Artigo: “Os sem-carteira asseguram vitória de Lula”

De autoria de Serginho Athayde, o artigo abaixo mostra o peso dos trabalhadores sem-carteira no eleitorado brasileiro. Segundo o autor, é esse nicho que determinará a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Confira o texto.

Os sem-carteira asseguram vitória de Lula


 


Por Serginho Athayde*


 


As pesquisas eleitorais revelam com destaque que a maioria da classe trabalhadora brasileira, formada por informais, desempregados e excluídos socialmente, principalmente do norte e nordeste do país, são a base eleitoral de uma possível vitória de Lula, já no primeiro turno. Por outro lado, em uma de suas últimas entrevistas, o único ex-presidente do país a sofrer impeachment reconhece que o nordeste antes de Lula era um e depois de Lula é outro. Inclusive, pesquisas recentes mostram que houve uma redução da pobreza no Brasil. Pouco é verdade, mas aconteceu. O que não deixa de ser um fato importantíssimo nesses quinhentos anos de exploração e opressão do povo brasileiro e rapinagem das riquezas do país.


 


Não é sem razão que a mídia, de propriedade das mumificadas elites brasileiras e do grande capital internacional, não pára com o falso denuncismo moralista, que tem como objetivo estratégico: por um lado, impedir a construção de um Brasil voltado para acabar com as desigualdades sociais, os privilégios, entre outros; e por outro, o de destituir um governo que desde o começo teve e tem como centralidade a inclusão social de todos os brasileiros, milhões de trabalhadores(as) que há muito viviam abandonados no indescritível e mega gueto da mais cruel miséria, fome, ignorância, doença, violência, morte prematura e etc.


 


Não reconhecer a opção e força eleitoral dos trabalhadores(as) sem carteira é continuar na cegueira do atraso sindical corporativista, a de acreditar que a economia capitalista neoliberal banirá do mercado de trabalho estes trabalhadores(as) com a assinatura de suas carteiras, o que devemos exigir de forma contundente e continua do patronato. No entanto, não podemos continuar no equívoco de não perceber que o capital informal é fundamental para fazer com que o capitalismo alcance o mega lucro, caso contrário não ultrapassa sua crise de acumulação, iniciada nos anos 70.


 


É necessário e urgente que os dirigentes da CUT percebam que a informalidade, o desemprego e a exclusão social são estruturais e estão no DNA da economia capitalista neoliberal.


 


No Brasil mais de 90% das pequenas empresas estão na informalidade (as que geram mais trabalho e renda). Mais de 60% dos trabalhadores(as) estão na informalidade, desemprego e exclusão social estruturais. No mundo todo o exército dos sem carteira aumenta seu contingente, marcha sem esperança e sem mais nada a perder. Inclusive, milhões deles já se tornaram sem pátria. Por outro lado, cresce a irracionalidade da repressão das forças policiais e armadas do Império. Meses atrás, em Londres, um brasileiro foi assassinado com sete tiros na cabeça e a policial comandante da operação acaba de ser promovida. Terrorismo?


 


Os trabalhadores cutistas do Paraná, que lutam por uma CUT DE TODOS OS TRABALHADORES, com ou sem carteira, acreditam ser fundamental a organização dos trabalhadores sem carteira na Central. Sua organização e lutas são de grande importância para levar a classe trabalhadora mundial ao fim da exploração e opressão, a sua emancipação com a construção de uma sociedade sem classes.


 


Agora, é preciso que se entenda, de uma vez por todas, que a economia capitalista neoliberal continuará aumentando o contingente dos sem-carteira. Mesmo que a economia formal e informal do país e do mundo cresça, somente uma minoria de trabalhadores(as) continuará tendo sua carteira assinada. Logo, a luta pela organização dos sem carteira na Central está articulada a uma outra luta, a da construção de um espaço econômico antagônico ao da economia capitalista neoliberal, ou seja, da Economia Solidária – uma economia sob a égide do trabalho, voltada para o ser humano e não para a acumulação privada.


 


Para os mais desavisados, a Economia Solidária é formatada por empreendimentos econômicos solidários. Para nós cutistas, estes são as cooperativas autogestionárias, que nascem assim como os sindicatos no século 19. O sindicato como ferramenta dos trabalhadores(as) para resistirem a exploração e opressão do capital nas fábricas e escritórios. A cooperativa como ferramenta para levá-los a ultrapassar o capitalismo, para emancipá-los. É por isso que defendemos a ADS, a Unisol e a Ecosol como entidades fundamentais para a construção da nova Central, da CUT DE TODOS OS TRABALHADORES, dos com e sem carteira. E o Companheiro LULA está correto quando afirma em um de seus discursos: é preciso transformar o Brasil numa grande cooperativa.


 


* Serginho Athayde é coordenador geral do Escritório Paraná da Agência de Desenvolvimento Solidário – CUT