Rumsfeld: vendedor de Tamiflu e reatores nucleares

Donald H Rumsfeld, demissionário secretário da Defesa dos Estados Unidos – a quem já chamaram Dr Strangelove, referindo-se ao completo desastre que é a ocupação americana do Iraque, é caracterizado como um dos homens mais rudes da Casa Branca, defensor da

Donald Rumsfeld nasceu em 9 de julho de 1932, em Chicago, no Estado de Illinois. Rumsfeld faz parte do grupo da direita republicana americana conhecida pelo apelido de Falcões. Eles defendem que os E.U.A têm que impor seu poder no mundo político, estratégico, cultural e economicamente, por quaisquer vias. Os falcões já são conhecidos há muito tempo na Casa Branca, desde antes da Guerra do Golfo de 1991, são também conhecidos como neoconservadores.


 


Além de Bush, fazem parte desse grupo a Secretária de Estado Condoleezza Rice, o presidente do Banco Mundial Paul Wolfowitz e o vice-presidente americano Dick Cheney, tido como o mais inteligente do grupo e o mentor da administração Bush.


 


Mas para compreender o personagem é preciso mergulhar nos arquivos da Bolsa americana. É aí que se descobre uma espantosa carreira de homem de negócios, feita de ligações perigosas entre o público e o privado.


 


Ouvido em 7 de maio de 2004 pelo Senado americano, o secretário para a Defesa da administração Bush teve de reconhecer a sua ''responsabilidade'' nas humilhações e torturas infligidas aos detidos na prisão iraquiana de Abu Ghraib. Na época do escândalo, ele não se demitiu. Não hesitando em desculpar-se com o seu estado-maior, o inflexível ''Rummie'' escudou-se nas suas convicções.


 


Desde os seus começos na esteira do presidente Nixon, no fim dos anos de 1960, Rumsfeld prossegue uma dupla carreira: o homem político esconde um homem de negócios. É o segredo de ''Don'' que os meios de comunicação americanos, que ficaram ocupados a incensar o cabo-de-guerra que tomou o comando após os atentados de 11 de Setembro, evocam apenas por meias palavras.


 


Um exame minucioso da declaração de patrimônio entregue pelo secretário para a Defesa quando da sua tomada de posse em 2000 (um calhamaço de 50 páginas!) permite constatar que este multimilionário é pura e simplesmente o chefe de fila de uma rede que navega, há 40 anos, entre os conselhos de administração da ''corporate America'' e os gabinetes governamentais.


 



Os arquivos da SEC (o polícia da Bolsa americana) e o estudo dos documentos desclassificados da administração mostram, igualmente, que Rumsfeld e os seus são peritos no manejo das ''revolving doors'', essas portas giratórias que permitem efetuar frutíferas idas e voltas entre o privado e o público.


 


Ao obter modificações às leis ou influenciando nas decisões da administração em nome de métodos e comportamentos próprios do mundo dos negócios, Rumsfeld e os republicanos de extrema direita o que fazem muitas vezes é satisfazer o seu apetite financeiro.


 



Da limpeza das fardas à formação dos polícias iraquianos, da alimentação dos soldados da infantaria  à busca de informações, raras são as funções militares, com exceções da guerra propriamente dita, que não foram entregues a empresas terceirizadas. E raras são também as empresas que não contam no seu conselho de administração com algumas eminentes figuras ultraconservadoras.


 


Segundo um inquérito interno conduzido pelo exército norte-americano, o Pentágono chegou ao ponto de contratar uma empresa privada – Caci International – para os interrogatórios dos presos de Abu Ghraib. Entre os administradores da Caci encontra-se o general Larry Welch, antigo comandante da US Air Force e velho conhecido de Donald Rumsfeld.


 


Em março de 2003, ele Rummie o designou para fazer a avaliação de um plano de armamento futurista, dotado de um orçamento de 15 bilhões de dólares e de que a Caci International é ainda hoje um dos principais beneficiários. O fato de o general Welch, auditor ''independente'' de um programa governamental, ser também o administrador de uma companhia que lucra com este programa não deixava Rumsfeld surpreso.


 



Pequena biografia


Rumsfeld formou-se em História na Universidade de Princeton, no Illinois, mas depois seguiu carreira militar na Marinha. Durante três anos foi piloto e instrutor de vôo, passando depois para a reserva, onde cumpriu apenas funções administrativas.


 


Depois Rumsfeld foi, sucessivamente, assessor parlamentar no Congresso, em 1957, e desse momento em diante trabalhou como executivo financeiro em bancos privados.


 


Voltou a dedicar-se à política em 1962, quando foi pela primeira vez eleito Representante (deputado) republicano pelo Estado de Illinois, feito que repetiu mais duas vezes até 1969. A partir desse ano trocou o Congresso pelos gabinetes governamentais, tendo trabalhado nos departamentos do Tesouro e da Defesa. Foi também conselheiro do presidente Nixon.


 


Em 1975 foi nomeado Secretário de Defesa, sendo o mais jovem a ocupar o cargo na história do país. Naquele momento, o presidente era Gerald Ford.


 


Depois de abandonar a chefia do Pentágono em 1977, voltou a trabalhar em empresas privadas, embora tenha permanecido sempre ligado ao Governo. Assim, na década de 80 representou os EUA nas Nações Unidas, participou de Conselhos Presidenciais sobre Controle de Armas, Sistemas Estratégicos, Relações Bilaterais entre EUA e Japão e Serviços Públicos.


 


Foi também membro da Comissão Econômica Nacional e o enviado especial dos EUA ao Médio Oriente durante a presidência de Ronald Reagan, que esteve no poder entre 1981 e 1989. Toda a sua riqueza está relacionada com esse período.


 


Rumsfeld dirigiu ainda a comissão bi-partidária sobre mísseis balísticos. Em 1998 apresentou um ''estudo'' onde revelava que as maiores ameaças para a segurança dos EUA eram provenientes de países como a República Popular Democrática da Coréia e o Irã. Coincidentemente, esses países integram o ''Eixo do Mal''  propalado por Bush.


 


Em 2001, Donald Rumsfeld, desta vez pelas mãos de seu amigo George W. Bush, escolhido pela Justiça americana como presidente americano, após milhares de evidências de fraude nas eleições, foi de novo nomeado Secretário de Defesa. Saiu das suas mãos a atual ''planificação'' da nova estratégia imperialista americana para o século 21.


 


Seu amigo Bush o tem em alta conta. Bush comenta na biografia pessoal de Rumsfeld feita pelo governo americano que ''Don e eu estabelecemos três objetivos claros para guiar a política de defesa norte-americana''.


 


Após filosofar sobre união entre povo e exército, defesa contra ameaças e utilização de tecnologias, Bush diz a que veio Rumsfeld: ''Promoveremos a paz redefinindo a forma como as guerras serão disputadas''.


 


Do presidente Bush sobre Rumsfeld: ''Este é um homem que possui grande poder de julgamento, forte visão e será um grande secretário da Defesa – outra vez''.


 


O homem de 2 bilhões de dólares


 


''Finalmente, as peças do quebra-cabeças começam a fazer sentido,'' escreve o Dr. Joseph Mercola, autor de um programa de saúde amplamente conhecido nos EUA por ''Programa de Saúde Total'' (Total Health Program). ''O presidente Bush quis instalar o pânico aqui, dizendo que, no mínimo, 200 mil pessoas iriam morrer com a pandemia da gripe das aves e que o número de mortes poderia chegar aos dois
milhões aqui na América''.


 


''Este embuste foi usado para justificar a compra imediata de 80 milhões de doses de Tamiflu, um remédio inútil que não trata de forma nenhuma a gripe das aves, apenas diminui o tempo de duração da doença e que pode contribuir para que o vírus sofra mutações mais letais,'' continua Mercola.


 


''Os Estados Unidos fizeram um a compra de 20 milhões de doses desta droga inútil a um custo de 100 dólares por dose''. A verba atinge espantosos 2 bilhões de dólares.


 


O secretário da Defesa Donald Rumsfeld, antigo presidente da Gilead, o fabricante original do Tamiflu, ainda obtém lucros milionários, já que continua a ser um dos maiores acionistas da companhia.


 


Melhor ainda, o porta-voz do Bilderberg — uma associação internacional informal de personalidades poderosas no mundo da política e da alta roda financeira, que se encontram todos os anos — Etienne F. Davignon (que já foi vice-presidente da Suez-Tractebel) e o ex-secretário de Estado George Shultz,
(membro honorário do Instituto Hoover e da Universidade de Stanford) também fazem parte da direção da Gilead.


 


Outro Bilderberger habitual é Lodewijk J.R. de Vink, com lugar na direção da Hoffman-La Roche, parceira da Gilead. Em outras palavras, a dramatização da ''Gripe das Aves'' tem gerado lucros escandalosos a indivíduos como Shultz, Rumsfeld, Davignon, e de Vink.


 


E de onde é que vem o Tamiflu?


 


Segundo o site da Gilead, ''em setembro de 1996, a Gilead e a F. Hoffmann-La Roche Ltd.chegaram a um acordo de colaboração no desenvolvimento e comercialização de terapias para tratar e prevenir gripes virais.


 


Segundo o acordo, a Roche teria direito exclusivo a nível mundial aos inibidores de gripe propriedade da Gilead, incluindo o Tamiflu. A Roche tem os direitos comerciais a nível mundial do Tamiflu, e a Gilead recebe pagamentos da Roche pelo cumprimento dos sucessivos estágios da investigação e prêmios pelas vendas do produto.


 


É bom lembrar que Rumsfeld adora negociatas farmacêuticas. Foi ele, como diretor da G.D. Searle, que pressionou a Food and Drug Administration FDA (agência americana que regula e fiscaliza a fabricação de comestíveis drogas e cosméticos) para aprovar o Aspartame.


 


A FDA bloqueou a sua aprovação durante dez anos até Rumsfeld ter conseguido a sua aprovação. Hoje, o Aspartame, um adoçante artificial tão onipresente como a cocaína, é comercializado mundialmente.


 


Reator nuclear, baratinho


 


Outra faceta do empresário Rumsfeld é a de vendedor de reatores nucleares. O ex-secretário americano da Defesa, era um dos diretores de uma empresa que, em 2002, vendeu dois reatores nucleares de água leve à República Popular Democrática da Coreia, cuja administração Bush enfiou no famigerado saco do ''Eixo do Mal''.


 


O contrato foi assinado no âmbito de um acordo entre Washington e Pyongyang, num momento em que o então presidente Bill Clinton defendia uma política de aproximação com o governo coreano.


 


Entre 1990 e 2001, Rumsfeld fazia parte da direcção da ABB, com base em Zurique, quando este gigante da engenharia européia conseguiu ganhar um contrato de 200 milhões de dólares para conceber os dois reatores nucleares.


 


O seu salário era então de 190 mil dólares anuais. Em 2001 deixou o cargo para se juntar à entourage do recém-eleito presidente George W. Bush.


 


Rumsfeld não se lembra


 


O negócio dos reactores fazia parte de uma política de aproximação entre os dois países: os EUA comprometiam-se a construir os reatores de água leve e as autoridades coreanas suspendiam os seus reatores de água pesada, capazes de produzir plutônio enriquecido, com aplicações militares.


 


Além de isso, a Casa Branca comprometia-se também com fornecimentos de petróleo. O então presidente executivo da ABB, Goran Lindahl, visitou Pyongyang em 1999 para anunciar o ''acordo de cooperação ampliado de longo prazo'' com o governo coreano.


 


A empresa abriu mesmo um escritório na capital e, no ano seguinte, o negócio era assinado. Anos depois, o gabinete do chefe da Defesa americana afirmou que este ''não se lembra de (o negócio) ter sido abordado pela direcção em nenhum momento''. E em declarações à revista americana Newsweek, a sua porta-voz, Victoria Clarke, disse que ''não houve votação sobre isto''.


 


Mas um porta-voz da ABB garantiu ao diário britânico The Guardian que ''os membros da diretoria foram informados sobre o projeto de distribuição de sistemas e equipamento de reatores de água leve''.