Plenária em SP: cresce apoio da militância social a Lula

Por Eliana Ada Gasparini, de São Paulo*
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender a associação entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento social na plenária da noite desta terça-feira (10). O grosso das 5 mil pessoas presentes no

“A economia é correta quando a gente avalia a participação da sociedade no bolo econômico. Só faz sentido fazer o bolo crescer se a população puder comer um pedaço”, disse o candidato à reeleição. O discurso incliu críticas duras ao PT e uma conclamação a “ter pensamento estratégico”.



Datafolha aumentou o entusiasmo



O presidente mostrou-se particularmente à vontade com a platéia de companheiros, às vezes com mais de 30 anos de trajetória conjunta. E o entusiasmo aumentou quando a ex-prefeita da cidade, Marta Suplicy, anunciou “uma pesquisa fresquinha”, do instituto Datafolha, em que a vantagem de Lula sobre Alckmin aumentou de 8 para 12 pontos.



Por volta de 20h, havia filas imensas para entrar em todos os portões. A plenária já começara e as caravanas ainda estavam nas ruas que cercam o Clube.  Ficaram de fora do evento umas 2 mil pessoas, segundo foi anunciado ao microfone lá pelas tantas. Conversando aqui e acolá, cheguei à conclusão que juntou-se essa noite umas 5 mil pessoas, no mínimo, animadíssimas para ouvir Lula falar.



Deslocamento no mundo dos movimentos sociais



A plenária registrou deslocamentos importantes no mundo dos movimentos sociais, pouco coberto pela mídia mas com raízes capilarizadas na base da pirâmide social. Em nome das centrais sindicais falou João Carlos Gonçalves, o Juruna, presidente da Força Sindical. “As centrais se uniriam nas lutas e em diversas bandeiras e a unidade foi o caminho para conquista da democracia e com Lula tivemos ganhos pela capacidade que ele tem de negociar e entender nossas reivindicações. Com Lula os trabalhadores tiveram avanços”, afirmou.



O posicionamento desautoriza a adesão a Alckmin do ex-presidente da segunda maior central do país depois da CUT, Paulo Pereira da Silva. Paulinho da Força aderiu a Alckmin depois de se eleger deputado federal pelo PDT; já a sua base sindical ficou com Lula, como atestou Juruna.



Pelos Movimentos sociais falou João Paulo, do MST. “Viemos dizer para o conjunto do movimento social que não vamos aceitar a volta da direita que governos por séculos esse país. Esta semana vamos intensificar a campanha vermelha pois não queremos retrocesso”.



O veterano sindicalista Luiz Tenório de Lima, o Tenorinho, falou sob aplausos tão fortes que abafavam a voz trêmula e fraca dos seus 90 anos. O líder têxtil dos anos 50, de extração comunista e ex-vereador paulistano, foi cumprimentar o seu candidato.



Prefeito do PFL proclama voto em Lula



Se o público tinha a marca da militância social, os oradores tiveram um espectro bem mais amplo. O cantor Agnaldo Timóteo, deputado do PL, falou dirigindo-se a Lula. Confessou que não acreditava que um retirante nodestino, sem estudo, operário, tivesse preparo para governar o Brasil. Mas arrematou: “Quebramos a cara! O senhor deu uma aula de audácia. Erros todos os presidentes cometeram. Problemas até em nossa casa temos. Mas a verdade é que a elite preconceituosa fracassou. O senhor merece o nosso apoio. Boa sorte presidente!”



O também cantor e deputado eleito (pelo PTB), Frank Aguiar, foi o mais aplaudido. Disse que, como nordestino pôde ver a diferença que ocorreu ao Nordeste com Lula.



O Prefeito de Araçariguama, Carlos Aimar, que é do PFL, assumiu em público que votou em Lula e vai repetir o feito no segundo turno.”Qualquer prefeito de São Paulo pode confirmar os desmandos, a incompetência e a panelinha que se forma no governo do PSDB. Com Lula, nunca me perguntaram de que partido eu sou. Sempre fui bem tratado. 'Aquilo' que se viu no debate (disse, referindo-se a Alckmin no debate de domingo), aquele jogador de poker, é sempre aquilo mesmo, seja num velório ou no carnaval, a mesma cara (encenou um sorriso amarelo para explicar) e sempre arrogante. Do mesmo modo como ele o tratou (a Lula), é com todos”, testemunhou.



Pelo PMDB falou o ex-ministro Delfim Neto. “É o momento da resistência. Os anos de 1998 e 2002 quebraram-nos. Recorremos ao FMI três vezes, tivemos um buraco exterior de 186 bilhões de dólares; 100 bilhões do patrimônio nacional vendido. Vamos lutar e resitir. Estão sendo dadas oportunidades de desenvolvimento . O crescimento econômico é a única coisa que vai dar certo e nesses quatro anos foram feitas as bases para crescer e dar emprego.”



Lula sobre o debate: “Nunca via tanto ódio e raiva”



Último a falar, Lula foi duro ao criticar o PT quando este não abre mão de candidaturas e não faz alianças para depois ganhar 4% dos votos. “O PT precisa aprender a governar de forma plural, fazer alianças com outros partidos para ajudar a governar. É preciso ser plural. Há que ser humilde e ter pensamento estratégico. Pobre não tem direito a ter nariz empinado”, disparou.



Mas o centro do ataque foi o bloco conservador do PSDB-PFL, no que Lula caracterizou como uma disputa entre dois projetos de governo. “De um lado estão aqueles que só sabem contrair dívidas e vender o patrimônio público. Nosso projeto é de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. Por isso, vamos ganhar essas eleições nas ruas”, garantiu. E disse que os adversários tentaram criar  no país “o mesmo caos que levou Getúlio Vargas à morte”.



Sobre o debate de domingo, Lula comentou que nunca havia visto “tanto ódio e raiva na cara de um opositor”, referindo-se a Alckmin. E destacou a passagem sobre a política externa. “A política externa é o que os deixa mais irritados. Preferem estar colonizados. Quando Bush chamou o Lula pra guerra do Iraque ele disse 'Tô fora! Minha guerra é contra a fome e contra a miséria no meu País!'”, disse, muito aplaudido neste trecho.



* Colaborou Bernardo Joffily