Por que Alckmin diz que “errou” no debate das privatizações

Por Bernardo Joffily
Geraldo Alckmin deu um cavalo-de-pau na sua linha de campanha nesta quinta-feira (19): após 11 dias de insistência no tema, ele disse à Folha de S. Paulo que “errou” na discussão sobre privatizações. “Acabamos embarcando n

“Eu acho até que nós erramos no seguinte sentido: eu fiquei indignado com a mentira. Acabamos embarcando neste debate, não pelo mérito, mas pela mentira reiterada”, foi a afirmação do candidato presidencial do PSDB-PFL, na sabatina realizada pelo diário paulista. “Nem acredito que isso tenha tanto impacto”, agregou.



 Uma “autocrítica” que é uma guinada



Novamente, Alckmin desmentiu que pretenda privatizar as grandes estatais remanescentes — Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios. “É óbvio que não passa na cabeça de ninguém e isso não está no meu programa”, garantiu. Mas disse também que “essa pauta da privatização acabou sendo supervalorizada, uma coisa que não existe, no fundo”. E afirmou que “o que foi feito é correto” em relação às privatizações do governo FHC.



A “autocrítica” é uma guinada. Há 11 dias contados — desde o debate com Lula dia 8 na TV Bandeirantes — o candidato tucano vinha privilegiando o tema. Ainda na véspera da sabatina ele até posou para a mídia com um boné do Banco do Brasil e um blusão com as marcas das outras estatais que sobraram. E no debate foi ele que puxou o assunto, que não tinha vindo à baila, para prometer as não-privatizações.



Ao que parece, a insistência “supervalorizada” do candidato acabou por ter um efeito duplamente negativo. Por um lado, deixou desconfiados os eleitores que são contra as privatizações: alguns inclusive recordaram que na campanha de 1994 para o governo de São Paulo Alckmin e Mário Covas se comprometeram, por escrito, nas portas da CPFL, Eletropaulo e Cesp, a não privatizar essas estatais, depois fizeram o contrário. E por outro lado atiçou os adeptos da privataria.



Entre estes, chamou atenção a entrevista-puxão de orelha dada por Luiz Carlos Mendonça de Barros nesta quarta-feira (18) para Renata de Freitas, da agência de notícias britânica Reuters. Mendonção, como é conhecido, disse que Alckmin não teve “coragem” de defender as privatizações como devia.



O  economista que “faz a cabeça de Alckmin”



Quem é Mendonça de Barros? É o economista que “faz a cabeça de Alckmin”, segundo reportagem da revista Exame, do ultra-alckinista Grupo Abril. Quando o hoje presidenciável ainda taxiava com sua candidatura, era ele quem tocava os assuntos econômicos nas reuniões semanais no Palácio dos Bandeirantes.



Mendonção é também um especialista no assunto. Como ministro das Comunicações coube a ele capitanear a maior privatização do governo FHC, a da Telebrás, em 1998, por R$ 21 bilhões. E é, justiça se faça, um homem sem papas na língua, defensor aberto da privatização da Petrobras.



No final do governo Fernando Henrique, numa palestra na Abamec, em São Paulo, ele defendeu que ''o governo já deveria pensar na privatização da Petrobras, seguindo a mesma lógica adotada no sistema Telebrás''. E ainda no ano passado, na Exame (nº 0844, 10/06/2005), disse que “se eu estivesse no próximo governo, trabalharia forte na privatização da Petrobras”. Para ele, “deveríamos quebrar esse monopólio que hoje não se justifica”, pois “a questão tem que ser avaliada de maneira objetiva, não ideológica” e “quando a empresa pública não tem mais razão de existir, ela precisa ser extinta, e o negócio, vendido para a iniciativa privada'' (clique aqui para saber mais lendo Guru econômico de Alckmin defende privatização da Petrobras).



Para Mendonção, Alckmin “não tem coragem”



Foi com esta “autoridade” que o guru econômico de Geraldo Alckmin puxou a orelha de seu discípulo. E puxou mesmo. Ele disse na Reuters que a vinculação de Alckmin a um projeto privatista “cola principalmente porque o Alckmin não soube lidar com isso”. Afirmou que o candidato tinha que “defender as privatizações feitas no governo Fernando Henrique Cardoso”. E arrematou: “Como o Alckmin não tem coragem de falar isso, de defender isso, prevalece o mal-estar”.



“O economista que faz a cabeça de Alckmin” mostrou-se cético sobre o desempenho do seu candidato no dia 29. “Acho que agora a coisa ficou confusa. Alckmin perdeu o momento dele, foi um erro, e agora não sei se recupera”, disse.



Segundo a última pesquisa Datafolha, desta terça-feira (17), a vantagem de Lula sobre Alckmin se expandiu de 12 para 20 pontos percentuais. Segundo o Vox Populi de hoje (19), a vantagem foi de 10 para 20 pontos. Isto justamente na fase em que o tucano posou de “estatista”. Resta saber se ele vai ter mesmo “coragem” de ir fundo no rumo apontado por Mendonção. E, se tiver, qual resultado isso terá nas urnas…