Críticos e internautas detonam filme ofensivo ao Brasil

Uma enxurrada de críticas negativas na mídia. Protestos ostensivos de internautas. Campanhas contra a exibição do filme. Assim vai a sorte de Turistas – um dos filmes mais preconceituosos dos últimos anos, com estereótipos desabonadores do Brasil

Um manifesto na internet pede, em letras maiúsculas, o boicote incondicional ao filme: “Não assistam, não dêem $$$ a uma produção que só visa acabar com nossa imagem”. Correntes de e-mails e blogs têm divulgado uma mesma mensagem contra o filme de terror.


 


O manifesto lembra que “a Embratur está preocupada com a péssima repercussão do filme lá fora” e incita os destinatários: “Vamos fazer deste absurdo, pelo menos aqui no Brasil, um fracasso total de bilheteria”.


 


Nos Estados Unidos, onde estreou sexta-feira, o filme já é um fiasco de público. No final de semana em que ocupou pouco mais de 1.500 salas, Turistas terminou em oitavo lugar no ranking de bilheterias, arrecadando U$ 3,5 milhões (quase R$ 8 milhões). É muito pouco se comparado a estréias do gênero de terror, como Jogos Mortais 3, que arrecadou US$ 33 milhões no primeiro fim de semana que ficou em cartaz.


 


Orkut
A estréia no Brasil está prevista para fevereiro, mas a ira dos cinéfilos locais já é grande. Membros do site de relacionamentos Orkut já criaram comunidades esbravejando contra a produção. “Precisamos boicotar esse filme no Brasil, não ir às salas de cinema na sua estréia, pois o que fazem é uma grande difamação do nosso País”, diz o texto da comunidade “Boicote ao Filme Turistas”, que conta com aproximadamente 3.500 integrantes.


 


“O nosso país tem muitos problemas, muitas questões a serem resolvidas, mas não é a nossa realidade, não é isso que o filme mostra… Que dia alguém foi a praia e encontrou macacos no meio do povo? Que dia vc foi a praia e foi surpreendido com um 'boa noite cinderela'? Eu moro em Salvador e essa não é a nossa realidade”, desabafou um dos membros em fórum da comunidade “Boicote ao Filme Turistas”.


 


Turistas gira em torno de um grupo de jovens norte-americanos em viagem ao Brasil. O ônibus em que viajam sofre um acidente, e eles se perdem na mata. Ao serem ajudados por moradores de uma prainha, os turistas caem na festa. Só que acabam sendo drogados e vão parar na ponta do bisturi de um colhedor de órgãos humanos. Em meio a isso, há erros primários de sobra: cariocas falam espanhol, e selvas ficam ao lado de metrópoles.


 


Riscos na distribuição
A Paris Filmes, distribuidora nacional de Turistas, já enfrenta protestos contra o lançamento e prepara uma campanha para dissociar sua imagem da atual polêmica: promete inserir uma mensagem ao público no início do filme, dizendo ser contra peças publicitárias que manchem a imagem do Brasil.


 


“Jogaram o nosso país no lixo em um evento de marketing”, critica Márcio Fraccaroli, diretor geral da Paris, em referência à divulgação de Turistas nos Estados Unidos, pela distribuidora Fox Atomic, novo braço da Fox.


 


A campanha americana inclui o site Paradise Brazil, ligado à página oficial do filme. Além de mostrar mulheres mortas numa praia, o site traz a seção “Notícias”, que destaca:


 


1) ações do PCC em São Paulo;
2) seqüestros no Brasil para tráfico de órgãos;
3) realização no país de “snuff movies” – filmes em que cenas de mortes são reais;
4) a revolução musical dos tropicalistas em 1967, incluindo um clipe de Panis et Circensis, dos Mutantes.


 


O trailer americano do filme começa com americanos se divertindo no Brasil e a frase: “Em um país onde tudo é possível, qualquer coisa pode acontecer”.


 


A “anticampanha” oficial
Em nota divulgada na semana passada, a Embratur disse crer que “o espectador saberá diferenciar a realidade da ficção”, mas que monitora a repercussão do filme nos Estados Unidos e trabalha para “reverter eventuais efeitos negativos”. Na última quinta, o ator Josh Duhamel, um dos protagonistas de Turistas, disse que o filme não quer afastar os estrangeiros do Brasil e pediu desculpas ao governo e aos brasileiros.


 


A Embratur também elogiou a crítica cinematográfica norte-americana por seus comentários negativos a respeito de um filme de terror em que turistas são mortos no Brasil. A estatal de turismo disse estar tomando medidas para contrabalançar eventuais danos à imagem do país no exterior.


 


Parte da imprensa brasileira ficou indignada com o filme, citando emigrantes que foram vê-lo desde a estréia nos EUA, na sexta-feira. Jeanine Pires, presidente da Embratur, afirmou que a empresa instruiu sua agência internacional de propaganda para consertar qualquer dano eventualmente provocado por Turistas.


 


“As pesquisas mostram que a maioria dos espectadores de fato distingue entre ficção pura que aparece em um filme de horror e a realidade”, disse Jeanine. “Ficamos preocupados no começo, mas o filme é um fracasso de crítica, que concorda ser de extremo mau gosto. Não vamos atacá-lo.”


 


Mau de crítica
Turistas foi qualificado de “podre” pelo popular site Rotten Tomatoes, que dá notas a filmes. Mahola Dargis, do New York Times, disse que, “se estupidez fosse crime, os idiotas desse horror barato Turistas iriam passar um tempo na (penitenciária de) Attica”.


 


Em artigo no Los Angeles Times, o crítico Dennis Lim disse que o filme é “totalmente previsível” em seu conteúdo “desagradável”. A obra, segundo o crítico, reflete a propensão dos norte-americanos em se meterem em encrencas no exterior – “menos uma crítica do que uma incorporação de uma xenofobia paranóica”.


 


Há quatro anos, a NBC polemizou ao mandar a família Simpson para o Rio de Janeiro. O frisson aconteceu porque, na capital carioca, Homer e companhia encontraram macacos e ratos nas ruas, além de uma população sexualmente agressiva. Após a exibição do episódio nos Estados Unidos, até o governo federal entrou no debate.


 


Da Redação, com agências e portais