Bolívia: 97% das terras cultiváveis são de grandes empresários

O governo boliviano apresentou dados nesta sexta-feira (17/11) que esclarecem por que seu partido (o MAS) e sua base de apoio parlamentar jogaram pesado no Congresso Nacional para promover uma reforma agrária verdadeira no país. Nada menos do que 97% das

Outro dado mostra como a situação é ainda mais grave: entre aqueles que exercem funções ligadas à terra, apenas 20% se enquadram na categoria de médios ou grandes empresários. Os 80% restantes (camponeses e indígenas, principalmente) ficam com os 3% de terra não-pertencentes a latifundiários, donos de meios de comunicação e políticos conservadores.



Heriberto Lázaro, presidente da Comissão Nacional de Assuntos Indígenas, destaca que algumas famílias chegam a ter mais de 300 mil hectares na Bolívia. ''Enquanto isso, alguns pequenos agricultores não conseguem ter sequer 80 hectares'', lamenta.



Lázaro lembra de outro detalhe que torna a situação ainda mais grave: além de escassas, as terras que os agricultores pobres possuem são, em geral, de pouca qualidade, localizadas em sua maioria na parte ocidental da Bolívia.



''Essas terras são pequenas, de baixa qualidade e pouco produtivas'', comenta Lázaro, lembrando que, além de terem muitas terras, os grandes empresários ainda conseguem com maior facilidade empréstimos em bancos e outros investimentos.



Proposta de Evo
De imediato, o projeto que ainda será analisado pelo Senado prevê que 4,5 milhões de hectares serão desapropriados e distribuídos entre os pequenos agricultores da Bolívia.



Diante da iminente possibilidade de a reforma agrária se consolidar, alguns grandes empresários saíram a público neste semana dando a entender que não aceitarão ceder suas terras.



Para mostrar seu poderio, os empresários marcaram para a próxima terça-feira uma manifestação em repúdio à proposta de reforma agrária defendida pelo presidente Evo Morales.



Ao anunciar a manifestação, Carlos Rojas, presidente da Associação Nacional de Produtores de Oleaginosos, advertiu que ''podemos levar para as ruas nossas ferramentas de trabalho, para mostrar ao governo nacional o que pode deixar de ser produzido neste país''.



Por sua vez, o ministro do Desenvolvimento Rural, Hugo Salvatierra, minimizou as ameaças e estimou que não vão ocorrer medidas de força. ''Se houver um atentado contra o abastecimento no país, o governo vai importar alimentos'', garantiu.



Salvatiera também confirmou a decisão de Evo de apoiar as exigências dos indígenas do leste do país, que marcham há duas semanas para La Paz para exigir a reforma agrária. ''O governo tem a obrigação de atender suas demandas'', disse.



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