Nova estratégia de Aécio visa complicar Lula em Minas
Por Cláudio Gonzalez
Os últimos movimentos do governador reeleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), indicam que o tucano refez seus planos para tentar alcançar a presidência da República em 2010. antes, preferia ver Lula reeleito e dep
Publicado 02/10/2006 16:09
Até bem pouco tempo atrás, políticos ligados a Aécio Neves confidenciavam que o governador preferia que Lula fosse reeleito para que, em 2010, com o PT desgastado pelos oito anos de governo e sem um sucessor natural, Aécio Neves teria chances de se apresentar como alternativa, seja disputando pelo PSDB, seja por outro partido.
Esta lógica explicaria porque o presidente Lula teve 50% dos votos em Minas, enquanto o tucano Geraldo Alckmin alcançou apenas 40%, mesmo com Aécio tendo sido reeleito com mais de 77% dos votos válidos.
Mas agora, com a ocorrência do segundo turno presidencial, Aécio deu sinais de que teria entrado em acordo com Alckmin, para que a situação de Minas se reverta a favor do tucano. O acordo teria as seguintes bases: Aécio esquece (e passa até mesmo a atacar Lula) para ajudar Alckmin a se eleger para a Presidência e em troca Alckmin se compromete a defender a aprovação do projeto que faz valer já para o próximo período mandatos de cinco anos sem direito à reeleição, e indica Aécio Neves como seu sucessor. O governador eleito de São Paulo, José Serra, outro tucano que postula a vaga de candidato à presidência em 2010, teria que se contentar com a reeleição ao governo paulista, pois não teria forças dentro do PSDB para enfrentar a união dos grupos de Alckmin e Aécio.
Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país com quase 14 milhões de eleitores. Lula obteve, neste primeiro turno, 5.192.439 votos contra 4.151.507 de Geraldo Alckmin. Um empurrão extra de Aécio, com agendas ao lado do presidenciável tucano, declarações diárias na imprensa e uma articulação forte com prefeitos pode fazer diferença.
Plano já está em prática
Aécio Neves não perdeu tempo para colocar em prática este seu novo plano. Hoje mesmo, ele reafirmou que é contra a reeleição e que esta é uma discussão que certamente ocorrerá com o debate da reforma política. Aécio disse que o momento político exige também uma discussão sobre o papel nacional do PSDB e que é importante para o partido trazer novas lideranças.
Para o governador mineiro, o PSDB precisa externar com mais clareza um grande projeto para o Nordeste e fazer um 'mea culpa' em relação a isso, diante do fraco desempenho do candidato tucano à presidência, Geraldo Alckmin, na região. “Isso não deve ser encarado como um problema do candidato”, afirmou.
Aécio mostrou-se satisfeito com o resultado da votação de Alckmin em Minas. Ele disse que existe um clima positivo e que a derrota no estado do candidato petista, Nilmário Miranda, e o desempenho de Lula, aquém dos prognósticos da coordenação nacional, são resultado de uma sucessão de acontecimentos.
“Além do escândalo da compra do dossiê as pessoas cansaram de tantas denúncias e da terceirização permanente de responsabilidades. O voto não foi emocional, mas partiu de uma grande reflexão”, avaliou.
O governador revelou também que vai articular um movimento com todos os governadores eleitos, para que já em fevereiro, quando o Congresso Nacional reabrir os trabalhos, os presidentes da Câmara e do Senado tenham uma proposta de reforma tributária em suas mesas.
Ele aproveitou para fazer uma crítica ao governo Lula, afirmando que ele não avançou depois de ver aprovadas propostas de seu interesse, como a prorrogação da CPMF. Disse que as propostas de reforma já estão praticamente em tramitação na Câmara, como a que prevê nova concepção da lei Kandir, que trata da desoneração das exportações com ICMS.
Aécio disse que além de conversar com governadores vai incluir também as lideranças municipais. Para o tucano mineiro, é preciso inverter a lógica: não esperar que o governo federal apresente propostas, mas sair na dianteira com uma proposta de consenso.
Resta saber como José Serra reagirá à articulação do governador mineiro.