Everaldo Augusto: Como os sindicatos ajudaram a derrotar ACM

Confira o artigo “Quando cai o coronel”, escrito por Everaldo Augusto, sindicalista e dirigente nacional da CUT. No texto, Everaldo sustenta que o movimento sindical ajudou, de forma decisiva, a derrubar o carlismo na Bahia.

Quando cai o coronel


 


Por Everaldo Augusto (foto)*


 


Embora o dia na folhinha marcasse 1º de outubro de 2006, nesta data, com diferenças de contexto e de época, mais uma vez, o povo da Bahia venceu a batalha da liberdade. A mesma que já havia vencido em 2 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas, anti-independentistas, se renderam e os exércitos, popular e libertador, marcharam triunfalmente sobre Salvador, cidadela rebelde. Agora, surpreendendo a todos, os baianos elegeram, no primeiro turno, Jacques Wagner governador e deram quase 70% dos votos para Lula, presidente.


 


Desta vez o povo baiano venceu a batalha pela liberdade, dentro de uma batalha maior, pelas mudanças no Brasil. É que imperava na Bahia, até o dia 1º de outubro, um regime déspota, integrado pelas oligarquias mais corruptas e reacionárias do Nordeste, que, em razão do apoio ao regime militar, construíram uma rede de poder absoluto no Estado, no qual o assalto ao patrimônio público era parte principal da estratégia. Dizem que, na intimidade sombria do poder, o chefe deles afirma que o segredo de tanto poder nas suas mãos é ter feito mil ricos na Bahia. Deus sabe como, dissemos nós, ou melhor, nem Deus sabe como.


 


Pois é. Foi esse sistema e esse coronel, que a maioria do país só conhece nas obras dos romancistas do Nordeste, nas caricaturas das novelas de TV ou através do noticiário sobre quadrilhas e fraudes no Congresso Nacional, que as pesquisas eleitorais diziam que era impossível derrotar. O povo da Bahia, ousado e irreverente por natureza, não sabia que era tão impossível assim, foi lá e derrotou.


 


O movimento sindical contribuiu de maneira decisiva para construir no imaginário do povo da Bahia a necessidade dessa vitória. Não foi fácil, é verdade, mas que contribuiu, não tenham dúvidas. E o fez não somente com as greves, campanhas e mobilizações dos trabalhadores e dos servidores públicos em particular, mas também disputando a cultura e os símbolos da Bahia, se aliançando com os movimentos anti-racistas e da religiosidade baiana, buscando dar visibilidade a todos os seguimentos da classe trabalhadora, não deixando morrer as manifestações culturais silenciadas pela mídia controlada pelas oligarquias e fazendo um combate sem trégua às políticas neoliberais aqui implementadas, já que a Bahia foi transformada pelos governadores carlistas em laboratório do desmonte do serviço público e da destruição dos direitos dos trabalhadores.


 


Agora vamos retomar nossa cultura, nossos símbolos, nossas cores e nossas belezas naturais, que estas oligarquias pensaram, um dia, ter se apropriado. Agora vamos libertar nosso imaginário, que foi raptado e mercantilizado por elas. Agora vamos construir um novo universo de baianidade, com mais justiça e liberdade.


 


Uma coisa é certa, quando cai um coronel, pela força do povo, é que mudanças maiores estão para acontecer. Sabemos que a vitória de Lula no segundo turno será o passo decisivo para a construção destas mudanças, rumo a um novo modelo de desenvolvimento, com valorização do trabalho, de unidade dos povos latino-americanos e de afirmação da nossa diversidade cultural.


 


* Everaldo Augusto foi presidente da CUT Bahia e é diretor-executivo da CUT Nacional