos históricos. “Os Bálcãs continuam a pagar um tributo pesado pelo fim do império romano, assim como o Oriente Médio continua a sofrer as conseqüências da dissolução do império otomano”, teoriza o escritor, que conclui: “Serão necessárias ainda algumas dezenas de anos antes que a queda do sistema soviético seja completamente superada.”


 


Eco está lançando na França seu mais recente livro, A Passo di Gambero – Guerre Calde e Populismo Mediatico (A Passo de Caranguejo: Guerra Quente e Populismo Midiático). A obra reúne uma série de artigos e discursos escritos entre 2000 e 2005. Ao Le Figarò, o escritor disse condenar a falsa visão de populismo: “O populista não se apóia no povo – mas na sua projeção ideal de uma assembléia, cuja função principal é a de aprovar a sua ação”.


 


Na opinião de Eco, o ex-premiê italiano Silvio Berlusconi, da ultradireitista Força Itália, é um exemplo de político populista sem apelo popular. “O populista evita sistematicamente todo e qualquer confronto real com o povo. Berlusconi jamais ia ao Parlamento, mas reservava seus discursos para a mídia.”


 


A crise americana
Ao analisar o cenário geopolítico, o semiólogo italiano, nascido e criado na região de Piemonte, faz duras críticas aos Estados Unidos. Segundo Umberto Eco, o país mais poderoso do mundo sofre da perda do senso da história. “É uma patologia característica dos Estados Unidos que está contaminando progressivamente as novas gerações européias.”


 


Para o escritor, dois problemas coincidem na realidade americana: enquanto o país padece da “perda da memória coletiva”, simultaneamente sua Inteligência “não tem poder”. O resultado, diz Eco, atinge diretamente o meio acadêmico. “Os universitários nunca intervêm nos debates dos grandes jornais. E, quando afirmam investir na política, eles interrompem suas atividades acadêmicas, como Brzenzinski e Kissinger”.