O mandato do segundo turno é para avançar a luta do povo
Por José Reinaldo Carvalho*
A reeleição de Lula abre uma nova página na trajetória de luta do povo brasileiro por sua emancipação nacional e social, caminho longo que comportará várias batalhas. Por isso não fazem sentido as propostas formuladas por se
Publicado 26/10/2006 19:41
No próximo domingo, mais uma vez o povo brasileiro irá às urnas. Confirmará a reeleição de Lula da Silva para mais um mandato de quatro anos. A julgar pelas sondagens poderá ser uma vitória acachapante do atual presidente. A tal ponto que aquelas forças que temiam o segundo turno comemoram que se tenha dado ao eleitorado uma nova oportunidade para melhor reflexão sobre os projetos em contenda.
Inversamente, a neodireita tucana, com todos os seus aliados das carcomidas classes dominantes e oligarquias brasileiras, já exibe sinais de arrependimento: por ter, no final da primeira volta, criado um clima artificial anti-Lula, que hoje se volta com mais força contra os seus próprios protagonistas. Hoje essas forças correm o risco de derrota humilhante, o que constituirá novos obstáculos na sua caminhada golpista e suas intentonas de voltar ao vértice do poder nacional.
Um bom embate, sobretudo no segundo turno
Restrições antidemocráticas na legislação eleitoral, um padrão de debate e abordagem de temas imposto pelas leis do “marketing” – coleção de empulhações que em algum momento a esquerda haverá de debater e superar, para que a “americanização” das campanhas eleitorais não emascule a iniciativa popular – , uma posição política em alguns momentos timorata e acentuadamente centrista fizeram com que a campanha eleitoral que ora se encerra ainda ficasse muito a dever ao povo em termos de profundidade e contundência de uma mensagem de mudança.
Não obstante, tem sido bom o embate, sobretudo o do segundo turno, para o movimento democrático, popular e progressista brasileiro. A esquerda conseqüente se robusteceu politicamente, ao passo que a direita neoliberal e seus aliados encontram-se desnorteadas no embate político. A situação objetiva levou o presidente Lula a abordar com mais clareza temas delicados, como os das privatizações, da despesa pública, da política externa, do modelo de desenvolvimento, da integração latino-americana, do combate às abissais desigualdades sociais, assumindo compromissos que objetivamente o confrontam com teses neoliberais e com a lógica de dominação imperialista no mundo atual.
Mercê disso e do risco de retorno da direita neoliberal ao centro do poder, a campanha do segundo turno reaglutinou importantes setores da esquerda e do movimento popular que tiveram um comportamento tíbio no primeiro turno, ou apoiaram a candidatura da senadora Heloísa Helena, ou mesmo encontravam-se em posição vacilante e tendente ao voto nulo. Foi claro o posicionamento pró-Lula da maioria esmagadora das forças democráticas e progressistas. Somente uma minoria renitente, cujo discurso não raro resvalou para a agressão e até a provocação, quedou em posição anti-Lula. O eleitorado dos candidatos que concorreram supostamente à esquerda da coalizão “A Força do Povo” e foram derrotados revelou-se mais sábio: migrou quase inteiramente para Lula. Internacionalmente a candidatura de Lula também granjeou apoio entre forças democráticas, socialistas, comunistas, governos progressistas e intelectuais críticos.
Saídas surgirão do confronto com a direita
Tudo isso acumula e é o resultado mais precioso que dará às forças da esquerda conseqüente elementos para seguir no bom combate pelas mudanças tão necessárias a pôr o Brasil num outro rumo, de democracia ampla, sem cláusula de barreira e outras restrições no sistema político-eleitoral, soberania nacional e progresso social.
A reeleição de Lula representará objetivamente uma derrota contundente para a direita neoliberal e os planos imperialistas para a região. Por isso, numa demonstração das suas tendências antidemocráticas e golpistas, os setores que estão sendo derrotados já estão elaborando a estratégia de combate desde já ao segundo governo Lula. Falam no “terceiro turno” das eleições, em “falta de legitimidade” do eleito para exercer o mandato. E já anunciam uma nova campanha pelo impeachment.
Lula terá na sua expressiva votação o primeiro e mais forte fator de governabilidade. Diante de qualquer questionamento, terá o trunfo da consagração popular. Para manter e ampliar sua força, deverá construir uma maioria política sólida dentro e fora do Congresso, o que se traduzirá por uma ampla coalizão de forças políticas e sociais, baseada no programa vitorioso, na luta para abrir um rumo de desenvolvimento nacional com soberania, justiça e progresso social. Nisso e na mobilização popular encontrará o respaldo para enfrentar a dura oposição dos neoliberais do PSDB, do PFL e seus aliados. Com essa gente não há termo de conciliação. Dois projetos se confrontaram durante a campanha. É deste confronto, e não de sua diluição, que surgirão saídas avançadas para os graves problemas nacionais.
Reeleito com a força do povo, o papel de Lula na história se engrandecerá se o segundo mandato fizer avançar a luta do povo. E esta exclui o entendimento e a conciliação com o neoliberalismo, que no fundo é submissão aos poderosos interesses contrariados na contenda eleitoral que se encerra.
* Jornalista, diretor de Comunicação do Cebrapaz e membro da Comissão Política do CC do PCdoB