Especialistas questionam impacto da abstenção na votação de Lula

Especialistas ouvidos pela Reuters relativizaram o argumento da oposição de que a tradicional abstenção eleitoral no Norte e Nordeste pode prejudicar o desempenho de Lula nas urnas e provocar um segundo turno. Os especialistas consi

A última pesquisa Ibope ajudou a alimentar o argumento que a oposição vem repetindo há algum tempo: caso a diferença entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a soma de seus adversários seja pequena nas sondagens, a distribuição desigual das abstenções e dos votos nulos pode levar a eleição para o segundo turno.


 


Especialistas ouvidos pela Reuters, no entanto, consideram que esses fatores serão decisivos apenas se a disputa estiver muito apertada.


 


Representantes da coligação PSDB-PFL argumentam que a abstenção e os votos nulos e brancos decorrentes de erro seriam historicamente maiores nas áreas onde Lula, que busca a reeleição, é muito mais forte que os demais candidatos, ocorrendo o inverso onde seu principal adversário, o tucano Geraldo Alckmin, vai melhor.


 


Os números do Ibope divulgados no fim de semana mostraram Lula com apenas 3 pontos percentuais de intenções de voto a mais que os demais. Já o Datafolha mostrou essa vantagem em 8 pontos, e na terça-feira, foi a vez de o instituto Sensus mostrar o presidente com uma folga de 15,6 pontos.


 


Pelos votos válidos, segundo o Ibope, a vitória de Lula no primeiro turno estaria no limite da margem de erro. É essa situação que se encaixaria na argumentação da oposição. Considerando alguns dados da pesquisa e das eleições de 2002, os números parecerem dar razão aos aliados de Alckmin.


 


Na pesquisa Ibope, Lula tem 67 por cento dos votos do Nordeste, enquanto os demais somados têm 28 por cento. Já na Região Sul, o petista aparece com 34 por cento, contra 58 dos adversários.


 


Em 2002, a abstenção nacional no primeiro turno da eleição presidencial foi de 17,7 por cento, mas enquanto no Rio Grande do Sul ela foi de 13 por cento, na Bahia ela chegou a 25,3 por cento e em Pernambuco, 21,3 por cento.


 


No caso dos votos nulos, a média nacional foi de 7,4 por cento, sendo 4,5 por cento entre os gaúchos e 14,7 por cento entre os baianos.


 


“A argumentação é boa, mas, no final, isso representa 2 pontos percentuais. É muito pouco para virar uma eleição”, disse Luis Rodrigues, gerente de análise e planejamento da Toledo & Associados, que não está realizando pesquisas nacionais nesta eleição.


 


Como contra-argumento, Rodrigues lembra um tópico do último Datafolha: 63 por cento dos eleitores de Lula sabem seu número, enquanto no caso de Alckmin são 49 por cento. Para a candidata do PSOl o drama é ainda maior: 81% ainda não sabem o número da candidata, soma-se a isso o agravante de que amanhã é o último dia de propaganda eleitoral na TV e no rádio e, portanto, a última oportunidade que os candidatos têm de divulgar seus números para um grande número de eleitores. Fora do horário eleitoral gratuito e considerando a proibição do uso de outdoors, faixas e placas de rua, resta aos candidatos massificar seus números através das chamadas “colinhas” e aí a candidata do PSOL também fica em desvantagem.


 


Quanto à abstenção, Ricardo Guedes, diretor do instituo Sensus, disse que uma das premissas das pesquisas é de que ela já é medida na sondagem.


 


“Esse raciocínio é equivocado. Já houve abstenção na própria pesquisa”, disse Guedes, explicando que isso acontece porque aqueles que já decidiram não comparecer à votação nem respondem ao entrevistado e acabam não sendo computados no resultado final do levantamento.


 


Alberto Carlos Almeida, diretor da empresa de pesquisas Ipsos, reforça o mesmo argumento. A abstenção que não é captada pelas pesquisas, explica, é aquela decorrente de fatores imprevisíveis, sendo o mais “clássico” deles, as chuvas fortes que atrapalham a votação em determinada área.


 


Segundo ele, várias estimativas feitas nas últimas semanas mostram que o “prejuízo” de Lula com o voto errado deve ficar entre 1 e 1,5 ponto percentual dos votos totais.


 


Toda essa discussão, no entanto, pode ser apenas teórica. Pesquisas internas que analistas tiveram acesso mostraram nos últimos dias uma melhora nos atributos da imagem pessoal de Lula, o que, pela lógica, deve se refletir em um crescimento de suas intenções de voto nos próximos dias.


 


Além disso, Lula tem uma outra vantagem sobre seus adversários que pode fazer a diferença no dia 1º: o número de candidaturas proporcionais –consideradas o “motor” da campanha– que apóiam Lula é significativamente maior que o número de candidaturas dispostas a se vincular formalmente aos adversários do petista, especialmente em regiões onde Lula é muito forte, como no Nordeste, Norte e parte do Sudeste, sobretudo Minas e Rio. “Apesar da coligação de Lula ser enxuta (PT, PCdoB e PRB), o presidente tem o apoio informal de partidos como PP, PL, PTB, PSB e boa parte do PMDB. Estes partidos concentram mais de 70% das cerca de 18 mil candidaturas de deputados federais e estaduais em todo o país. Se a maior parte dos candidatos destes partidos incluir o nome e o número do presidente Lula nas 'colinhas' que o eleitor levará para a urna, o presidente pode acabar herdando, por osmose, centenas de milhares de votos”, acredita um analista ligado à campanha do presidente.