Cuba x EUA: Os efeitos sociais do bloqueio – parte 1

Como já foi visto em outra reportagem desta série sobre o bloqueio econômico, financeiro e comercial imposto a Cuba pelos Estados Unidos, calcula-se que o prejuízo causado aos cubanos seja da ordem de US$ 86 bilhões. Apesar de ser um valor expressivo, ele

Os danos causados aos setores de maior sensibilidade social em Cuba também sofreram maior impacto nos últimos dois anos, desde que o governo norte-americano publicou o relatório “Comissão de Ajuda para uma Cuba Livre”. Nesta reportagem, veremos algumas de suas conseqüências na alimentação, na saúde e na educação.



Alimentação
Apenas no período entre abril de 2005 e março de 2006, o bloqueio provocou afetações da ordem de US$ 62 milhões à indústria alimentícia cubana, especialmente por seu impacto negativo na produção de alimentos para o consumo da população. Estima-se que, com esse valor, seria possível reformular e modernizar grande parte da indústria de laticínios do país.



A proibição do acesso ao mercado dos EUA – onde estão as melhores empresas na indústria avícola – limitou a capacidade de Cuba para introduzir melhorias tecnológicas neste ramo. Segundo números informados pelo governo cubano, a aquisição de algumas estações de incubação e outros insumos teria resultado num aumento produtivo da ordem de 133 milhões de ovos.



As dificuldades de negociação com outros países acabam gerando um outro grave prejuízo ao governo cubano: o armazenamento por longos períodos de boa parte dos alimentos produzidos na Ilha. Somente em 2005, estimam-se gastos da ordem de US$ 12 milhões, especialmente pela necessidade de manter refrigerados certos produtos.



O setor da pesca também sofre com o bloqueio. Mais uma vez, estão nos Estados Unidos os melhores equipamentos de controle e gestão da segurança dos alimentos. A impossibilidade do acesso a esse tipo de aparelho faz com que o governo cubano tenha que recorrer a outros sistemas de controle, muito mais caros e nem sempre tão eficientes.



Saúde
Um dos maiores problemas enfrentados por Cuba nos últimos anos deve-se às dificuldades para compra de medicamentos no exterior. Por conta do bloqueio, a maioria das empresas se vê impossibilitada de negociar com os cubanos.



Essa dificuldade tem se mostrado latente especialmente em áreas sensíveis como o combate à tuberculose e à malária. O tratamento de doenças sexualmente transmissíveis também foi afetado. De modo geral, Cuba conseguiu manter seu nível de excelência nessa área, mas a preços muito mais elevados do que num cenário sem o bloqueio.



Em 2005, a ONG Atlantic Philantropic, dos EUA, se viu impossibilitada de doar ao Instituto de Nefrologia Cubano um completo Laboratório de Biologia Molecular, em virtude da proibição imposta pelo Departamento de Estado norte-americano. Não é possível mensurar a quantidade de pacientes que deixaram de ter um atendimento de maior qualidade por conta disso, mas é certo que muitas vidas seriam poupadas com o auxílio de equipamentos mais modernos.



O Instituto de Oncologia e Radiobiologia viu seus trabalhos de radioterapia funcionarem aquém dos níveis normais por um motivo aparentemente banal. Suas impressoras de alta resolução, da marca LexMark, não puderam ser consertadas, pois suas peças para manutenção deveriam vir do mercado norte-americano.



Dados do governo cubano apontam que, apenas nos dois últimos anos, o bloqueio resultou em prejuízos da ordem de US$ 48,6 milhões na área da saúde – cifra que leva em conta apenas os danos financeiros, deixando de lado o sofrimento e a dor causada a milhares de cubanos. Com esse montante (igual ao total utilizado anualmente para a compra de materiais descartáveis de uso médico em todo o país), todas suas clínicas e hospitais poderiam ter sido remodelados.



Educação
Como o setor de educação sempre foi uma prioridade indiscutível em Cuba, o bloqueio imposto pelos Estados Unidos não foi capaz de diminuir a capacidade ou a qualidade do serviço oferecido pelo governo cubano. No entanto, alguns obstáculos não puderam ser ignorados, especialmente no que diz respeito à manutenção das instituições de ensino do país.



Estima-se que somente nos últimos dois anos, o governo cubano tenha gastado US$ 2,3 milhões a mais do que o necessário em materiais de construção para manter suas escolas com o mesmo padrão de excelência. Com esse valor, 40 creches poderiam ter sido remodeladas.



Principalmente em relação à educação, a atitude do povo e do governo de Cuba diante do bloqueio foi exemplar: a política norte-americana simplesmente foi encarada de frente, numa tentativa de assimilar com o mínimo de prejuízos seus efeitos.



Apesar desse modo combativo de lidar com a política norte-americana (minimizado pela ampliação de investimentos do governo cubano no setor), é impossível negar que não haja algum tipo de déficit no orçamento do país em virtude do bloqueio. Avalia-se que com US$ 4,4 milhões a mais, seria possível complementar de modo satisfatório o acesso a materiais didáticos, impressos em geral e livros para estudantes de todas as idades.



Na próxima reportagem da série, serão abordados os prejuízos causados aos setores dos transportes, dos esportes, da cultura e do turismo, em virtude do bloqueio.



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