Cuba x EUA: Vermelho inicia especial sobre o bloqueio à Ilha

O governo de Cuba apresentará pela 15ª vez na Assembléia Geral da ONU, no próximo dia 8 de novembro, uma resolução pedindo o fim do bloqueio econômico, financeiro e comercial imposto oficialmente pelos Estados Unidos ao país desde 7 de fevereiro de 1962.

Em virtude do bloqueio, Cuba não pode exportar nenhum produto aos Estados Unidos, nem importar qualquer tipo de mercadoria norte-americana. É proibida também a comercialização de todo tipo de produtos junto a filias dos EUA em outros países. Além disso, a Ilha também não pode receber turismo norte-americano, usar o dólar em suas transações com o exterior e ter acesso a crédito de instituições financeiras multilaterais (nem fazer qualquer negociação com elas), entre outras restrições condenadas pelas normas do Direito Internacional.



Um caso recente ilustra à perfeição o quanto o bloqueio pode ser ao mesmo tempo violento e desprovido de qualquer sensatez. O jovem cubano Raysel Sosa Rojas, de 13 anos, foi um dos três vencedores do 15º Concurso Internacional Infantil sobre o Meio Ambiente, realizado na Argélia, em junho, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Os prêmios para os melhores trabalhos eram câmeras fotográficas digitais. No entanto, o jovem cubano não recebeu a câmera da empresa japonesa Nikon, como os outros dois agraciados de outros países.



Um representante da companhia japonesa argumentou que não podia entregar o prêmio ao jovem porque a câmera continha componentes fabricados nos Estados Unidos, condição que caracterizaria uma transgressão às leis do bloqueio. Diante de fato tão absurdo, o presidente cubano Fidel Castro tomou providências para que o governo adquirisse uma câmera semelhante e presenteasse o rapaz.



ONU
Em 2005, a resolução apresentada por Cuba obteve o apoio de 182 países na ONU – resultado semelhante aos das votações ocorridas desde 1992. Como tornou-se praxe nessa disputa, os Estados Unidos ficaram isolados na defesa do bloqueio, mas mesmo assim nenhuma mudança foi tomada. Pelo contrário.



No último dia 18 de outubro, o governo cubano denunciou o recrudescimento do bloqueio. Segundo Josefina Vidal, diretora do Departamento de América do Norte da Chancelaria de Cuba, as últimas medidas são ''uma forma refinada ainda de atacar a economia cubana, mas não por isso menos perversa, afetando os principais ramos da atividade econômica e as principais fontes de recursos para o desenvolvimento do país''.



Vidal apresentou à imprensa mundial algumas informações que ilustram sua queixa. Segundo ela, desde o início do bloqueio até 2005, o prejuízo econômico causado é da ordem de US$ 86,1 bilhões. Entre 2003 e 2005, apontou, ''houve uma diminuição de 54% nas viagens a Cuba de parentes de cubanos residentes nos EUA''. Além disso, os intercâmbios acadêmicos, culturais e científicos, entre outros, caíram praticamente ''ao nível mínimo'' e ''houve uma intensificação maior na perseguição contra as transações comerciais e financeiras de Cuba no mundo''.




Em uma conta rápida, nota-se que em 43 anos (entre 1962 e 2005), levando-se em conta o total de US$ 86,108 bilhões de prejuízos apontados pelo governo cubano, obtém-se uma média anual de aproximadamente US$ 2 bilhões. No entanto, somente em 2005, o dano econômico direto causado pelo bloqueio ultrapassou a cifra dos US$ 4 bilhões, numa prova inconteste do recrudescimento da política dos EUA contra Cuba.



É esse mesmo recrudescimento o tema do segundo texto da série de reportagens sobre o bloqueio dos EUA contra Cuba, a ser publicado nesta quinta-feira, 2 de novembro.