Dois pesos e duas medidas com os pilotos do Legacy

É preciso cautela no jugamento dos pilotos norte-americanos do Legacy que derrubou o Boeing da Gol, pede a jornalista Eliane Cantanhêde. Mas ela e outros comentaristas da imprensa das grandes empresas não tem a mesma prudência quando se trata de acusaç


O desastre com o Boeing 737/800, da Gol, derrubado por um Legacy pilotado por dois norte-americanos, é a mais recente demonstração da postura genuflexa da direita brasileira perante o imperialismo norte-americano.



Um exemplo desta atitude lamentável figura na edição de sexta-feira da Folha de S. Paulo, onde a comentarista Eliane Cantanhêde defende (no artigo “Sem linchamento”), uma atitude prudente em relação aos norte-americanos Joe Lepore e Jan Palladino, que pilotavam o Legacy e foram responsáveis pela morte de 154 brasileiros. “É preciso cautela e serenidade para não precipitar um veredicto e não produzir um linchamento público permeado de passionalidade contra os yankees”, escreveu ela, que não aceita a união do Brasil em um “movimento cívico” contra os norte-americanos. “Acidente é acidente, ocorre todo dia, em todo lugar”, pondera a freqüentadora dos ninhos tucanos.



O bom senso condena qualquer prejulgamento, e um suspeito só pode ser apontado publicamente como culpado do crime de que é acusado depois da apuração de todas as circunstâncias, com amplo direito de defesa para os acusados, e do pronunciamento final da justiça, declarando sua culpa ou inocência.



Não é esta a atitude dos comentaristas conservadores em suas colunas na mídia, quando tratam de acusações contra políticos adversários da coligação PSDB / PFL. Ao contrário, são afoitos promotores de seu linchamento público, principalmente quando se trata de gente ligada ao campo progressistas, patriótico e democrático, e mais acentuadamente ainda quando militantes da causa dos trabalhadores.



Foi o que o país assistiu nos últimos meses; foi o que ocorreu na campanha presidencial do primeiro turno, quando os cães de guarda da elite conservadora ecoaram, em seus espaços na mídia, o prejulgamento de personalidades acusadas de envolvimento em ações irregulares, como no caso do dossiê dos sanguessugas. Não há prudência, cautela, serenidade nem isenção, mas sim o vale tudo no esforço para a sangria permanente dos candidatos adversários, com  uso inclusive de métodos ilegais, como a divulgação de fotos de dinheiro que estavam, no processo, protegidas pelo segredo de justiça.



A vida de 154 brasileiros vale a complacência para com dois norte-americanos? A atitude “cidadã” e “republicana”, para usar duas palavras da moda, exige o contrário. Não o linchamento, sempre incivilizado e à margem da justiça, mas a aplicação dura, fria e imparcial da lei. Exige também, e compreende, a manifestação da indignação dos brasileiros ante a imprudência de dois profissionais  – como todos os organismos especializados brasileiros tem indicado -, responsáveis pelo maior desastre aéreo da história em nosso país. Brasileiros ou estrangeiros são responsáveis perante a justiça brasileira pelas conseqüências de seus atos, independentemente daquilo que pensam os cronistas conservadores da imprensa e sua prostração ante os EUA.