Oposições entram em fase de lutas internas

Por Bernardo Joffily
A oposição ao governo Lula perdeu não só a e eleição no dia 29 de outubro, mas também a unidade. Ao fim de um segundo turno onde foram muitas as traições, desfez-se o bloco conservador PSDB-PFL. Dentro de cada uma dessas siglas há

No PFL a crise é mais grave porque a legenda foi a maior derrotada nas urnas de outubro: elegeu apenas um governador, de filiação recente e incerta, o ex-tucano e ex-pepista José Roberto Arruda, no Distrito Federal.



O mau desempenho acende a disputa intestina. E esta assume a feição de uma ofensiva dos grupos carioca (prefeito Cesar Maia), catarinense (senador Jorge Bornhausen, presidente da sigla, às portas da aposentadoria) e paulista (Gilberto Kassab, vice de José Serra que assumiu como prefeito da capital, reforçando uma seção pefelista tradicionalmente fraca) contra os nordestinos.



Ajuste de contas com ACM



Outrora o PFL teve nas oligarquias do Nordeste o seu principal reduto. E entre estas sobressaía o “carlismo”, grupo baiano do senador Antonio Carlos Magalhães, que no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso chegou a exercer uma espécie de vice-reinado, com ambições presidenciais declaradas.



Mas o grupo de ACM sofreu na Bahia talvez a pior derrota desta eleição, perdendo para o governo, o Senado e a Câmara (clique aqui para ler O inverno do oligarca: ACM perdeu todas). Foi o sinal para os correligionários sulistas do velho senador colocarem em questão o perfil nordestino do PFL. O acerto de contas, feito em nome da modernidade, promete ser implacável.



Aécio, Serra e a briga por 1010



As urnas de outubro pouparam o PSDB de uma derrota de proporções pefelistas. Reelegeram Lula mas, já no primeiro turno, entregaram a tucanos os governos dos dois maiores estados brasileiros, São Paulo e Minas Gerais. Ocorre que, por ironia, essas vitórias formatam uma luta interna feroz, entre os governadores José Serra e Aécio Neves, com vistas à sucessão presidencial de 2010.



Segundo o observador de Brasília, Aécio já se movimenta para conseguir posições inclusive em São Paulo, com ajuda do poder do Palácio da Liberdade, que não é pequeno. José Serra, um nome mais nacional, por ter sido ministro de FHC e disputado a Presidência em 2002, agita o estandarte da necessidade de dar um perfil de centro-esquerda ao partido.



Conforme Kennedy Alencar, da sucursal da Folha de São Paulo em Brasília, “A disputa entre José Serra e Geraldo Alckmin pela candidatura presidencial do PSDB em 2006 será vista como fichinha perto da contenda que se anuncia para daqui a quatro anos. O duelo entre Serra e o governador eleito de Minas, Aécio Neves, pela candidatura tucana ao Palácio do Planalto em 2010 promete ser mais duro”, prediz o jornalista.



Serra não pretende deixar o PSDB



A fonte brasiliense desmente a hipótese levantada por Kennedy e outros, de que Serra e seu grupo se preparariam para fundar um novo partido. Acredita que a luta se dará mesmo no interior do PSDB, pelo controle da sigla, ao longo dos próximos quatro anos. Ao vencedor, caberá disputar a sucessão de Lula.
E o ex-governador Geraldo Alckmin, que afinal venceu a contenda intratucana de 2006, teve quase 40 milhões de votos em 1º de outubro e quase 38 milhões no dia 29? O interlocutor de Brasília compara-o a um gato que tenta caçar vários ratos ao mesmo tempo.



Alckmin tem um olho na prefeitura paulistana em 2008; outro na presidência do partido (até porque o senador Tasso Jereissati perdeu força com o resultado das urnas cearenses); outro no governo paulista em 2010, em combinação com Serra; e outro ainda, quem sabe, na Presidência da República. O preço de deixar tantas alternativas abertas é entrar em atrito com um número diretamente proporcional de interesses tucanos contrariados.



Aliança não é mais aquela



A fonte avalia que essas forças centrífugas tem dificultado a ação oposicionista, deixando mais campo para o governo Lula negociar a ampliação da sua base de apoio no segundo mandato. Prevê inclusive defecções, e cita como iminente a do govenrador reeleito da Paraíba, Cássio Cunha Lima, hoje no PSDB.



No médio prazo, PSDB e PFL tratarão de manter pelo menos a sincronia nas ações da oposição no Senado e na Câmara. E tentarão reeditar um arco mais amplo de alianças com legendas menores como PPS, PSOL, PDT, que funcionou no ano passado.



Mas essa aliança oposicionista não tem a mesma substância da que funcionou no primeiro governo Lula, sobretudo na crise de 2005 e nas eleições. Aquela era um bloco relativamente coeso; tinha uma hierarquia que dava aos tucanos a primazia; tinha um projeto comum, de voltar ao governo central com uma candidatura coligada. E fracassou. O que se desenha, hoje, é uma unidade de ação bem mais modesta; nos projetos, vigora o cada um por si.