Adísia Sá: Comunista no poder

“A presença de Aldo Rebelo na Presidência da República não pode ser medida:transcende ao tempo estipulado de 30 horas – é um dos mais belos capítulos da democracia no Brasil.”

Mereceu destaque na Imprensa a posse de Aldo Rebelo na presidência da República, quando da viagem de Lula a Venezuela neste novembro de 2006.30 horas foi a permanência dele no Palácio do Planalto: não assinou decretos, desapropriação de terras, não autorizou a abertura de arquivos relativos aos embates dos líderes comunistas com as Forças Armadas, tampouco acionou os mecanismos oficiais para localização das ossadas dos guerrilheiros do partido dele (Aldo) mortos durante o regime militar (1964/1985).Foram esses os tópicos enfatizados pela Imprensa…


 


A passagem de Aldo Melo na presidência da República mereceu, também, análises de cientistas políticos, como o cearense Josênio Parente que considerou o fato como “ascensão das massas ao poder”, não causando impacto na sociedade brasileira. O acontecimento emocionou velhos camaradas, como Renato Rabelo que considerou justas as comemorações da interinidade de Aldo, considerando que “na maior parte da luta, não podíamos nem aparecer, hoje estamos na Presidência da República.”


 


É isto aí: a democracia brasileira se desnuda aos olhos da Nação amadurecida, que ultrapassou pesadas e dolorosas etapas para chegar a este momento festejado, sem traumas, ameaças, torturas, perseguições e mortes em calabouços e porões de delegacias e quartéis, sem viúvas de maridos vivos, sem órfãos de pais riscados dos registros oficiais…


 


Há que se lembrar e citar nomes dos que não traíram seus ideais às custas da própria vida, como se deve cultuar-no recesso de lares anônimos-os que também trilharam os caminhos dolorosos da liberdade, da justiça, da igualdade. A presença de Aldo Rebelo na Presidência da República não pode ser medida:transcende ao tempo estipulado de 30 horas – é um dos mais belos capítulos da democracia no Brasil. Eu não tenho dúvida de que num amanhã não distante os Palácios de Governos serão ocupados por membros de qualquer partido político e de coloração ideológica a mais diversa, sem traumas, sem susto, sem surpresa.


 


A democracia social já se faz presente com Lula na presidência, a democracia política com Aldo Rebelo no Planalto.Aguarda-se agora, e que venha logo, a democracia plena, justa, sem distâncias econômicas, sem disparidades culturais, sem barreiras de qualquer natureza…


 


ADÍSIA SÁ é jornalista e articulista do O POVO