Dezenas de milhares no enterro de 18 civis em Gaza

Dezenas de milhares de palestinos compareceram nesta quinta-feira (9) aos funerais dos 18 civis mortos um dia antes por obus de Israel. Entre os mortos estão sete crianças e quatro mulheres, todos atingidos quando tanques israelenses atiraram em sua casa,

Os cadáveres foram envolvidos na bandeira amarela do movimento Al Fatá e conduzidos em padiolas por entre a multidão que enchia as ruas de Beit Hanoun, na faixa de Gaza. No público enlutado, algumas pessoas desmaiaram.



“Quem será o próximo?”



Um dos participantes do enterro, Abu Shabat, declarou à TV independente Al Jazira: “Todos estamos tristes, e preocupados também. Vamos sepultar esta família e nos perguntamos: quem será o próximo? Meus netos? Meu vizinho?”



O cemitério, que estava em obras, foi aberto às pressas para acomodar as vítimas do obus, pois nenhum outro na cidade possui terra disponível para permitir que tantas pessoas sejam enterradas conjuntamente. Os corpos chegaram num comboio de 18 ambulâncias, trazidos do hospital onde estavam através de um conjunto de construções com as marcas da artilharia israelense.



As sepulturas recém-escavadas, em ums única fila, estão assinaladas por um bloco de concreto. Uma bandeira palestina tremulava sobre cada uma delas. Dois aviões israelenses, não identificados, sobrevoavam a cena.



Um funcionário da Al Fatá se dirigiu à multidão, com um megafone, pedindo vingança. Palestinos armados acompanharam o cortejo e deram tiros para o ar.



Uma semana de agressão



Beit Hanoun foi o alvo de uma semana de ofensiva da artilharia israelense, que matou 80 palestinos, pelo menos metade deles civis. O disparo do obus ocorreu 24 horas depois das tropas de terra abandonarem a cidade.



Metade dos mortos pertence à família al-Athamna, bem conhecida na cidade, incluindo muitos médicos e outros profissionais liberais. Familiares das vítimas disseram que fugiram durante a ofensiva, mas retornaram após a retirada das tropas.



Organizações armadas palestinas fizeram um chamamento à vingança dos assassinatos, enquanto governos de outros países condenaram o ataque. Abdul Hakim Awad, militante da Al Fatá, disse: “Assassinos em Israel, vocês jamais serão capazes de derrotar uma criança palestina. Nós dizemos, olho por olho e vida por vida. Não haverá segurança em Ashkelon, nem em Tel Aviv ou Haifa, enquanto nosso povo em Beit Hanoun não estiver seguro”.



O ataque mais mortífero em 6 anos



Testemunhas disseram que muitas das vítimas foram mortas quando fugiam de suas casas, depois dos primeiros disparos. O bombardeio foi o mais mortífero dos últimos seis anos no que se refere a civis palestinos, e interrompeu os movimentos do presidente palestino, Mahmoud Abbas, no sentido de retomar conversações de paz com Israel.



Em Nova York, o observador palestino na ONU, Riyad Mansour, classificou como “terrorismo de Estado” a ação israelense. “Isto são crimes de guerra, e os seus perpetradores precisam prestar contas perante a lei internacional”, disse Mansour. O governo de Israel, porém, insiste que o bombardeio foi “acidental” e limitou-se a fazer uma declaração dizento que “sente muito” pelas mortes.