Motivo mal explicado reduz a 1/3 encontro Bush-al Maliki

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, elogiou o primeiro ministro do Iraque como um “líder enérgico”, mas disse que seu país vai manter as tropas de ocupação até “completar o trabalho”. Os dois se encontraram nesta quinta-feira (30), em Amã, ca

Bush transmitiu na coletiva de imprensa a opinião do primeiro ministro Nouri al-Maliki, de que uma partilha do Iraque só agravaria a violência. “Ele é um líder enérgico e deseja deixar um Iraque livre e democrático”. Classificou-o também como “o sujeito certo” para seu trabalho.”Nós vamos ajudá-lo e é do nosso interesse ajudá-lo pela causa da paz”, agregou Bush.



Elogios em profusão



“A primeira coisa que me inspira confiança nele é que ele quer assumir responsabilidades”, disse Bush, sobre o apelo de al-Maliki em favor de uma transferência mais rápida do controle da segurança das províncias, das tropas americanas para as do Iraque. “O que eu aprecio é a atitude dele. Em vez dele ficar dizendo para a América resolva seu problema, temos um primeiro ministro que diz: 'Parem de me conter, eu quero resolver o problema”, comentou Bush.



“Eu aprecio a coragem dele. Ele ganhou coragem e mostrou coragem nos últimos seis meses” (tempo de al-Maliki no governo), afirmou. “Ele mostrou um profundo desejo de unificar seu país”, disse ainda Bush, referindo-se às críticas à impotência do governante para encerrar a violência religiosa, em escalada desde o ataque a um santuário xiita em fevereiro.



Sem ofensas



A demonstração de apoio do presidente americano seguiu-se a declarações de funcionários, de que  al-Maliki não se sentia ofendido com o memorial da Casa Branca e nem esnobou Bush em Amã na quarta-feira, quando estava previsto um encontro dos dois.



Bush disse que al-Maliki concordou, durante a conversação, que o Iraque não deve ser retalhado em zonas separadas e semi-autônomas. “O primeiro ministro deixou claro que fatiar o seu país, como alguns sugeriram, não é o que o povo do Iraque deseja, e que qualquer partilha do Iraque só iria levar a um aumento da violência sectária”, disse Bush, após duas horas e meia de discussões sobre a estabilização do país dilacerado pela violência. “Eu concordo”, agregou.



“Não deixaremos que controlem o Iraque”



Já al-Maliki negou que o Irã tenha qualquer influência sobre o Iraque e qualquer participação nos conflitos em sua capital, Bagdá. Disse também que  jamais permitirá qualquer controle estrangeiro sobre o seu país devastado pela guerra — o que soou bizarro, dito ao lado do presidente de um país que há quatro anos mantém 130 mil homens em armas dentro do território iraquiano.



“Já dissemos repetidamente e reafirmamos uma vez mais, que jamais permitiremos que ninguém controle qualquer parte do Iraque”, proclamou al-Maliki, quando indagado sobre a suposta interferência iraniana. “Existem interferências (estrangeiras), mas qualquer menção a controle (estrangeiro) é um exagero”, agregou.



Encurtamento de última hora



A agenda de três dias de conversação Bush-al-Maliki foi abandonada no último minuto. Os dois se encontraram apenas nesta quinta-feira, para um café-da-manhã de trabalho no hotel onde o chefe da Casa Branca se hospedou.



As explicações sobre a mudança nos planos das conversações, que deveriam incluir também o rei jordaniano Abdulá, foram confusas.



Funcionários de Washington disseram que os iraquianos e jordanianos decidiram conjuntamente que três dias não seria o melhor uso do tempo e que as duas partes se encontrariam com Bush em separado.



No entanto, Redha Jawad Taqi, um assessor de alto escalão do político xiita Abdulaziz al-Hakim, atribuiu a mudança ao fato de que o rei pretendia introduzir na pauta o tema do conflito palestino-israelense.



Por sua vez, dois altos funcionários iraquianos da comitiva de al-Maliki disseram que o primeiro ministro relutou em viajar para a Jordânia, e, uma vez em Amã, decidiu que não desejava “uma terceira parte” envolvida em conversações tendo como objeto específico as relações EUA-Iraque.



Presença xiita no governo em suspenso



No Iraque, 30 parlamentares e cinco ministros, leais ao líder xiita Muqtada al-Sadr, iniciaram um boicote ao Legislativo e suspenderam sua participação no governo dito de unidade nacional, em protesto contra o encontro com Bush.



Uma declaração divulgada pelo grupo diz que as conversações entre Bush e al-Maliki eram “uma ofensa aos sentimentos do povo iraquiano e uma violação dos seus direitos constitucionais”.



Encontro pelas costas de al-Maliki



O correspondente da Al Jazira em Amã, Yasir Abu Hilala, avaliou que o clima na reunião de cúpula indicava as preocupações que o rodearam. Ele opinou que al-Maliki pode ter obtido apoio dos EUA para enfrentar as milícias xiitas acusadas de assassinar sunitas, mas pode também ter ficado na dependência de seus aliados políticos ligados a estas mesmas milícias, um movimento que pode lhe custar caro, tanto em apoio americano como em popularidade.



Um comunicado conjunto EUA-Jordânia, divulgado na quarta-feira, reafirmou o apoio ao governo de al-Maliki mas também ao processo político em curso no Iraque. Fontes jordanianas e americanas citadas pela Al Jazira tribuem ao rei Abdulá a descrição de seu encontro com al-Maliki como tendo sido “frutífico, exitoso e claro”, e que o rei transmitira aos americanos o ponto-de-vista iraquiano.



Após o encontro pessoal entre Bush e Abdulá, houve outro mais amplo, com a presença da secretária de Estado Condoleezza Rice, do primeiro ministro, do ministro do Exterior e do chefe do serviço de inteligência da Jordânia. Segundo a Al Jazira, a reunião, sem a presença de al-Maliki, discutiu extensamente a questão iraquiana.